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À pala de Walsh
The Family Jewels (Jerry e os Seis Tios, 1965) de Jerry Lewis
Em Foco, In Memoriam 0

Digam ‘sim!’ a Jerry Lewis (1926 – 2017)

De À pala de Walsh · Em Setembro 4, 2017

O mundo da comédia vestiu-se de luto após a notícia da morte de Jerry Lewis. No sonoro, não deve ter havido comediante – preferimos a palavra palhaço – mais impactante do que ele, o louco, histérico, delirante, amargo, duro e ligeiro Jerry Lewis. O pintor, o cineasta total, o homem dos mil talentos que começou a carreira na companhia de Frank Tashlin, realizador, e Dean Martin, um dos actores mais populares do seu tempo. Jerry atinge o estatuto de autor quando se atira para a realização. Faz de rajada duas das suas obras mais celebradas hoje em dia: The Bellboy (Jerry o Grande Hotel, 1960) e The Ladies Man (O Homem das Mulheres, 1961). Uma a preto-e-branco – numa homenagem aos pais do burlesco -, a outra a cores – e que cores! As de Tashlin, claro! Foi assim Lewis ao longo da sua carreira, entre pólos, entre “o riso e o horror” como entre o reconhecimento popular e o culto de apenas uns quantos resistentes. Contudo, a sua influência nas gerações seguintes da comédia americana é indesmentível – é difícil não encontrar resquícios da mesma linguagem física em actores como Steve Martin, Jim Carrey, Eddie Murphy ou até Adam Sandler. O À pala de Walsh é chamado a prestar homenagem e a rir-se, de novo, com este homem que, na sua última famigerada entrevista, disse quase mais vezes “no” do que aquelas em que… sim: nos fez rir.

The Errand Boy (O Mandarete, 1961) de Jerry Lewis

The Errand Boy (O Mandarete, 1961) de Jerry Lewis

Há uma força no trabalho de Lewis que o torna verdadeiramente icónico – força essa que provavelmente origina no prazer iconófilo do seu mentor mais marcante, Frank Tashlin, esse pintor do celulóide onde todas as cores são vivas como os óleos de um quadro. Veja-se Artists and Models (Pintores e Raparigas, 1955) caso haja dúvidas dessa sua componente plástica e depois The Ladies Man (O Homem das Mulheres, 1961), já realizado por Lewis, um tão filme pictórico quanto arquitectural. Tashlin (mais ainda que o próprio Lewis) é um realizador que compreendeu a importância do espaço na construção do gag e de como este potencia a persona do servente atolambado – que Lewis tão bem soube gerir: o primeiro de todos os geeks, o moço de recados, o mandarete, o empregado bagunceiro, enfim o patego (a tradução possível de patsy). Lewis é certamente um (“O”?) discípulo tresmalhado de Harold Lloyd, o qual o encarava como um belo descendente do género slapstick, ”he has a lot of talent”, não fosse That’s My Boy (1951), com Lewis e Dean Martin, um remake não oficial de The Freshman (O Caloiro, 1925). Mais tarde Lewis tomaria simultaneamente o papel de totó e de galã [na versão vitaminada de Dr. Jekyll and Mr. Hyde]. No entanto, esta forma de iconografia (iconofilia?) auto-mitológica assume o cúmulo quando Lewis entra no território do humor pós-moderno, que é como quem diz, filmes que brincam com a imagem que Lewis criou para si mesmo.

Em The Bellboy (Jerry no Grande Hotel, 1960), o actor Lewis repousa no hotel onde o personagem de Lewis trabalha e no final de The Errand Boy (O Mandarete, 1961) a enorme estrela Jerry Lewis ajuda um pobre trabalhador indiferenciado a colar um cartaz de Jerry Lewis e esse trabalhador é… Jerry Lewis. É isso que faz dele um dos maiores provocadores do cinema, porque com ele tudo é esticado ao limite auto-referencial. Parece-me, no entanto, que esta mastigação da própria figura é um caso particular de algo maior. Pensando a obra de alguns realizadores de comédias, não demora muito para que se perceba que estes, quando uma piada corre bem, não se coíbem de repeti-la em infinitas variações. E como dizia alguém, contas uma piada sem graça e ninguém ri, contas outra vez e as pessoas irritam-se, uma terceira e chega a fúria, vais para a quarta e começa a aparecer um sorriso e à quinta já caíram ao chão de tanto rir. Muitos dos gags de Lewis e da sua meta-persona fílmica vêm dessa fronteira ténue entre a irritação assassina e o riso às bandeiras despregadas, uma fronteira sulcada pela repetição. Play it again, Jerry! Play again your invisible orchestra. Again and again and again and again… and again.

