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À pala de Walsh
Críticas, Em Sala 1

Hereditary (2018) de Ari Aster

De Luís Mendonça · Em Junho 14, 2018


A osmose é perfeita aqui. A personagem principal, interpretada com ganas por Toni Collette, produz um mundo em miniatura, trabalhado até ao último pormenor. Ora, o filme, também ele, é como uma casa de bonecos impecavelmente concebida, do primeiro ao último tijolo. Existe, aliás, uma dimensão conceptual que começa por ser enunciada logo no título e, de maneira impressionante, nos primeiros minutos – aqueles em que a casa-miniatura se transforma na residência onde se desenrola um drama infernal que tem numa imagem a súmula do seu tema, a de uma parentalidade em chamas. O que é hereditário aqui? Tudo, porque todo o filme se constrói no âmbito de um exercício de passagem, do mundo de brincar ao mundo real – demasiado real… – como dos vários fantasmas familiares que vão assombrando “os que cá ficam”, fazendo destes fantoches de uma força maior de origem incerta.

Hereditary (2018) é um filme que se desdobra desde o primeiro segundo, a partir do título, a partir da primeira morte – um velório aparentemente “igual aos outros”. O desdobramento (caixas dentro de caixas dentro de caixas, quer dizer, caixas fora de caixas fora de caixas…) prossegue, até ao ponto da alucinação total – é compreensível que Ari Aster seja um confesso admirador de filmes como Don’t Look Now (Aquele Inverno em Veneza, 1973) e Rosemary’s Baby (A Semente do Diabo, 1968). Uma das imagens mais fortes do filme – que consta do magnífico trailer – traduz um efeito de trituração temporal, metáfora para uma experiência do luto. O rapaz não consegue dormir, abalado que está por um trágico desaparecimento que a certa altura vira o filme de pernas para o ar. É noite e vêmo-lo sentado na cama, envolvido em sombras abissais, mas, num estalo, a montagem dá um salto e vêmo-lo logo de seguida, igualmente absorto, possuído pela mesma inércia, na sala de aula da escola, envolto por uma claridade ofuscante, a de um radiante dia de sol. Esta é uma linguagem do trauma, e é ela que assalta o filme, vai este mais ou menos a meio, e não o larga até aos “epifânicos” instantes finais.

O problema que sinto no filme radica precisamente neste perfeito (des)encaixotamento formal e narrativo de tudo. O filme é longo, exaustivo e, a certa altura, saturante.

Tudo está no sítio, apetece sublinhar. De facto, está. Também apetece sublinhar: tudo está demasiado no sítio. O filme é uma máquina muitíssimo bem oleada de referências – leia-se a entrevista do realizador à Film Comment para se verificar como Hereditary é produto de um aturadíssimo trabalho cinéfilo – e máquina de um processamento, ponto a ponto, sem “tempos mortos”, da sua algo intrincada narrativa. O problema que sinto no filme radica precisamente neste perfeito (des)encaixotamento formal e narrativo de tudo. O filme é longo, exaustivo e, a certa altura, saturante. Não só é longa a jornada, como as situações se começam a certa altura a atropelar umas às outras, num frémito sempre engenhoso, mas progressivamente esvaziado de força dramática. Perto do fim, quando Ari Aster regressa ao coração desta família em destroços, procurando chegar à pele do drama vivido pelo casal, interpretado por Collette e Gabriel Byrne, sentimos que é tarde de mais, que já perdemos as personagens neste jogo de caixas fora de caixas fora de caixas que se vai ensaiando ao longo do filme.

Em suma, estamos sempre a inverter o plano de abertura, não deixando de ver tudo o que se desenrola – ou desdobra – à nossa frente como um filme de “casa de bonecos”, sufocado por uma minúcia – de miniaturista – que é mais própria do trabalho de um atento cinéfilo do que de um realizador embrenhado num mundo de carne e osso que possamos sentir como também nosso. É nesta distância, algo cool, que Ari Aster se coloca, produzindo mais um “exercício A+”, de excelente aluno, do que um filme inteiro, que se quer (mais) poroso, vulnerável, aberto, humano. Toni Collette tem uma interpretação esforçada, abnegada, a espaços impressionante, mas a sua composição acaba por redundar numa série de esgares e gritos que participam num “efeito de drama” e não num drama propriamente inteiro, pronto a ser vivido ou habitado por nós, espectadores. Em Hereditary, tudo passa, se converte e reconverte, num ritual cinéfilo com as referências no sítio. Todavia, faltam as “margens de indeterminação” ou as brechas que fazem de uma casa de bonecos uma habitação real de portas abertas para a nossa hesitante e timorata visita. Nunca trememos muito aqui, mas cansamo-nos muito perto do fim.

2010'sAri AsterGabriel ByrneToni Collette
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Luís Mendonça

"The great creators, the thinkers, the artists, the scientists, the inventors, stood alone against the men of their time. Every new thought was opposed. Every new invention was denounced. But the men of unborrowed vision went ahead. They fought, they suffered, and they paid - but they won." Howard Roark (Gary Cooper) in The Fountainhead (1949)

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1 Comentário

  • Palatorium walshiano: de 7 de Junho a 6 de Julho | À pala de Walsh diz: Julho 6, 2018 em 1:34 pm

    […] diz que é mesmo buédebom; as valentes guardionas de Xavier Beauvois; os chiliques de terror de Hereditary (2018) de Ari Aster; a bola preta para o “já se estava mesmo mesmo a ver” Jeepers […]

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