• Homepage
    • Quem Somos
    • Colaboradores
  • Dossier
    • Raoul Walsh, Herói Esquecido
    • Os Filhos de Bénard
    • Na Presença dos Palhaços
    • E elas criaram cinema
    • Hollywood Clássica: Outros Heróis
    • Godard, Livro Aberto
    • 5 Sentidos (+ 1)
    • Amizade (com Estado da Arte)
    • Fotograma, Meu Amor
    • Diálogos (com Estado da Arte)
  • Críticas
    • Cinema em Casa
    • Em Sala
    • Noutras Salas
    • Raridades
    • Recuperados
    • Sem Sala
  • Em Foco
    • Comprimidos Cinéfilos
    • Divulgação
    • In Memoriam
    • Melhores do Ano
    • Palatorium Walshiano
    • Passatempos
    • Recortes do Cinema
  • Crónicas
    • Do álbum que me coube em sorte
    • Filmes nas aulas, filmes nas mãos
    • Nos Confins do Cinema
    • Recordações da casa de Alpendre
    • Week-End
    • Arquivo
      • Civic TV
      • Constelações Fílmicas
      • Contos do Arquivo
      • Ecstasy of Gold
      • Em Série
      • «Entre Parêntesis»
      • Ficheiros Secretos do Cinema Português
      • Filmado Tangente
      • I WISH I HAD SOMEONE ELSE’S FACE
      • O Movimento Perpétuo
      • Raccords do Algoritmo
      • Ramalhetes
      • Retratos de Projecção
      • Se Confinado Um Espectador
      • Simulacros
      • Sometimes I Wish We Were an Eagle
  • Contra-campo
    • Caderneta de Cromos
    • Conversas à Pala
    • Crítica Epistolar
    • Estados Gerais
    • Filme Falado
    • Filmes Fetiche
    • Steal a Still
    • Vai~e~Vem
    • Arquivo
      • Actualidades
      • Estado da Arte
      • Cadáver Esquisito
      • Sopa de Planos
  • Entrevistas
  • Festivais
    • Córtex
    • Curtas Vila do Conde
    • DocLisboa
    • Doc’s Kingdom
    • FEST
    • Festa do Cinema Chinês
    • FESTin
    • Festival de Cinema Argentino
    • Frames Portuguese Film Festival
    • Harvard na Gulbenkian
    • IndieLisboa
    • LEFFEST
    • MONSTRA
    • MOTELx
    • New Horizons
    • Olhares do Mediterrâneo – Cinema no Feminino
    • Panorama
    • Porto/Post/Doc
    • QueerLisboa
  • Acção!
À pala de Walsh
Críticas, Em Sala 0

“Zombi Child”: cinema morto-vivo

De Carlos Natálio · Em Janeiro 6, 2020

Numa boa entrevista dada ao crítico do Jornal Público, Jorge Mourinha, o realizador Bertrand Bonello diz uma coisa bem interessante acerca do seu filme anterior Nocturama (2016): “a minha ideia era usar um filme de género para fazer passar uma reflexão política sem impôr um discurso ideológico”. Recorde-se que este acompanhava um grupo de jovens burguesinhos franceses que resolviam cometer um conjunto de atentados terroristas em Paris, para se manifestarem contra as maleitas do sistema capitalista. Mas voltemos à sua frase e, descartando a dimensão ideológica, atente-se na utilização das expressões “usar um filme” e “fazer passar”. O filme ressentia-se precisamente disso: chegava-nos à tela como um objecto “usado”, como “instrumento de passagem” de uma dada ideia sarcástica, de comentário político acutilante.

Zombi Child (A Criança Zombie, 2019) de Bertrand Bonello

Com Zombi Child (A Criança Zombie, 2019), outra vez com a jovem geração – que é como diz, um instrumento para pensar o futuro – acontece precisamente o mesmo. A ideia é interessante, uma vez mais. Por um lado, a zombificação de uma dada faixa etária, não como mera pulsão passiva do consumismo e da política (esse é já hoje um estafado shortcut para a figura ideológica do zombie, depois de tantos a seguir a Romero), mas sim, como esclarece o cineasta, para um limbo entre um mundo e outro, entre a vida e a morte, entre sistemas que incorporam e que isolam. Por outro lado, ainda faltava à carapaça vazia do zombie alienado, controlado, explorado, ligá-lo à escravatura e controlo colonialista. Bonello irá filmar no Haiti, em noite americana – entre a luz e a escuridão portanto -, os zombies a trabalhar nas plantações de cana de açúcar. E irá, sobretudo, fazer do reacordar dos mortos, dos zombies, uma apologia simbólica do movimento descolonizador e de recuperação de uma memória perdida.

Bonello é melhor a ter ideias para filmes do que a fazer filmes. As premissas abstractas têm toda a pertinência da contemporaneidade, mas depois a narrativa explode-lhe nas mãos. São filmes mortos-vivos que deambulam entre o mundo vivo das ideias e o mundo zombificado do pathos das suas personagens.

