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À pala de Walsh
Midsommar (Midsommar - O Ritual, 2019)
Críticas, Em Sala 1

“Midsommar”: há festa na aldeia

De João Araújo · Em Outubro 3, 2019

Hereditary (Hereditário, 2018) tinha revelado Ari Aster como um dos autores mais singulares a trabalhar os limites do terror para explorar ideias de atrofia psicológica perante momentos de tragédia pessoal e desintegração familiar. Porém, mostrou também um cineasta que, dono de imaginativas ideias visuais e através do domínio da técnica, parecia deixar-se iludir com o lado meramente pictórico do filme, aspecto que se esvaziava à medida que o filme avançava para uma conclusão. Um caso clássico de triunfo do estilo sobre a substância, em que no final ficávamos com bastante fogo-de-artifício, mas com pouco que o sustentasse – o atordoamento causado pelas imagens apagava-se pouco tempo depois.

Midsommar (Midsommar – O Ritual, 2019) de Ari Aster

Apenas um ano depois, Midsommar (Midsommar – O Ritual, 2019) marca o regresso de Aster com um novo filme aparentemente de âmbito mais ambicioso. Os primeiros minutos, uma espécie de prelúdio, são promissores, e quando o filme é mais efectivo a criar um sentimento de pavor inescapável. Em poucos momentos desenrola-se um drama pessoal: uma rapariga, Dani [interpretada pela formidável Florence Pugh, de Lady Macbeth (2016)] não consegue contactar a irmã com tendências depressivas, e questiona-se sobre se deve pedir ajuda ao namorado, Christian, revelando problemas na relação entre os dois, agudizados pelos comentários dos amigos deste. Mas depois de uma tragédia pessoal, Dani refugia-se no seu consolo, criando uma imagem-quadro junto a uma janela que é aterradora pelo desespero evocado.

É como se o filme ambicionasse o voyeurismo clínico de Yorgos Lanthimos ou Michael Haneke, mas não resistisse ao brutalismo de um Gaspar Noé ou Lars von Trier.

Quando Dani descobre que Christian se prepara para viajar de férias com os amigos para a Suécia, este acaba por convidá-la a juntar-se-lhes, para desgosto deles. A pretexto de acompanhar Christian, Dani junta-se assim ao namorado e aos seus três amigos, entre os quais Pelle, um estudante sueco de regresso a casa, originário de Hårga, uma pequena aldeia isolada e remota, onde irá decorrer uma festa de comemoração da passagem de um novo ciclo de colheitas [num piscar de olho cinéfilo a The Wicker Man (O Sacrifício, 1973)]. Os primeiros momentos na comunidade são de deslumbramento e mistério, à medida que as práticas estranhas se intrometem na dinâmica entre os visitantes, e em particular sobre o casal.

Se tanto o prelúdio como Hereditary eram sombrios, suburbanos e claustrofóbicos, dominados por planos fechados sobre os rostos e sentimentos de culpa e de perda avassaladores, com as personagens ensombradas pelo passado familiar, Midsommar, anunciado por um abrir de cortinas como no teatro, é um conto de fadas retorcido, de planos abertos e extremamente ensolarado, no qual a exploração do desconhecido e a incerteza sobre o futuro parecem ofuscar o comportamento das personagens. Se a comuna que visitam representa uma hipótese de um recomeço ou um abraçar de novas perspectivas sobre a vida, isso acontece também porque há um desejo de abandonar um passado recente de infelicidade, marasmo ou mesmo vazio.

Aster diverte-se a manipular, através de diferentes situações coreografadas (e alguma dose de humor negro) que vão gradualmente colocando em causa o destino e a percepção das personagens sobre o que está a acontecer à sua volta, e o espectador diverte-se a assistir a este jogo, ilustrado pelo confronto entre o mundo exterior e este local que segue as suas próprias regras, num embate que testa o nível de estranheza e desconforto que os visitantes estão dispostos a aceitar. E sobre tudo isto recai o peso da frágil relação entre Dani e Christian, dominada por um sentimento claustrofóbico de culpa e isolamento. Mas, à medida que os momentos de tensão e conflito emocional comedido entre os dois dão lugar a uma espécie de encantamento sobre as personagens, a subtileza e a contenção é abandonada.