Ricardo Vieira Lisboa

The Family Jewels (Jerry e os Seis Tios, 1965) de Jerry Lewis

The Family Jewels (Jerry e os Seis Tios, 1965) de Jerry Lewis

Costuma dizer-se que, por detrás de um grande cómico, há sempre um grande deprimido. Não conheci pessoalmente Jerry Lewis e dele não poderei, por isso, asseverar tal ideia, mas sempre posso afirmar que o americano a ilustrou, magnificamente, numa das últimas cenas – verdadeiramente de antologia – de The Nutty Professor (As Noites Loucas do Dr. Jerryll, 1963): o modo como, em cima de um palco (where else?), a sua personagem se vai transformando e passando do “Buddy Love” garanhão e egocêntrico para o Professor de Química totó e introvertido (metáfora óbvia para a cocaína), do ideal para o real, da mentira para a verdade, é, além de um achievement artístico em si mesmo, um comovente momento meta-cinematográfico na carreira de Jerry Lewis [um outro é, obviamente, o seu papel em The King of Comedy (O Rei da Comédia, 1982)], que sempre jogou e ironizou com a sua fama enquanto “figura pública” que “faz rir” – que tem de fazer rir – tudo e todos (cfr. The Bellboy).

“WET PAINT” (pintado de fresco) é a inscrição em papel (o lado artesanal, “manual”, dos seus filmes que remete para um cinema igualmente “artesanal”) que se vê, pelo menos, em dois filmes seus: em The Bellboy, Jerry não resiste a tocar na escultura e, com isso, a transformá-la, fazendo duma bela mulher um horrendo emplastro; em The Family Jewels (Jerry e os Seis Tios, 1965), depois de se pintar de palhaço para ludibriar os advogados, beija a sua nova “filha” e deixa-lhe a marca da sua maquilhagem no rosto. E é exactamente isto que, por outras palavras (ou por outras imagens), o americano, qual vírus contagioso, faz nos seus filmes: por onde passa, deixa a sua indelével marca (ele que é o “autor total”, escrevendo, realizando, interpretando); ele jerrylewisa todos os espaços em que se move, que passam, na sua presença, a adquirir novas formas e dinâmicas, com isso passando também a ser perspectivados de outro modo pelo espectador, como Keaton e Tati o fizeram e como Jim Carrey e Rowan Atkinson o farão mais tarde (sobretudo o Mr. Bean interpretado pelo segundo na série televisiva original).

Francisco Noronha

Smorgasbord (Jerry Tu és Louco, 1983) de Jerry Lewis

“Psychoanalyze this, you sucker!” Os dois últimos filmes realizados por Jerry Lewis parece que se voltam, desse modo, contra o espectador ou contra o cinema em geral. São reuniões caóticas de gags onde a repetição faz lei. Nada progride ou se salva. As personagens estão presas dentro das suas neuroses. Ou seja, a neurose é o grande espectáculo. É assim aqui, em Smorgasbord (Jerry Tu és Louco, 1983) – que, indecisão só de si significativa, também tem o título Cracking Up -, tal como no filme anterior, Hardly Working (Vai Trabalhar, Malandro!, 1980). Estes dois títulos foram arrasados pela crítica e apenas apreciados por um punhado de fãs do realizador, sobretudo na Europa. Lewis não deve ter sido apanhado de surpresa pelo fracasso. Ele próprio se auto-sabotara em 1972 com o mítico The Day the Clown Cried (1972), filme ambientado nos campos de concentração nazis que Lewis nunca chegou a mostrar a ninguém dado se sentir embaraçado com o resultado. Apesar de já antes ter dinamitado com riso o palco da Segunda Guerra Mundial, no subvalorizado Which Way to the Front? (Onde Fica a Guerra?, 1970), o tema do Holocausto não foi bem encaixado pelo próprio Lewis depois de assistir ao resultado final desse filme que, agora, toda a gente almeja finalmente poder assistir.

Lewis é um misfit, um trapalhão sem remédio, um, para usar um termo menos “simpático”, sociopata incurável. Como observara Jean-Luc Godard no talk show de Dick Cavett, ele que foi o fã número um do palhaço americano, Lewis assumia nesse comeback após cerca de 10 anos de inactividade que dificilmente estaria a funcionar bem (“hardly working”). O filme é sobre isso, também: um palhaço no desemprego que não consegue arranjar um novo trabalho, que não se adapta funcionalmente à sociedade. Contudo, essa disfunção ou “falta de jeito” em lidar com o mundo, confessada naquele título, confere um certo charme hoje em dia a estes seus últimos sopros enquanto realizador. Mais que Hardly Working, Smorgasbord é um festival de Jerry – “who else?” – Lewis. Todo o tipo de desastres acontece aqui: desde um prédio que vai abaixo por causa de um enforcamento fracassado até à companhia aérea low cost com aviões que mais se parecem com galinheiros humanos. Na imagem que aqui trago, um choque de frente é encenado: podia ser de Lewis contra Lewis – mas isso… é sempre – só que é de Lewis contra o seu psicanalista – já ele de perna e braço engessados após ter sido vítima de um dos múltiplos desastres provocados por… “who else?”

Luís Mendonça

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