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Críticas, Curtas Vila do Conde, Em Sala, Festivais 2

“Diários de Otsoga”: como construir um borboletário perfeito

De Ricardo Gross · Em Julho 25, 2021

Já tínhamos saudades de um novo filme de Miguel Gomes (a trilogia As Mil e Uma Noites data de 2015), dirão os entusiastas. Os cépticos poderão ter o impulso de invectivar na direcção do grande ecrã onde se exibe Diários de Otsoga (2021), recebendo do filme resposta à altura: a dado momento a personagem interpretada por Carloto Cotta (de seu nome Carloto, assim como Crista Alfaiate se chama no filme Crista, e João Nunes Monteiro faz de João) vai dar banho ao cão, se mais provas fossem precisas de que o filme de Miguel Gomes é para levar a sério e o seu oposto (tal como “Otsoga” é o inverso de Agosto).

Diários de Otsoga (2021) de Miguel Gomes e Maureen Fazendeiro

Diários de Otsoga, de Miguel Gomes e Maureen Fazendeiro, tem uma estrutura de tema e variações (o filme integra quer a linguagem do cinema como a da música, ou não fosse o “comité central” que colabora com Gomes, constituído por gente que participa de ambas as artes, e de outras também). O tema é o do trio de personagens que volteiam em torno umas das outras (dois rapazes e uma rapariga, como já existia na curta-metragem de estreia deste realizador: Entretanto, de 1999), e as variações correspondem a 22 dias do Agosto de 2020, passados em isolamento numa quinta próxima da Praia do Magoito, e narrados pela ordem inversa dos dias, como numa contagem decrescente que é também uma contagem crescente [de figuras humanas e bichos de várias espécies, uma vez que à semelhança do que víramos em Aquele Querido Mês de Agosto (2008) e no primeiro volume de As Mil e Uma Noites, a equipa técnica vai irrompendo a espaços pela ficção, fazendo-se da natureza ficcionada uma realidade de contornos ficcionais], como se os paradoxos do filme não cessassem de se mostrar.

O cinema tem a possibilidade de filmar aquilo que faz acontecer, ou simplesmente filma aquilo que acontece.

É ainda um filme à flor de um mar que nunca é visto, mas a que as conversas aludem (e por causa de uma surfada que representa risco de contágio em contexto de pandemia). O reenvio para este título em particular da obra de João César Monteiro não é assumido pela dupla de realizadores; é uma especulação do autor deste texto que viu em Diários de Otsoga algumas tangentes a À Flor do Mar (1986), que se desenrolava e tinha a placidez acentuada no ritmo da acção e nas cores matizadas pelo sol do Verão, e uma poética da existência influenciada pela cultura da Itália mediterrânica, que ao filme de Miguel Gomes terá chegado certamente por via de um conto de Cesare Pavese que a co-realizadora de “Otsoga”, Maureen Fazendeiro, leu na gestação do projecto que coincidiu com a sua própria gravidez.

O cinema tem a possibilidade de filmar aquilo que faz acontecer, ou simplesmente filma aquilo que acontece. Esta dualidade já vem de trás no cinema de Miguel Gomes, e não é diferente quando assina o casal Fazendeiro e Gomes. A atenção aos elementos naturais, aos efeitos que produzem o sol e o vento na vegetação, ou à deslocação espontânea ou condicionada dos animais, verdadeiros co-protagonistas do filme, tem uma relevância recorrente em Diários de Otsoga, dirigindo o olhar da câmara que pode até escolher ter estes elementos em primeiro plano, desviando-se de actores e figurantes.

Fazer cinema é suposto dar muito trabalho, algo que os filmes de Miguel Gomes sabotam na sua aparência lúdica, improvisada, e liberta de convenções.

Os três amigos irão construir um borboletário pelo meio dos de outros ofícios que usam para se entreterem no ócio dos dias. É no interior do borboletário que tem lugar os dos momentos de suprema beleza, quando a câmara acompanha em plano fechado o rosto de Crista Alfaiate que rega as plantas, uma das cenas em que os autores fazem uso de um tema musical de Norberto Lobo que confere a nota dramática justa ao espírito mais intimista do filme: o que nos aproxima de quem aquelas personagens poderão ser, por aquilo que percepcionamos da sua existência interior. Outro momento belíssimo, com a escala de plano diametralmente oposta, mostra-nos a deslocação por uma determinada paisagem de Miguel Gomes, Mariana Ricardo (co-argumentista) e Maureen Fazendeiro, parcialmente ocultados pelos seus guarda-chuvas abertos (chuviscos de Agosto), que conversam sobre o que filmar a seguir, e Miguel diz ter descoberto um trator muito bonito. A câmara imobiliza-se quando eles se encontram em fundo, num enquadramento amplo de motivos tropicais, onde imperam algumas palmeiras ressequidas e outras árvores, que nos reenvia para os cenários a preto-e-branco de um filme de Miguel Gomes de 2012, Tabu.

Os Diários de Otsoga abrem no 22.º dia e encerram no dia 1.º, e em ambos têm lugar festas privadas. Na que seria a primeira (mas cronologicamente é a última) só vemos dançarem os três protagonistas. Quando o filme está perto do fim, todos dançam: actores e equipa técnica. Na inversão do  tempo desta narrativa aberta e rarefeita, encontramos um sentido para a diversão que muitas vezes está presente (traduza-se o sentido do cómico “offbeat” por algo que é do nível da excentricidade lacónica de que Gomes gosta e pratica), e o contornar do isolamento mais rigoroso a que fomos sujeitos, pela natureza específica da actividade de produzir filmes, que todos coloca em contínua interacção por períodos intensos. Fazer cinema é suposto dar muito trabalho, algo que os filmes de Miguel Gomes sabotam na sua aparência lúdica, improvisada, e liberta de convenções. É só mais um paradoxo, e encerra o texto.

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Ricardo Gross

"Ken is a tormented man. It is Eiko, of course, but it is also Japan. Ken is a relic, a leftover of another age, of another country." The Yakuza (1974) de Sydney Pollack

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