• Homepage
    • Quem Somos
    • Colaboradores
  • Dossier
    • Raoul Walsh, Herói Esquecido
    • Os Filhos de Bénard
    • Na Presença dos Palhaços
    • E elas criaram cinema
    • Hollywood Clássica: Outros Heróis
    • Godard, Livro Aberto
    • 5 Sentidos (+ 1)
    • Amizade (com Estado da Arte)
    • Fotograma, Meu Amor
    • Diálogos (com Estado da Arte)
  • Críticas
    • Cinema em Casa
    • Em Sala
    • Noutras Salas
    • Raridades
    • Recuperados
    • Sem Sala
  • Em Foco
    • Comprimidos Cinéfilos
    • Divulgação
    • In Memoriam
    • Melhores do Ano
    • Palatorium Walshiano
    • Passatempos
    • Recortes do Cinema
  • Crónicas
    • Do álbum que me coube em sorte
    • Filmes nas aulas, filmes nas mãos
    • Nos Confins do Cinema
    • Recordações da casa de Alpendre
    • Week-End
    • Arquivo
      • Civic TV
      • Constelações Fílmicas
      • Contos do Arquivo
      • Ecstasy of Gold
      • Em Série
      • «Entre Parêntesis»
      • Ficheiros Secretos do Cinema Português
      • Filmado Tangente
      • I WISH I HAD SOMEONE ELSE’S FACE
      • O Movimento Perpétuo
      • Raccords do Algoritmo
      • Ramalhetes
      • Retratos de Projecção
      • Se Confinado Um Espectador
      • Simulacros
      • Sometimes I Wish We Were an Eagle
  • Contra-campo
    • Caderneta de Cromos
    • Conversas à Pala
    • Crítica Epistolar
    • Estados Gerais
    • Filme Falado
    • Filmes Fetiche
    • Steal a Still
    • Vai~e~Vem
    • Arquivo
      • Actualidades
      • Estado da Arte
      • Cadáver Esquisito
      • Sopa de Planos
  • Entrevistas
  • Festivais
    • Córtex
    • Curtas Vila do Conde
    • DocLisboa
    • Doc’s Kingdom
    • FEST
    • Festa do Cinema Chinês
    • FESTin
    • Festival de Cinema Argentino
    • Frames Portuguese Film Festival
    • Harvard na Gulbenkian
    • IndieLisboa
    • LEFFEST
    • MONSTRA
    • MOTELx
    • New Horizons
    • Olhares do Mediterrâneo – Cinema no Feminino
    • Panorama
    • Porto/Post/Doc
    • QueerLisboa
  • Acção!
À pala de Walsh
Cinema em Casa, Críticas 0

“Ema”: burning down the house

De Nuno Gonçalves · Em Maio 25, 2020

Os primeiros minutos dos filmes de Pablo Larraín começam por nos revelar bastante acerca dos seus personagens. Em El club (O Clube, 2015), por exemplo, vemos um homem na praia ao entardecer, a brincar com um cão, que persegue em movimento circular um pau que o homem segura e o faz buscar. O círculo que o cão inscreve na areia, à medida que corre atrás do tão almejado pedaço de madeira, parece funcionar como metáfora para a persistência (e existência) do homem neste lugar. É de culpa e penitência que se trata. O destino que Larraín lhe reserva está condensado nessa cena, no que está por vir. Na sua mais recente criação, Ema (2019), o realizador chileno volta a perscrutar a nossa atenção ainda antes do filme começar: ouvimos crepitar no escuro, vemos um semáforo de trânsito que arde, há uma mulher que segura um lança-chamas. Larraín, mais uma vez, coloca as cartas em cima da mesa para nos ler a sina: não esperem surpresas.

Ema (2019) de Pablo Larraín

Ema é uma bailarina de reggaeton de Valparaíso (Chile) e vive com Gastón, coreógrafo da troupe da qual faz parte. O casal atravessa um período de rutura, mas não é de agora. Sabemos que adotaram uma criança de oito anos, um órfão colombiano, Polo, mas um ano depois Ema decidiu “devolvê-lo” após este ter incendiado a casa e, consequentemente, ter queimado parte do rosto da tia. Este é o problema do filme e até aqui ainda não tivemos tempo suficiente para reagir. Ema também não. Polo faz-lhe falta. Reconsidera e procura a assistente social que muito sucintamente lhe diz que a criança já não é sua, não é seu filho, e que não há mais nada a fazer, ele está com outra família, uma que o ama verdadeiramente. Isto é combustível para Ema. Daqui para a frente estamos em guerra: no seio do casal, na dança, no trabalho, no grupo de amigas, na rua, no sexo. Ema vive condicionada pela infertilidade de Gastón e na incapacidade de Polo a reconhecer como mãe.

Sai-se amargo, mas no ha passado nada, pois Ema é o retrato de uma mulher em chamas que queremos ver devorar tudo (e todos) e é com esse retrato que devemos ficar.

