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“Petite maman”: o mundo inteiro numa única casa

De Ana Cabral Martins · Em Março 22, 2022

Não poderei, com certeza absoluta, indicar a melhor maneira de preparar a experiência deste filme. No meu caso, gostei da forma como, pelo contrário, não me preparei. Sabia somente que era o novo filme de Céline Sciamma e a obra subsequente ao badalado Portrait de la jeune fille en feu (Retrato de Uma Rapariga em Chamas, 2019). Também sabia que havia um par de meninas. Mas não mais. Este preâmbulo serve para indicar que é impossível (ou, pelo menos, francamente difícil) escrever sobre Petite maman (Mamã Pequenina, 2021) sem falar sobre as coisas que se desvendam no filme e que considero ser do interesse pessoal de quem ainda não o viu não saber quais são as coisas desvendadas. 

Petite maman (Mamã Pequenina, 2021) de Céline Sciamma

Assim, o mais que posso dizer, em traços largos, antes de agitar a bandeira de aviso, é que é um filme que conta a história da relação entre uma mãe e a sua filha pequena no rescaldo da morte da mãe e avó das duas. É um filme que não pode senão ser descrito como delicado, pela forma suave como somos conduzidos pela narrativa, pela forma como se desenrola e pelo modo como está filmado. Não há grandes arrebatamentos de emoções (excepto as nossas), não há movimentos de câmara extravagantes (são poucos os momentos em que sentimos a câmara, mas quando a sentimos… sentimos), o que resulta especialmente bem tendo em conta – ou, arrisco dizer, em contraste com – a história que o filme está a contar. 

Há, sem dúvida, uma economia dos gestos que contribui para esta delicadeza, mas há também uma economia de espaço. Depois de uma passagem breve por uma primeira localização, o filme decorre a maior parte dos seus minutos contido numa casa e passeando apenas pela floresta que a circunda. Mas isso não o torna claustrofóbico ou aborrecido, apenas intimista, no melhor dos sentidos. Não há espaço para se sentir agitação ou inquietação porque estamos sempre em processo de descoberta. Petite maman é também um filme delgado, tendo apenas 72 minutos. Mas, tal como indico acima, isso não é indicativo do seu peso, porque ele contém mais do que uma vida inteira. Juntando-se à economia dos gestos e à economia do espaço, a economia do tempo serve para que seja a viagem perfeita, sem nunca perguntarmos se já chegámos ao fim. Nem diria que ficamos com pena quando, finalmente, chegamos. É de uma proporção perfeitamente encontrada.

(Este é o momento em que agito a bandeira e começo a contar mais do que eu própria sabia antes de ver o filme.)

Algures entre o episódio de Twilight Zone e um filme do Miyazaki, vivemos através da experiência de Nelly algo impossível de se concretizar e tão mais poderoso por isso mesmo.

Petite maman começa de uma forma intrigante: num lar residencial, julgamos que a pequena protagonista se está a despedir da avó até percebermos que se está a despedir de todas as “avós” que habitam o mesmo espaço onde a sua acaba de morrer. Já fora do edifício, Nelly (que, por sua vez, tem o nome da sua bisavó) vê a mãe a abraçar um homem que irá partir noutro veículo, pejado com os pertences agora sem dona. O abraço tem algo de hesitante e desajeitado e ficamos a contemplar a relação entre os dois. De contemplação em contemplação, ficamos então com a relação entre mãe e filha. 

A viagem de carro das duas contém toda a história que precisaremos de saber. Nelly pergunta se está na hora de comer qualquer coisa e a mãe concorda. Eis que Nelly abre um saco de batatas fritas (Cheetos?) e, depois de provar os primeiros, começa a dar alguns à mãe, a partir do banco de trás. A câmara mantém-se no rosto da mãe, concentrado na condução, mas também derretido enquanto a filha lhe providencia sustento, um pouco de sumo e, por último, um abraço. Talvez Nelly seja a pequena mamã do título, uma criança particularmente sintonizada com o mundo dos adultos e capaz de providenciar conforto maternal… à própria mãe. 

Mas não será assim tão simples e é aí que se encontra a beleza do filme. A viagem de carro culmina na casa da avó, que os pais (o homem descrito acima é, de facto, o pai de Nelly e o marido de Marion) agora terão de arrumar. O processo parece tornar-se demasiado intenso para Marion que parte, deixando Nelly solta, com um pai que parece bem menos sintonizado com o mundo dos adultos do que a própria filha. Antes de Marion partir, e dadas as circunstâncias, mãe e filha conversaram sobre a infância da mais velha. Como se Nelly conseguisse intuir que esse é já um momento formador extraordinário.

Na ausência da mãe – explicada em segunda mão pelo pai –, Nelly sente agudamente a falta de uma ponte que a aproxime daquela que se afastou. É aí que surge Marion. Mas não a Marion crescida, uma Marion pequena, da idade de Nelly, a sua completa imagem reflectida e a ponte mágica para se aproximar da mãe. Conhecem-se como outras crianças se conheceriam, se morassem perto. É totalmente natural, até ser completamente sobrenatural.  

Neste vórtice sem tempo, em que duas casas (a do presente e a do passado) estão unidas por um caminho num bosque mágico, Nelly aceita este movimento milagroso sem sobressalto e com toda a empatia do mundo, incluindo quando partilha com Marion-criança o que se está a passar. A pequena mamã chega a visitar a sua casa “no futuro” – chega a ouvir a música do futuro, vê o seu futuro marido e tudo se passa sem alarido. O verdadeiro alvoroço é interno, é emocional, é tudo o que sentimos ao ver os momentos que estas duas conseguem passar juntas antes da inevitável despedida. 

Há algo belo que acontece quando crescemos e passamos a adolescência e a fase de jovens adultos, em que estamos próximos da idade que os nossos pais tinham quando éramos crianças. Conseguimos descobrir, se tivermos sorte, uma nova faceta da relação com os nossos pais. Aproximamo-nos num plano de maior igualdade e compreensão. Aqui, essa ideia é virada de pernas para o ar. É a mãe que na sua versão em criança se aproxima, em pé de igualdade, da filha. 

Algures entre o episódio de Twilight Zone e um filme do Miyazaki, vivemos através da experiência de Nelly algo impossível de se concretizar e tão mais poderoso por isso mesmo. Mas o rasgo de Sciamma é tornar a situação perfeitamente mundana, como se não fosse a coisa mais notável que poderia acontecer no mundo.

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2020'sCéline Sciamma

Ana Cabral Martins

"Don't be too clever for an audience. Make it obvious. Make the subtleties obvious also.” — Billy Wilder

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