Mas há mais: é uma jovem privilegiada, branca, francesa, estudante de um colégio interno (imagino aquele espaço nas mãos de Argento!) que recorrerá aos serviços do voodoo, piscando o olho à questão da apropriação cultural. E há aulas onde os professores falam da responsabilidade colonial francesa e onde se pede aos estudantes que reflictam sobre os efeitos da Primavera Árabe. Entretanto há sequências decorativas, há deambulações haitianas ao som de batuques exasperantes e ratazanas devoradas. Bonello procura, a custo, unir o Haiti dos anos 60 e a França actual, procura, no fundo, resgatar da inanidade uma narrativa pela qual passará tudo, um fio condutor para o que de interesse há a ver.

Talvez por isso se possa avançar uma comparação abusiva, tomando Zombi Child e Nocturama como exemplos. Bonello é melhor a ter ideias para filmes do que a fazer filmes. As premissas abstractas têm toda a pertinência da contemporaneidade, mas depois a narrativa explode-lhe nas mãos. São filmes mortos-vivos que deambulam entre o mundo vivo das ideias e o mundo zombificado do pathos das suas personagens. Algo que acontecia inversamente com o limbo dos zombies de Tourneur. Quem queria saber o que significavam além do sobrenatural, dos tambores e da noite?

Interessante que os artistas têm vindo a tricotar um padrão de obras em que o cinema vem depositando nas mãos dos mais jovens as legítimas angústias da geração Greta Thunberg. Mas quase sempre sem conseguir inverter esta hierarquia entre a angústia do statement e o mundo ficcional que o acomoda. Nesse sentido, Zombi Child pertence a esta família, da qual também fazem parte obras recentes como L’heure de la sortie (A Hora da Saída, 2019) de Sébastien Marnier (estreado por cá em Setembro de 2019) ou Monos (2019) de Alejandro Landes, vencedor de melhor filme no último festival de Londres.

Uma das frases finais do filme de Bonello fica a ecoar no espectador. Diz o homem zombificado, agora a regressar à vida: “Terminou. Já não sou um escravo. E nunca mais serei um.” O que o pobre cinéfilo deseja é que essa desejável libertação não pressuponha nova escravização. Desta feita, a do cinema.

Partilhar isto:

  • Twitter
  • Facebook
2010'sAlejandro LandesBertrand BonelloDario ArgentoFestival de CannesGeorge A. RomeroJacques TourneurJim JarmuschJorge MourinhaLisbon & Estoril Film FestivalSébastien Marnier

Carlos Natálio

«Keep reminding yourself of the way things are connected, of their relatedness. All things are implicated in one another and in sympathy with each other. This event is the consequence of some other one. Things push and pull on each other, and breathe together, and are one.» Marcus Aurelius

Artigos relacionados

  • Críticas

    “All That Jazz”: sexo, suor e ‘showtime’

  • Críticas

    “Azor”: o banqueiro vai nu

  • Críticas

    “Cow”: a vaca que não ri

Sem Comentários

Deixe uma resposta

Tem de iniciar a sessão para publicar um comentário.

Últimas

  • Caminho de amor, dor e esperança em “Cette maison”

    Maio 22, 2022
  • “All That Jazz”: sexo, suor e ‘showtime’

    Maio 19, 2022
  • Palatorium e comprimidos cinéfilos: Maio

    Maio 18, 2022
  • “Azor”: o banqueiro vai nu

    Maio 18, 2022
  • IndieLisboa 2022: abalos oceânicos

    Maio 17, 2022
  • Respigar até ao fim da ceifa

    Maio 16, 2022
  • Caderneta de Cromos #12: Arnaldo Mesquita

    Maio 15, 2022
  • Passatempo Midas Filmes: ‘pack’ Hong Sang-soo

    Maio 15, 2022
  • “Cow”: a vaca que não ri

    Maio 12, 2022
  • Vai~e~Vem #41: o mistério para fugir ao esquecimento

    Maio 11, 2022

  • Quem Somos
  • Colaboradores
  • Newsletter

À Pala de Walsh

No À pala de Walsh, cometemos a imprudência dos que esculpem sobre teatro e pintam sobre literatura. Escrevemos sobre cinema.

Críticas a filmes, crónicas, entrevistas e (outras) brincadeiras cinéfilas.

apaladewalsh@gmail.com

Últimas

  • Caminho de amor, dor e esperança em “Cette maison”

    Maio 22, 2022
  • “All That Jazz”: sexo, suor e ‘showtime’

    Maio 19, 2022
  • Palatorium e comprimidos cinéfilos: Maio

    Maio 18, 2022
  • “Azor”: o banqueiro vai nu

    Maio 18, 2022
  • IndieLisboa 2022: abalos oceânicos

    Maio 17, 2022

Etiquetas

2010's Alfred Hitchcock Clint Eastwood François Truffaut Fritz Lang Jean-Luc Godard John Ford João Bénard da Costa Manoel de Oliveira Martin Scorsese Orson Welles Pedro Costa Robert Bresson Roberto Rossellini

Categorias

Arquivo

Pesquisar

© 2021 À pala de Walsh. Todos os direitos reservados.