Midsommar (Midsommar – O Ritual, 2019) de Ari Aster

Ao longo do filme joga-se um outro conflito, do equilíbrio entre a exploração do formalismo de Aster e a procura de uma mensagem que sustente alguns exageros estilísticos. Dois “movimentos” são recorrentes: primeiro, Aster recorre frequentemente a longos planos-sequência, resistindo ao corte, ampliando a tensão da incerteza até ao limite de forma eficaz, e da mesma forma, utiliza composições elaboradas de planos com uma perspectiva distante, em que através da profundidade de campo podemos observar diferentes acções e muitas vezes demoramos a perceber tudo que decorre dentro do mesmo plano. Porém, esta subtileza de encenação é muitas vezes depois desarmada por planos aproximados de imagens violentas ou grotescas, próximas do irreal-exagerado. Por todo o esforço de Aster em exponenciar o perigo que o espaço vazio permite para abrir protagonismo à incerteza e ao medo, e se a ausência de explicação é mais assustadora, ao recair nesta escolha de choque e ao apoiar-se em explicações rebuscadas, o filme desequilibra-se para o lado do exercício visual insustentável. É como se o filme ambicionasse o voyeurismo clínico de Yorgos Lanthimos ou Michael Haneke, mas não resistisse ao brutalismo de um Gaspar Noé ou Lars von Trier.

Não ajuda que a partir de certa altura as personagens pareçam paralisadas, como se afligidas por um caso de anesthesia awareness, no qual um paciente recupera a consciência enquanto está a ser operado e consegue observar e até sentir o que lhe está a acontecer, sem que nada consiga fazer para reagir. Mesmo que essa espécie de encantamento ou incapacidade de reagir, que evoca as personagens femininas de Rosemary’s Baby (A Semente do Diabo, 1968) ou Repulsion (Repulsa, 1965) de Polanski, possa ser fascinante, é infeliz que aconteça em paralelo ou para justificar desenvolvimentos narrativos pouco interessantes. Se o filme pode ser visto do ponto de vista da personagem feminina (Dani) e do seu encontro com a redenção, aceitação (ou antes, anti-rejeição) e até vingança pela forma como é tratada pelas personagens masculinas, é difícil ignorar tudo o resto que acontece à volta de forma colateral, como por exemplo a problemática aceitação da tradição, mesmo que apoiada em práticas cruéis, como algo a respeitar incondicionalmente (veja-se o destino dos visitantes britânicos, os únicos que parecem protestar com o que encontram).

Numa entrevista para a Film Comment, Aster afirma que “we were going for this feeling of awe instead of horror”, e na entrevista ao Público, afirma que “(…) preocupo-me muito com o lado estético. Acredito que seja uma maneira de chegar à substância através do estilo”. Será difícil contestar que Aster é capaz de criar imagens impressionantes, e é de louvar que esteja disposto a arriscar, a procurar os extremos. E Midsommar é uma experiência árdua, uma viagem emocional. Porém, padece ainda de uma primazia à encenação, à manipulação, como forma de fuga em detrimento de apresentar uma mensagem mais substancial.

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João Araújo

"I don't think the film has a grammar. I don't think film has but one form. If a good film results, then that film has created its own grammar" Yasujiro Ozu in "Ozu and The Poetics of Cinema", David Bordwell

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1 Comentário

  • Palatorium walshiano: de 12 de Setembro a 3 de Outubro | À pala de Walsh diz: Outubro 4, 2019 em 9:36 am

    […] de Tiago Hespanha também desperta curiosidade e interesse neste Palatorium. Destaca-se ainda Midsommar (Midsommar – O Ritual, 2019) de Ari Aster, que reúne uma boa quantidade de […]

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