• Homepage
    • Quem Somos
    • Colaboradores
  • Dossier
    • Raoul Walsh, Herói Esquecido
    • Os Filhos de Bénard
    • Na Presença dos Palhaços
    • E elas criaram cinema
    • Hollywood Clássica: Outros Heróis
    • Godard, Livro Aberto
    • 5 Sentidos (+ 1)
    • Amizade (com Estado da Arte)
    • Fotograma, Meu Amor
    • Diálogos (com Estado da Arte)
  • Críticas
    • Cinema em Casa
    • Em Sala
    • Noutras Salas
    • Raridades
    • Recuperados
    • Sem Sala
  • Em Foco
    • Comprimidos Cinéfilos
    • Divulgação
    • In Memoriam
    • Melhores do Ano
    • Palatorium Walshiano
    • Passatempos
    • Recortes do Cinema
  • Crónicas
    • Do álbum que me coube em sorte
    • Filmes nas aulas, filmes nas mãos
    • Nos Confins do Cinema
    • Recordações da casa de Alpendre
    • Week-End
    • Arquivo
      • Civic TV
      • Constelações Fílmicas
      • Contos do Arquivo
      • Ecstasy of Gold
      • Em Série
      • «Entre Parêntesis»
      • Ficheiros Secretos do Cinema Português
      • Filmado Tangente
      • I WISH I HAD SOMEONE ELSE’S FACE
      • O Movimento Perpétuo
      • Raccords do Algoritmo
      • Ramalhetes
      • Retratos de Projecção
      • Se Confinado Um Espectador
      • Simulacros
      • Sometimes I Wish We Were an Eagle
  • Contra-campo
    • Caderneta de Cromos
    • Conversas à Pala
    • Crítica Epistolar
    • Estados Gerais
    • Filme Falado
    • Filmes Fetiche
    • Steal a Still
    • Vai~e~Vem
    • Arquivo
      • Actualidades
      • Estado da Arte
      • Cadáver Esquisito
      • Sopa de Planos
  • Entrevistas
  • Festivais
    • Córtex
    • Curtas Vila do Conde
    • DocLisboa
    • Doc’s Kingdom
    • FEST
    • Festa do Cinema Chinês
    • FESTin
    • Festival de Cinema Argentino
    • Frames Portuguese Film Festival
    • Harvard na Gulbenkian
    • IndieLisboa
    • LEFFEST
    • MONSTRA
    • MOTELx
    • New Horizons
    • Olhares do Mediterrâneo – Cinema no Feminino
    • Panorama
    • Porto/Post/Doc
    • QueerLisboa
  • Acção!
À pala de Walsh
Críticas, Em Sala 2

“France”: anjo caído

De Ricardo Gross · Em Setembro 30, 2021

Bruno Dumont tem uma abordagem filosófica ao cinema, fruto da sua formação académica e de um autodidactismo no que respeita à sétima arte, que também responderá pela individualidade dos seus filmes. Foi à segunda obra, L’humanité (1999), que Dumont entrou para a constelação dos autores mais reverenciados em França e fora dela. Diríamos que esse título é a síntese mais perfeita do seu cinema, feito de obras que questionam o que é ser-se humano em condições extremas que violentam a natureza própria do conceito, e que o colocam em comunicação com algo que nos transcende, que poderemos designar por sagrado.

France (2021) de Bruno Dumont

E temos um longo caminho a percorrer, nós e a protagonista, até que cheguemos a algo em France (2021) que sugira o sagrado. À maneira de um inquérito filosófico sobre um universo particular (no caso, o jornalismo político televisivo), France coloca mais e mais questões onde o espectador procurará respostas. É uma obra que resiste a que sobre ela elaboremos um discurso mediático pronto a usar. O filme tem a inteligência de não adoptar uma estratégia de denúncia, apresentando sinais mais ou menos histriónicos da parte dos que fazendo se entregam ao fluxo narrativo de hiper-realidade que constitui o jornalismo televisivo, e o seu modo de reconstruir os factos e a realidade em função dos índices de audiência.

No centro deste furacão digital pós-fabricado está a personagem principal, France de Meurs (Léa Seydoux ainda mais extraordinária do que alguma vez antes a víramos), a jornalista mais popular do seu país, que habita uma realidade alterada que ela própria constrói nas reportagens e nos debates por si moderados. A tele-existência de France coloca-a para o comum dos mortais num firmamento superior, a que alguns acedem esporádica e ocasionalmente quando na presença da jornalista, a quem pedem que com eles partilhe uma selfie. France é um anjo, um ser virtual na realidade dos humanos que a idolatram, e será mais tarde um anjo caído, fruto dos acidentes pessoais que a levarão a questionar-se, a pôr-se em causa, que é a abertura da via de comunicação do humano com o sagrado: quando temos a humildade de aceitar o que nos acontece e reconhecermos o papel da providência nas nossas vidas.

France é o filme mais estilizado de Bruno Dumont, no sentido da artificialidade das imagens (imagens de “plástico”), do acentuar do digital na coloração berrante, no esbatimento de contornos, e na integração das imagens menos nobres da televisão numa obra cinematográfica.

