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“Letter to You”: Bruce Springsteen, o leão no Inverno

De Duarte Mata · Em Novembro 18, 2020

Na sua autobiografia, imprescindível para qualquer fã de Springsteen, Born to Run, “The Boss” escreveu a propósito da faixa que encerra o álbum The River: “em ‘Wreck on the Highway’, a minha personagem é confrontada pela morte e por uma vida adulta onde o tempo é finito. Ele conduz até casa, e deitado ao lado da sua amante, compreende que só tem um número limitado de oportunidades para amar alguém, para fazer o seu trabalho, para ser parte de algo, para cuidar das crianças, para fazer algo de bom.” É esta inquietação com a mortalidade que percorre quase todo o seu último disco e o documentário homónimo: Letter to You. Com uma diferença. Enquanto “Wreck on the highway” faz-se sob a perspectiva de uma personagem que contempla o futuro, o olhar de Letter to You é encaminhado na direcção oposta, como o homem envelhecido que regressa a casa após visitar as campas dos antigos companheiros, folheando com um sorriso agridoce o álbum fotográfico de glórias passadas coberto de pó e nostalgia.

Letter to You (2020) de Thom Zimny

Tudo isto para dizer que Springsteen atravessa mais um capítulo dessa fase tão bonita que chega a alguns dos grandes artistas: a crepuscular, aquela onde o sujeito avalia o seu percurso em retrospectiva, revisitando o passado à luz do presente para a criação de uma súmula depurada e com forte ressonância emocional da sua carreira. São dela parte o já referido livro, o espectáculo Springsteen on Broadway (2018) e também o filme Western Stars (2019). Mas Letter to You (álbum e filme) é mais melancólico que os anteriores, com a morte, a doença, o envelhecimento e a certeza fixa da transitoriedade da existência a servirem de base para as breves reflexões individuais que são as suas canções (e que, no caso do documentário, são antecedidas pela voz-off barítona do cantor, dando-lhes um contexto claro com a qual adquirem um significado menos ambíguo).

(…) Zimny não só captou imagens de enorme pujança e beleza, como também concebeu a atmosfera etérea fundamental para acompanhar o tom lúgubre, confessional e intimista dos monólogos solenes de Springsteen.

Vale a pena, por isso, contextualizar a génese do projecto áudio-cinematográfico. O nome de George Teiss muito provavelmente nada dirá ao leitor, mas foi ele quem, na longínqua década de 60, bateu à porta de casa de um Springsteen adolescente, perguntando-lhe se este não se queria juntar a uma banda que estava a formar: The Castiles. O futuro “The Boss” aceitou e, durante 3 anos, foi dela o principal guitarrista, tendo tocado em bailes, festas, casamentos e outros eventos locais. Em 2018, Teiss morreu aos 68 anos de cancro do pulmão, fazendo de Springsteen o último sobrevivente (“The last man standing” é o nome de uma das faixas mais marcadas pela irreversibilidade dessa ausência) daquela que define como a sua “primeira banda a sério”. Este confronto com a partida de uma figura fulcral para o seu desenvolvimento musical levou à criação do novo disco e filme, ambos gravados perto do Inverno de 2019 no seu lar, com a sua banda de mais de 45 anos: a E Street Band.

Com Letter to You (2020), Springsteen e a E Street ganham um precioso e revelador documento sobre o seu método de trabalho em estúdio, mostrando-nos o “instrumento perfeitamente afinado de grande flexibilidade e poder” (como é dito no filme) em que se tornaram com quase meio-século de colaboração, da dinâmica construtiva que vivem nos ensaios à sintonia apurada que experienciam nas gravações. É o processo criativo que vemos acontecer, o trabalho de equipa certeiro com as suas sugestões, tentativas, correcções e festejos, estando sempre presente esse compromisso inquebrantável que é a filosofia da banda desde o começo: fazer o seu trabalho o melhor possível. Um melhor onde nem a idade parece afectar a agilidade do pianista Roy Bittan, a força do baterista Max Weinberg, a destreza do guitarrista Steve Van Zandt ou o júbilo da cantora Patti Scialfa. No espaço de autêntica fraternidade e magia que é o estúdio, estes “velhos” sexagenários conservam a energia e desteridade de jovens vintões.

