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Críticas, Em Sala 0

“Foxtrot”: querer chorar a bandeiras despregadas

De Luís Mendonça · Em Junho 18, 2019

Há quase dez anos que não tínhamos notícias do israelita Samuel Maoz. O seu último título, longa-metragem de estreia, era um “filme de dispositivo”, passado integralmente dentro de um tanque de guerra e que nos oferecia apenas a perspectiva desta máquina sepulcral pronta a disparar. O ambiente era claustrofóbico, mas a acção no ecrã era intensa e cativante. Passam quase dez anos e a guerra ainda é o assunto, só que, desta feita, começamos muito longe do campo de batalha: num hiper-confortável apartamento da classe alta israelita. Abre-se a porta para dizer “o seu filho pereceu na frente de combate”. E nós lá estamos enclausurados na perspectiva dos soldados-máquina que disparam contra o pai condolências e receitas à base de copos de água ingeridos de hora em hora. A câmara de Maoz parece que não saiu ainda da experiência traumática de Lebanon (Líbano, 2009). O começo tem a mesma capacidade de sequestro deste seu filme. Depois, o drama vai pretendendo uma espessura satírica e melodramática que não consegue comportar – com tanta areia na engrenagem, a máquina Foxtrot rapidamente começa a soçobrar.

Foxtrot (2017) de Samuel Maoz

A câmara de Maoz é o elemento inquietante nos primeiros minutos. Ela secciona com uma certa inteligência irónica o espaço da acção: proliferam os planos apertados e god’s eye views maquinais. Em poucos segundos, estamos dentro da história, a viver os instantes de choque e espanto do mais terrível dos lutos: um casal tenta aperceber-se de que o seu filho morreu. Mas enquanto somos puxados pela força do melodrama mais doloroso, há uma outra força que aqui e ali vai pontuando a acção, como um agente viral que se intromete no texto do filme para lançar a dúvida: “certo, a dor está estampada nos corpos, nos rostos, nas acções destas personagens, mas… será isto uma comédia?”

Maoz é extremamente engenhoso nesses minutos inicias, isto é, enquanto, nomeadamente pela câmara e ritmo de montagem, nos dá a sensação de estarmos em simultâneo num drama humano de brutais efeitos e numa delirante comédia burlesca (que habita o gesto e o rosto). O gag mais evidente é, sem dúvida, protagonizado pelo copo de água que os militares recomendam insistentemente que o pai beba de hora em hora – e este seguirá à risca a receita. Em suma, a situação é dramática, mas a pontuação das acções provém da comédia.

O espectador que se aperceba de todas as costuras do filme tem de aguentar a severa despromoção em termos de interesse, engenho e até inteligência da realização que começa sensivelmente na primeira trintena de minutos e culmina nos instantes finais.

Depois, Foxtrot (2017) descamba, perde o subtil balanceamento entre registos e é sugado pela comédia de absurdos que flirta com Jacques Tati, com Emir Kusturica ou – será mais pertinente citar – com Elia Suleiman. Mas não faz Yadon ilaheyya (Intervenção Divina, 2002) ou The Time That Remains (O Tempo Que Resta, 2009) quem quer. Maoz sucumbe a uma sátira, alusiva ao grande burlesco do cinema mudo, para desenhar a traço muito grosso o retrato do dia-a-dia de um grupo de militares israelita estacionado num checkpoint situado algures no deserto, em pleno “fim do mundo”. A passagem de um dromedário servirá de pêndulo entre a gargalhada e o sentimento de tédio e definhamento físico e moral acalentado pela guerra. Estamos no sítio onde tudo – tudo o que diz respeito ao luto inicial curado com copos de água – aconteceu ou acontecerá. Estávamos bem mais enclausurados, entretidos pela linguagem do choque – ainda “de tanque”… -, naquele apartamento de classe alta, alternando entre o riso e o grito. Agora tudo é claro como a água.

Depois da feliz conjugação, drama da “vida real” e comédia física do absurdo, os elementos são devidamente separados e destacados: vamos assistir a uma sátira bem identificada, “à moda de Suleiman”, para logo a seguir regressarmos em força ao registo do drama, desta feita sabendo que este veio with a vengeance (a música de Arvo Pärt é a cereja no topo do bolo da atitude “puxa-lágrima” subjacente aos minutos derradeiros). O exercício lúdico, entre registos, transforma-se num exemplar – exemplarmente reles, leia-se – exercício de manipulação emocional – algo que faz escola noutras paragens do cinema israelita, com Nadav Lapid à cabeça. Enfim, o espectador que se aperceba de todas as costuras do filme – da sua equação dramaticamente interesseira – tem de aguentar a severa despromoção em termos de interesse, engenho e até inteligência da realização que começa sensivelmente na primeira trintena de minutos e culmina nos instantes finais. E, grande chatice, acabamos por nunca chorar a bandeiras despregadas como Foxtrot prometia.

2010'sArvo PärtElia SuleimanEmir KusturicaJacques TatiNadav LapidSamuel Maoz
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Luís Mendonça

"The great creators, the thinkers, the artists, the scientists, the inventors, stood alone against the men of their time. Every new thought was opposed. Every new invention was denounced. But the men of unborrowed vision went ahead. They fought, they suffered, and they paid - but they won." Howard Roark (Gary Cooper) in The Fountainhead (1949)

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