Ema é o primeiro filme no qual Larraín não está a lidar diretamente com um assunto histórico ou biográfico (a ditadura chilena, Pablo Neruda, ou Jackie Kennedy). O seu alvo aqui é a juventude chilena de hoje, aquela que se quer libertar das amarras sociais e políticas que assolam o país. Está a falar sobre os jovens que se querem manifestar e concretizar os seus desejos, os que anseiam por um futuro melhor, que querem redefinir os termos e categorias da família, do género e da igualdade. Portanto, em Ema, Larraín está a lidar com o aqui e agora, é o presente que lhe interessa. É através da música, mas sobretudo da dança, que o filme no seu jeito musical mostra o pulsar das ruas e quem é Ema, como vemos na primeira manifestação de uma criação de Gastón: uma estrela azul fria, que vai ficando cada vez mais um vermelho quente, à medida que a performance avança, para no final engolir os bailarinos na sua intensidade, enquanto os seus corpos, ao ritmo da música, abanam como chamas. Ema é o centro desta La danse matisseana, a estrela solar que vive pela dança. Todos os outros orbitam à sua volta. O reggaeton liberta-a. Luta com o corpo, cospe fogo, pratica da vingança com as suas amigas, despe-se da toxicidade arreigada de Gastón. Serve única e exclusivamente a sua própria agenda e prazer.

Ema (2019) de Pablo Larraín

As personagens de Larraín foram sempre ambivalentes, figuras intelectualmente complexas. Percebíamos as razões que as levavam a agir de determinada forma, sendo que muitas das vezes éramos confrontados com os seus crimes, os seus pecados, ainda que nunca nos fosse possível apontar o dedo moralista. Não podíamos. Mas hoje, em Ema, estamos perante um cineasta que parece ter perdido o fulgor de outros tempos ao tentar ser apenas um provocateur.

É certo que Ema é um filme vertiginoso, mas é também na chamada final para o consciente que percebemos a obra que ameaçava ser e que se ficou apenas por isso: uma ameaça. O comentário final de Larraín – aquele para o qual nos tinha alertado no inicio com as cartas em cima da mesa – desilude, não pela sua tentativa de reinventar as relações familiares, o amor, o sexo, a maternidade, mas por todo o outro filme que está antes, orgásmico, que parece evidenciar uma forma e uma liberdade maior no pensamento que se permite a escorrer, através da música e da dança, sobre o Chile hoje.

Sai-se amargo, mas no ha passado nada, pois Ema é o retrato de uma mulher em chamas que queremos ver devorar tudo (e todos) e é com esse retrato que devemos ficar.

Ema estará disponível a partir de dia 28 na plataforma de VOD nacional, Filmin. 

Partilhar isto:

  • Twitter
  • Facebook
2010'sPablo Larraín

Nuno Gonçalves

"Hoje, quando vejo um filme, peço-lhe que expresse ora a alegria de fazer cinema, ora a angústia de fazer cinema, e desinteresso-me de tudo aquilo que estiver entre os dois, isto é, de todos os filmes que não vibram." François Truffaut, "Os Filmes da Minha Vida"

Artigos relacionados

  • Críticas

    “Two for the Road”: manual de ‘recasamento’ em viagem

  • Críticas

    “Lightyear”: o ‘Interstellar’ da Pixar

  • Críticas

    “Un autre monde”: inteligência ou indecência?

Últimas

  • Vai~e~Vem #44: palíndromo ou espero que te encontres bem

    Junho 28, 2022
  • “Two for the Road”: manual de ‘recasamento’ em viagem

    Junho 28, 2022
  • Seria um filme: “Le Camion”, de Marguerite Duras  

    Junho 27, 2022
  • “Winter Kills”: o Grande Voyeur

    Junho 26, 2022
  • In memoriam: Jean-Louis Trintignant (1930-2022)

    Junho 24, 2022
  • “Lightyear”: o ‘Interstellar’ da Pixar

    Junho 23, 2022
  • “Un autre monde”: inteligência ou indecência?

    Junho 23, 2022
  • Palatorium e comprimidos cinéfilos: Junho

    Junho 22, 2022
  • Tocar a mesma canção

    Junho 22, 2022
  • 10 Anos de À pala de Walsh: ciclo na Cinemateca

    Junho 20, 2022

  • Quem Somos
  • Colaboradores
  • Newsletter

À Pala de Walsh

No À pala de Walsh, cometemos a imprudência dos que esculpem sobre teatro e pintam sobre literatura. Escrevemos sobre cinema.

Críticas a filmes, crónicas, entrevistas e (outras) brincadeiras cinéfilas.

apaladewalsh@gmail.com

Últimas

  • Vai~e~Vem #44: palíndromo ou espero que te encontres bem

    Junho 28, 2022
  • “Two for the Road”: manual de ‘recasamento’ em viagem

    Junho 28, 2022
  • Seria um filme: “Le Camion”, de Marguerite Duras  

    Junho 27, 2022
  • “Winter Kills”: o Grande Voyeur

    Junho 26, 2022
  • In memoriam: Jean-Louis Trintignant (1930-2022)

    Junho 24, 2022

Etiquetas

2010's Alfred Hitchcock Clint Eastwood François Truffaut Fritz Lang Jean-Luc Godard John Ford João Bénard da Costa Manoel de Oliveira Martin Scorsese Orson Welles Pedro Costa Robert Bresson Roberto Rossellini

Categorias

Arquivo

Pesquisar

© 2021 À pala de Walsh. Todos os direitos reservados.