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“Minari”: parasitas

De Carlos Natálio · Em Maio 17, 2021

Numa sequência muito famosa de Le Mépris (O Desprezo, 1963), de Jean- Luc Godard, Fritz Lang, ao ver as rushes do filme que está a realizar sobre Ulisses, responde ao produtor (Jack Palance) para ele não se esquecer que “os deuses não criaram o homem, mas antes foram os homens que criaram os deuses”. Esta inversão poderá ter o seu interesse se pensamos na escrita de argumento. Perguntamo-nos: é a omnisciência dos deuses (da escrita) que criam as personagens? Ou são as personagens que criam o sentido de omnisciência e superioridade? Nesta última hipótese, um “all seeing eye” que se estabelece a partir da profundidade de cada ser humano de palavras (e, depois, de luz e sombras). De certo modo, e num sentido literal, o autor cria as suas personagens. Contudo, numa dimensão mais profunda, as personagens, na sua individualidade, guiam o fazer de quem as dá à vida ficcional. Isto é, guiam o escriba.

Minari (2020) de Lee Isaac Chung

Estes aparentes dilemas de ovo e galinha sugam-me a consciência durante as quase duas horas de Minari (2020) do realizador americano de ascendência coreana, Lee Isaac Chung. Sabemos que a ideia para o filme se baseia nas memórias e experiências do próprio cineasta aquando da sua infância numa quinta no Arkansas. Neste sentido, Minari é um filme-lembrança. E talvez surjam aqui os seus principais problemas. A família que nos é apresentada – pai, mãe, dois irmãos (entre os quais o pequeno David, que se supõe ser Chung em criança) e avó – nunca deixa de ser devedora de algumas ideias abstratas que devoram a vida interior das personagens. Que ideias são essas? Desde logo, a dimensão biográfica que acaba por fazer corresponder cenas a memórias concretas: por exemplo, a chegada da avó como quando sempre acontece, trazendo comidas de casa e presentes para as crianças, a timidez dos primeiros olhares depois de muito tempo de ausência; ou a discussão dos pais ante as dificuldades, sob o olhar das crianças.

se Parasitas permitia pensar a desconstrução a partir de um dentro através do modus operandi do parasita, no filme de Lee Isaac Chung temos a lógica adaptativa do “organismo estranho”: o parasita não suga, é sugado por uma lógica que o absorve para o interior do seu próprio organismo.

Todos estes “segmentos de memória” surgem em Minari encenados a partir de uma realização e câmara sobretudo funcionais, com excepção dos momentos (demasiado) líricos na relação com a natureza, que procura sublinhar-nos a beleza e a nostalgia de um passado triste, mas alegre ao mesmo tempo. Instalar o espectador numa edilidade rural.

Outra ideia que varre o subconsciente do filme é o facto de Minari querer abordar o tema da integração de uma família de um outro país, numa comunidade rural da América. Os olhares, a curiosidade, as dificuldades, o sonho americano. E com este tema, virão as “boas intenções” do acolhimento (já lá vamos).

Assim, entre a vontade de Chung nos querer emocionar com as suas memórias familiares e a vontade de abordar os problemas de deslocação e integração de uma família de origem coreana num espaço rural, cultural e religiosamente americano, sobra pouco espaço para a construção realista das personagens. Falemos do centro emotivo do filme: a avó. Por exemplo, o neto diz-lhe que ela não é uma avó de verdade pois não faz bolos. Essa “sentença” infantil tem uma correspondência imediata e simplista na personagem: ela gosta de ver luta livre na televisão, jogar às cartas e não quer saber de arranjar as roupinhas do netinho. Isto é, ela converte-se numa caricatura de “avó cool”, da qual o espectador espera retirar os momentos mais bem dispostos do filme. E fazer corresponder uma ternura abstracta, veiculada pelo overacting de Yuh-Jung Youn, uma ideia de talento num certo histrionismo suave, uma crença na “magia do cinema” bonito de carácter (o Oscar, naturalmente, pertenceu-lhe).  

Outro exemplo, é dado pelo clown de tiques, o americano religioso fanático, mas de bom coração que ajudará a família. Ou ainda a caricatura de mãe que se opõe sistematicamente ao projeto do marido, em sequências de discussão que se vão acumulando sem consequência e sem que saibamos com profundidade aquilo que sente e a motiva. Em suma, o realizador assinala quando e como deve rir-se. Quando e como devem sentir-se emoções profundas. Lembro o momento da “corrida” final da criança, encenada para sublinhar esse amor entre neto e avó, como superação da sua condição de “doente”. E Minari assinala-nos ainda como e quando devemos ler a simbologia transparente da planta resiliente, o minari do título, como o amor e o projecto familiar que resiste à adversidade.

Em suma, de Minari toda a gente sai emocionada, esclarecida e a sentir-se bem com o triunfo do amor, da força e da integração.

O ano passado tivemos Gisaengchung (Parasitas, 2019) de Bong Joon Ho a vencer o Oscar de melhor filme. E muita gente brincou com esta ideia de um filme coreano ter funcionado como “parasita” do sistema de Hollywood e seus prémios. Ora, sabemos como é cínico e impiedoso o capitalismo: o que outrora assoma como “o fora”, ameaçador de um status quo, logo é integrado e posto a render. As margens de ontem são o centro do dia seguinte. Veja-se o estatuto “indie” de Sundance, hoje absolutamente centralizado. Sundance aliás que deu os primeiros prémios a Minari (público e júri numa unanimidade a reflectir).

Este ano, na lista de nomeados ao melhor filme, Minari desempenharia o papel de suposto outsider, como o filme de Bong Joon em 2020. Com esta nuance, o outsider já é ele fabricado a partir de dentro – da máquina de Hollywood. Se pegarmos na piada do quem “parasita” quem, a premissa inverte-se. Não será a fabricação de Minari, enquanto obra mellow, debruçando-se sobre a ideia do acolhimento, da recepção e encontro do americano com um “suposto diferente”, uma integração conveniente, “americanizada” desse estatuto do longínquo? Por outras palavras, se Parasitas permitia pensar a desconstrução a partir de um dentro através do modus operandi do parasita, no filme de Lee Isaac Chung temos a lógica adaptativa do “organismo estranho”: o parasita não suga, é sugado por uma lógica que o absorve para o interior do seu próprio organismo. O lema parece ser: venha quem vier por bem e quem estiver disposto a ser como nós.

E talvez por isso tenhamos a sensação que Minari seria o “filme diferente” da lista dos nomeados. Mas uma diferença fabricada dentro, no absoluto paradigma da semelhança. Lembremo-nos da lista exaustiva de planos bonitos do sol, das plantas molhadas, da câmara ao nível da relva e das crianças. Brad Pitt foi um dos produtores executivos, mas há mais Brad por aqui: a lente de Chung procura um diálogo com Tree of Life (Á árvore da vida, 2011), também ele um filme de crescimento familiar e de natureza bonita e nada inóspita.

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Carlos Natálio

«Keep reminding yourself of the way things are connected, of their relatedness. All things are implicated in one another and in sympathy with each other. This event is the consequence of some other one. Things push and pull on each other, and breathe together, and are one.» Marcus Aurelius

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