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Críticas, Em Sala 0

“Malmkrog”: da limpidez imperfeita

De Carlos Natálio · Em Dezembro 28, 2020

Apetece começar por dizer que é um gesto corajoso e intelectualmente estimulante o de lançar nas salas portuguesas um filme com filosofia dentro, de três horas e vinte, como quem lança um filme de Natal. Se é verdade que o ano é atípico, que se aproveite essas anomalias para esticar a corda, dando ao espectador de cinema o estatuto de ser pensante que não se assusta com o adjetivo – sabe-se lá o que significa em cinema – difícil. E nem deixa de ser verdade que a sexta longa metragem de Cristi Puiu é, na sua literalidade, um filme de Natal. Um latifundiário, Nikolai, que junta em Malmkrog, a sua casa na Pensilvânia, alguns convidados – um general e sua mulher, um político, uma jovem condessa – nas férias natalícias, rodeados de neve e do fim do ano (e do século XX) que se anuncia.

Malmkrog (2020) de Cristi Puiu

Puiu decide adaptar o livro War, Progress, and the End of History (1900) do filósofo russo Vladimir Solovyov, mas fá-lo como se fosse mais uma das suas personagens: montando um exercício de ensaio, repetição, corta e cola do texto, pouco preocupado com a certeza da mensagem filosófica, mas mais no duelo que o pensamento impõe a quem a ele se dedica. Claro que isto fez parte do processo mas não está no filme pois Mamlkrog é um filme clássico e depurado, bem distante das deambulações físicas de Viorel [o protagonista de Aurora (2010)] – as deambulações aqui são feitas, quase todas, pela palavra – e talvez já mais perto da observação familiar de Sieranevada (Sierra-Nevada, 2016).

Tal como os argumentos se enrodilham mais e mais na suspeita e na incerteza, também esta é uma travessia da claridade à progressiva escuridão. Um desconfinar-se lento no interior do próprio pensamento.

Os diálogos ou conversas são os acontecimentos centrais desta obra que procura inquirir alguns dos temas que ocupavam a intelligentsia na passagem do século. Entre eles: o decandentismo do ideal militarista; a guerra e a violência como boas ou más; a oposição entre o bem e o mal; a supremacia civilizacional; o europeísmo como conceito e utopia; a natureza da educação versus a submissão religiosa; os ensinamentos da bíblia e as intenções de Cristo; a ressurreição para todos como utopia – O Anticristo de Nietzsche, de 1895, é uma obra que paira sobre todo o filme. Neste suceder de argumentos e desconstruções o interessante é que Puiu nos dá um filme de acção, onde as palavras surgem como clímax, onde terá de haver pausas para silêncio e reflexão, onde o acto de escutar é tão fundamental como o de aparar ou defender um soco no boxe.

Mas não se pense que por estas razões Mamlkrog é um filme desleixado de uma certa materialidade das coisas. Pelo contrário, tal como os argumentos se enrodilham mais e mais na suspeita e na incerteza, também esta é uma travessia da claridade à progressiva escuridão. Um desconfinar-se lento no interior do próprio pensamento. Como se escuta a dada altura: “a nossa doutrina precisa de coerência”. Não por acaso começamos num plano aberto da neve fora da propriedade e terminaremos num plano de janela fechado, com os convidados mencionando esses dias cada vez menos claros, essa limpidez imperfeita que não saberão se é dos olhos que começam a falhar ou da terra ele mesma que envelhece. Muitas vezes ao longo do filme, Puiu filmará as suas personagens de costas, olhando o lá fora (também por isto, e não apenas pela crítica à burguesia tão só, este é um filme buñieliano a quem lhe extirparam uma ironia mais imediata). Como se esperassem algo. A vinda de um novo século, novas ideias para afugentar o pessimismo e a incerteza, um lá fora que rima com 2020, numa condição de fechamento que hoje não podemos deixar de ver reflectida.

Mas temos ainda um lá fora cá dentro, tão ou mais interessante. É que, de certa maneira, a horda de criados que ora surge com um bolo, ora se enfurece entre os seus pelo desleixo com quem trabalha, são uma espécie de lado b desta conversação. Como se Puiu metesse na mesma casa Manoel de Oliveira e Albert Serra e nos mostrasse essas camadas de interacção, entre palavras e gestos, trabalhando a mesma inquietação.

O pessimismo da literatura russa – em especial Dostoievski, mas também o huis clos das peças de Tchekhov – passou para o filme. Assim como Puiu cita a importância de My Dinner with Andre (1981) de Louis Malle, também temos em Malmkrog a decadência de Il gattopardo (O Leopardo, 1963) – e que filme hoje tão adequado a resgatar também o ocaso da relação dos filmes com a sua história -, além das já referidas scéances mágicas do nosso Oliveira ou as razões renoirianas de todos os envolvidos. Como se ouve a dada altura, cito de memória, desculpem se imprecisa, “ignorar os antepassados é como achar que nascemos das cegonhas”. E que precisados estamos de ser resgatados dessas cegonhas.

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Cristi PuiuFriedrich NietzscheLuchino ViscontiLuis BuñuelManoel de OliveiraVladimir Solovyov

Carlos Natálio

«Keep reminding yourself of the way things are connected, of their relatedness. All things are implicated in one another and in sympathy with each other. This event is the consequence of some other one. Things push and pull on each other, and breathe together, and are one.» Marcus Aurelius

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