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Doclisboa 2019: a RDA era um lugar estranho

De Samuel Andrade · Em Novembro 1, 2019

Para quem nunca se especializou, ou sequer demonstrou curiosidade, pela História da Europa ao longo do Século XX, a República Democrática Alemã (RDA) aparentou sempre possuir a imagem de um país difuso, marcado por uma dinâmica económica, social e cultural muito singular. Porta de entrada para a “Cortina de Ferro” que o Pacto de Varsóvia ditou, é seguro afirmar que a RDA raramente suscitou curiosidade dos media ocidentais — excepto nos seus triunfos e escândalos desportivos, no impressionante tecido industrial que fomentou ao longo de quatro décadas e, obviamente, a produção cinematográfica da Deutsche Film-Aktiengesellschaft (DEFA).

Serve este “contexto histórico” para introduzir o principal foco da minha atenção durante a mais recente edição do Doclisboa. O ciclo “Ascensão e Queda do Muro – O Cinema da Alemanha de Leste” (organizado, com curadoria de Agnès Wildenstein e integral exibição na Cinemateca Portuguesa, a propósito do trigésimo aniversário da queda do Muro de Berlim) impressionou, sobretudo pelo modo como desfez muitos dos pressupostos enunciados no parágrafo anterior e, tendo em conta a programação de um privilegiado e semi-inacessível “catálogo” — quase todo financiado pela DEFA — de filmes que a máquina estatal da RDA censurou ou suprimiu, possibilitou uma visão absolutamente fresca do quotidiano, socialista mas opressivo, daquele Estado.

Embora não tenha acontecido uma profusa visualização da grande maioria dos títulos exibidos no ciclo — por exemplo, ficou por ver os elogiados Berlin im Aufbau (Rebuilding Berlin, 1946) ou Winter Adé (After Winter Comes Spring, 1988) —, dos filmes que mereceram cobertura, é possível salientar aqueles que, formal e historicamente, melhor definem um perfil sócio-económico da RDA até à demolição do Muro de Berlim em 1989. Ou, por outras palavras, segue abaixo o meu top five do “Cinema da Alemanha de Leste”.

Schaut auf diese Stadt (1962) de Karl Glass

Nunca desdenhei um bom “pedaço” de propaganda política cinematográfica e, nesse sentido, Schaut auf diese Stadt (Look at This City, 1962) correspondeu a todas as expectativas, naquele que é um total produto da sua época. Recorrendo a imagens de arquivo e newsreels sobre a evolução política da Alemanha do pós-guerra, o realizador Karl Glass executa um argumentário de teor favorável a um conceito tão polémico como literalmente divisivo: a construção de um muro enquanto garantia, no seu sentido simbólico e palpável, da defesa e estabilidade dos interesses do povo de Berlim Ocidental. Sem alcançar a “propaganda corrosiva” de títulos como O Nascimento de Uma Nação (The Birth of a Nation, 1915) ou O Triunfo da Vontade (Triumph des Willens, 1935), este é um filme de visualização e contextualização obrigatórias: na sua mecânica documental, pautada pelos discursos de alguns dos intervenientes no processo que levou à formação da RDA e por uma banda sonora que vai de Jean Kurt Forest aos The Coasters, Schaut auf diese Stadt aparenta inspirar-se em A Sinfonia de Uma Capital (Berlin – Die Sinfonie der Großstadt, 1927) para orquestrar a “sinfonia” de uma cidade dividida.

Märkische Heide, Märkische Sand (1990) de Volker Koepp

Da reunificação alemã, a memória humana reteve, maioritariamente, as imagens da celebração da demolição do Muro de Berlim, em Novembro de 1989. Por seu lado, o realizador Volker Koepp decidiu centrar-se na vivência daquele momento na pequena vila de Zehdenick, no estado de Brandenburg, construindo uma trilogia que detalha os constrangimentos e profundas alterações que o fim de uma realidade socialista pode acarretar. Märkische Ziegel (March Brandenburg Bricks, 1989), Märkische Heide, Märkische Sand (March Brandenburg Heath, March Brandenburg Sand, 1990) e Märkische Gesellschaft mbH (March Brandenburg Inc., 1991) demonstram, portanto, um ambiente simultaneamente fabril e rural onde imperam parcas expectativas, galopante desemprego e ambígua subsistência económica por um acontecimento que, pelo menos em Brandenburg, foi acolhido com relativa alegria.

flüstern & SCHREIEN (1988) de Dieter Schumann

No final dos anos 80, a RDA testemunhou o nascimento de uma irreverente e inconformada cena musical, dominada por sonoridades rock e punk que, em retrospectiva, já anunciavam o estertor da realidade política daquele país. Acompanhando grupos como Chicorée, Dia Zöllner ou os Feeling B (no qual pontificaram Christian Lorenz e Paul Landers, que mais tarde fundariam os Rammstein), Dieter Schumann, em flüstern & SCHREIEN (whisper & SHOUT, 1988), esboça um documentário em formato road movie, para medir o pulso às evidentes e inevitáveis transformações sociais e culturais daquele país.

Sie (1970) de Gitta Nickel

O papel da mulher na sociedade da RDA (tema que, ficou agora evidente, a DEFA dedicou vários recursos) ganha particular destaque em Sie (She, 1970). Gitta Nickel, realizadora que desenvolveu extensa filmografia documental para a televisão da Alemanha de Leste, sublinha a figura da jovem médica Gisela Otto, cujo trabalho de educação e sensibilização, junto das trabalhadoras de diversos centros industriais, sobre planeamento familiar, a pílula contraceptiva ou habilitações profissionais revela-se, igualmente, como o retrato inusitado da filosofia sócio-política da RDA, a qual incentivava o aperfeiçoamento do trabalhador em prol do desenvolvimento de uma economia estatal. Não obstante os interlúdios musicais, quase inspirados no cinema mais ligeiro produzido pela Nouvelle Vague, que assinalam cada “capítulo” do documentário, o poder criativo da mulher é, em Sie, tópico de premente seriedade.

letztes jahr – titanic (1991) de Andreas Voigt

Filmado entre Dezembro de 1989 e Dezembro de 1990 (isto é, os últimos meses da RDA e os primeiros meses da Alemanha unificada), letztes jahr – titanic (Last Year Titanic, 1991) define, basicamente, o antes e depois da Queda do Muro para aqueles que cresceram numa Alemanha politicamente dividida. E, acima de tudo, sublinha – em impactante chiaroscuro – um conjunto de protagonistas (desde um redskin apreciador de Mozart, passando por uma jovem delinquente que elegeu uma pistola de ar comprimido como fiel companheira, até às confissões de uma jornalista torturada pela Stasi) que, de olhos fixos na objectiva de Andreas Voigt, compõe o reflexo, radical e irónico, dos derradeiros momentos das ideologias que, ao longo de quatro décadas, formaram um país.

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Samuel Andrade

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1 Comentário

  • IndieLisboa 2020: ‘A Trip Down Memory Lane’ | À pala de Walsh diz: Setembro 8, 2020 em 6:36 pm

    […] tal decisão não seja, é certo, novidade da minha parte neste espaço, talvez as presentes circunstâncias tenham-me cativado a atenção para os filmes […]

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