France é o filme mais estilizado de Bruno Dumont, no sentido da artificialidade das imagens (imagens de “plástico”), do acentuar do digital na coloração berrante, no esbatimento de contornos, e na integração das imagens menos nobres da televisão numa obra cinematográfica. A realidade de France, já o frisámos, é a hiper-realidade das televisões, e da vida das figuras públicas comentada pela imprensa sensacionalista e pelas redes sociais. Um atropelamento de pequena monta, de que France, distraída com a caminhada do filho para a escola, é responsável, será o primeiro incidente a fazer quebrar o verniz ilusório da sua identidade globalizada. Mais tarde haverão ainda um detalhe técnico comprometedor da imagem da jornalista e da sua produtora, e um drama pessoal de máxima pungência.

Também revelador da inteligência da abordagem de Bruno Dumont a esta história, é o facto de não fazer dela um trajecto de aprendizagem. France atravessa as convulsões da sua vida, questionando o valor do que faz, é certo; colocando-se em causa, e mesmo abandonando temporariamente a profissão, mas nada nos garante a exemplaridade do seu percurso, que é mais o de uma sobrevivente de luxo, que o de um ser humano que tenha experimentado qualquer tipo de evolução espiritual ou mundana. Procuramos o real em France que habilmente nos escapa, nunca certos de termos agarrado o tom do filme, que oscila da sátira ao sarcasmo, da ironia ao sardónico. E manifestações do real, onde estão? Nas lágrimas de France que dão conta da vulnerabilidade de alguém que perde o controlo de quem pensava ser e do modo como exercia essa soberania celeste e virtual? Nas imagens da paisagem do Norte de França (de onde Dumont é originário, e presença constante nos seus filmes), geografia que serve de fundo à história de um monstro de carne e osso responsável pela violação e morte de várias mulheres e crianças? Ou na violência brusca da cena final, que sentimos como que um murro na artificialidade que impregna o filme, e que irrompe e desaparece sem dar explicações? São mais perguntas, a juntar às outras todas, em sintonia com o pensamento de Bruno Dumont que é sempre o mesmo, assumindo formas diferentes de filme para filme.

Partilhar isto:

  • Twitter
  • Facebook
2020'sBruno DumontLéa Seydoux

Ricardo Gross

"Ken is a tormented man. It is Eiko, of course, but it is also Japan. Ken is a relic, a leftover of another age, of another country." The Yakuza (1974) de Sydney Pollack

Artigos relacionados

  • Críticas

    “Azor”: o banqueiro vai nu

  • Críticas

    “Cow”: a vaca que não ri

  • Críticas

    “The Northman”: Robert Eggers pega na lenda épica e trá-la à terra 

  • Novo Palatorium TESTE | À pala de Walsh diz: Outubro 15, 2021 em 12:42 pm

    […] crítica de Duarte Mata, talvez das mais entusiastas que pode encontrar relativamente a este filme. France (2021) de Bruno Dumond também é notado. O grande filme da temporada, como se vê pela fartura de […]

  • Palatorium e comprimidos cinéfilos: Outubro | À pala de Walsh diz: Outubro 21, 2021 em 12:17 am

    […] crítica de Duarte Mata, talvez das mais entusiastas que pode encontrar relativamente a este filme. France (2021) de Bruno Dumond também é notado. O grande filme da temporada, como se vê pela fartura de […]

  • Últimas

    • Palatorium e comprimidos cinéfilos: Maio

      Maio 18, 2022
    • “Azor”: o banqueiro vai nu

      Maio 18, 2022
    • IndieLisboa 2022: abalos oceânicos

      Maio 17, 2022
    • Respigar até ao fim da ceifa

      Maio 16, 2022
    • Caderneta de Cromos #12: Arnaldo Mesquita

      Maio 15, 2022
    • Passatempo Midas Filmes: ‘pack’ Hong Sang-soo

      Maio 15, 2022
    • “Cow”: a vaca que não ri

      Maio 12, 2022
    • Vai~e~Vem #41: o mistério para fugir ao esquecimento

      Maio 11, 2022
    • Amor

      Maio 10, 2022
    • “The Northman”: Robert Eggers pega na lenda épica e trá-la à terra 

      Maio 9, 2022

    • Quem Somos
    • Colaboradores
    • Newsletter

    À Pala de Walsh

    No À pala de Walsh, cometemos a imprudência dos que esculpem sobre teatro e pintam sobre literatura. Escrevemos sobre cinema.

    Críticas a filmes, crónicas, entrevistas e (outras) brincadeiras cinéfilas.

    apaladewalsh@gmail.com

    Últimas

    • Palatorium e comprimidos cinéfilos: Maio

      Maio 18, 2022
    • “Azor”: o banqueiro vai nu

      Maio 18, 2022
    • IndieLisboa 2022: abalos oceânicos

      Maio 17, 2022
    • Respigar até ao fim da ceifa

      Maio 16, 2022
    • Caderneta de Cromos #12: Arnaldo Mesquita

      Maio 15, 2022

    Etiquetas

    2010's Alfred Hitchcock Clint Eastwood François Truffaut Fritz Lang Jean-Luc Godard John Ford João Bénard da Costa Manoel de Oliveira Martin Scorsese Orson Welles Pedro Costa Robert Bresson Roberto Rossellini

    Categorias

    Arquivo

    Pesquisar

    © 2021 À pala de Walsh. Todos os direitos reservados.