Mas referimos há pouco a melancolia, estado de espírito para o qual contribui o clima invernal e o registo monocromático (só quebrado pelas ocasionais imagens de arquivo). Lembramo-nos de outro documentário musical filmado a preto-e-branco e tematicamente semelhante a Letter…, o avassalador One More Time with Feeling (2016) de Andrew Dominik, sobre o luto de Nick Cave e a esposa pelo filho durante as gravações de Skeleton Tree. Mas, ao contrário do filme de Dominik que permanecia nas sombras de uma tragédia insuperável, Letter to You tem essa possibilidade luminosa de se tornar uma celebração sobre a vida. Tal como o álbum. Veja-se a épica “Ghosts”, “sobre a beleza e alegria de estar numa banda, mas também perder o outro à doença e ao tempo” (Springsteen dixit), onde “The Boss” e a E Street exclamam “I’M ALIVE!” com uma potência que reclama o espaço acústico por inteiro, um grito feito catarse capaz de atravessar tempos e lugares para homenagear os mortos daqueles recortes gastos de jornais, daquelas fotografias antigas, daquelas guitarras velhas que em tempos tocaram, reafirmando a perseverança dos laços de respeito e amizade que marcaram a vida do cantor. São com estes e outros momentos que Letter to You torna-se, assim, um agradecimento honesto aos camaradas de banda, tanto os que partiram como os que ainda estão.

O realizador Thom Zimny percebe quais as intenções do cantor, sabendo usar os recursos cinematográficos para que as imagens acarretem uma força tão comovedora quanto a das canções. É o caso daquelas sobreimpressões líricas da neve a cair do telhado de uma cabana enquanto passam, sobre ela, pequenos vídeos com os companheiros já falecidos da E Street (o saxofonista Clarence Clemons ou o teclista Danny Federici), sugerindo a passagem imparável do tempo e a efemeridade incompassível de tudo o que implica. Ou então aquele plano fechado, semi-fixo e sem cortes da cara de Springsteen ao cantar o tema mais simples e íntimo do álbum, “One Minute you’re here”, onde estudamos as suas feições cinzeladas pela mágoa resignada (One minute you’re here / Next minute you’re gone) no soltar de cada verso. Junte-se isto aos instrumentos musicais em plano detalhe e contraluz, aos passeios aéreos registados por drones, ao céu acinzentando com as nuvens em fast motion, ao contraste visual entre o negro dos ramos arbóreos e a brancura de massa nívea, e compreende-se que Zimny não só captou imagens de enorme pujança e beleza, como também concebeu a atmosfera etérea fundamental para acompanhar o tom lúgubre, confessional e intimista dos monólogos solenes de Springsteen.

E se excluirmos aquela curta coda ao som da incandescente “Burnin’ Train”, Letter to You acaba como imensas canções de Springsteen: na estrada. Mas onde antes era habitada pelas figuras e movimentos de tantos jovens nos seus automóveis redentores, aqui surge-nos totalmente vazia e inanimada, num plano geral que regista a queda da fria nevada sobre ela e do bosque que atravessa. Acabaram-se as estradas-trovão, as corridas de rua, as terras prometidas. Springsteen parece ter soltado o pé do acelerador para deixá-lo tombar definitivamente sobre o travão, mostrando-nos essa calma de um homem que anuncia o fim da viagem, recorda os locais por onde passou, contempla o que agora o rodeia, e aguarda pacientemente o momento em que, como a estrada sinuosa daquele plano sereno, repouse em sossego debaixo da neve.

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Bruce SpringsteenNick CaveThom Zimny

Duarte Mata

Perguntaram-lhe: "Mr. Ford, you made a picture called 'Three Bad Men', which is a large scale western, and you had a quite elaborated land rush in it. How did you shoot that?" E ele respondeu: "With a camera."

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