• Homepage
    • Quem Somos
    • Colaboradores
  • Dossier
    • Raoul Walsh, Herói Esquecido
    • Os Filhos de Bénard
    • Na Presença dos Palhaços
    • E elas criaram cinema
    • Hollywood Clássica: Outros Heróis
    • Godard, Livro Aberto
    • 5 Sentidos (+ 1)
    • Amizade (com Estado da Arte)
    • Fotograma, Meu Amor
    • Diálogos (com Estado da Arte)
  • Críticas
    • Cinema em Casa
    • Em Sala
    • Noutras Salas
    • Raridades
    • Recuperados
    • Sem Sala
  • Em Foco
    • Comprimidos Cinéfilos
    • Divulgação
    • In Memoriam
    • Melhores do Ano
    • Palatorium Walshiano
    • Passatempos
    • Recortes do Cinema
  • Crónicas
    • Do álbum que me coube em sorte
    • Filmes nas aulas, filmes nas mãos
    • Nos Confins do Cinema
    • Recordações da casa de Alpendre
    • Week-End
    • Arquivo
      • Civic TV
      • Constelações Fílmicas
      • Contos do Arquivo
      • Ecstasy of Gold
      • Em Série
      • «Entre Parêntesis»
      • Ficheiros Secretos do Cinema Português
      • Filmado Tangente
      • I WISH I HAD SOMEONE ELSE’S FACE
      • O Movimento Perpétuo
      • Raccords do Algoritmo
      • Ramalhetes
      • Retratos de Projecção
      • Se Confinado Um Espectador
      • Simulacros
      • Sometimes I Wish We Were an Eagle
  • Contra-campo
    • Caderneta de Cromos
    • Conversas à Pala
    • Crítica Epistolar
    • Estados Gerais
    • Filme Falado
    • Filmes Fetiche
    • Steal a Still
    • Vai~e~Vem
    • Arquivo
      • Actualidades
      • Estado da Arte
      • Cadáver Esquisito
      • Sopa de Planos
  • Entrevistas
  • Festivais
    • Córtex
    • Curtas Vila do Conde
    • DocLisboa
    • Doc’s Kingdom
    • FEST
    • Festa do Cinema Chinês
    • FESTin
    • Festival de Cinema Argentino
    • Frames Portuguese Film Festival
    • Harvard na Gulbenkian
    • IndieLisboa
    • LEFFEST
    • MONSTRA
    • MOTELx
    • New Horizons
    • Olhares do Mediterrâneo – Cinema no Feminino
    • Panorama
    • Porto/Post/Doc
    • QueerLisboa
  • Acção!
À pala de Walsh
Críticas, Em Sala 2

“Us”: dentro de nós

De Carlos Alberto Carrilho · Em Março 26, 2019

The film is on track to make history
as the biggest horror film about a black family,
written and directed by a black man
with a mostly black cast.

Lisa Respers France,
«Jordan Peele and the art of being unapologetically black»,
CNN, 22.03.2019

Dois anos depois de Get Out (Foge, 2017), Jordan Peele regressa à complexidade racial na América actual com Us (Nós, 2019), um home invasion que tem a particularidade de o invasor ser semelhante ao dono da casa.

Us (Nós, 2019) de Jordan Peele

Aquando do lançamento de Get Out, Peele concluía assim uma entrevista ao The New York Times, respondendo ao jornalista que o inquiria sobre aquilo que mais o assustava: “Seres humanos. O que as pessoas podem fazer em conjunto é exponencialmente pior que aquilo que podem fazer sozinhos. A sociedade é o monstro mais assustador”. No contexto político americano da época, Hillary Clinton perdera as eleições e Donald Trump dava os primeiros passos na Casa Branca, com um discurso de populismo, intolerância e sectarismo, que tinha propagado durante a campanha e que começava então a implementar. Get Out tinha sido produzido antes das eleições, quando ninguém, incluindo o próprio Trump, acreditava que alguém com um discurso tão divisivo pudesse vir a ser eleito presidente. Por isso, o filme tinha como alvo a elite liberal que ansiava entregar o poder a Clinton e que, ao contrário de Tump, que era demasiado óbvio nas suas posições extremistas, não reconhecia a existência do racismo enquanto problema enraizado, idealizando a América numa condição de sociedade pós-racial.

Se Get Out é dirigido aos anos de Barack Obama e à esperança promissora de Hillary Clinton, Us visa sobretudo Donald Trump e o seu lema “Make America Great Again”. 

Produzido segundo o modelo de contenção de meios da Blumhouse, em que um bom argumento e um orçamento mínimo podem gerar receitas estratosféricas, Get Out evocava os filmes de teorias da conspiração de inícios da Guerra Fria, colocando um rapaz negro no meio de uma comunidade branca que usava métodos ancestrais e científicos para controlar grupos de negros, que posteriormente eram colocados ao seu serviço. O que também fazia lembrar o clássico de Victor Halperin, White Zombie (1932), em que Bela Lugosi utiliza o vodu para subjugar os trabalhadores de uma fazenda. O espectador sentia-se como o rapaz sentado na poltrona enquanto era hipnotizado e era conduzido aos seus medos mais profundos, num circuito fechado entre o divertimento e a angústia, o sorriso nervoso e as lágrimas descontroladas. Se Get Out é dirigido aos anos de Barack Obama e à esperança promissora de Hillary Clinton, Us visa sobretudo Donald Trump e o seu lema “Make America Great Again”. 

Jordan Peele revelou que as suas duas primeiras obras são tomos de um quarteto de filmes que está a desenvolver, pelo que as palavras que utiliza na conclusão da entrevista ao The New York Times, após terminar Get Out, podem ser vistas como uma antecipação do filme seguinte, Us, em que a casa de uma família em férias (Lupita Nyong, Winston Duke, Shahadi Wright Joseph e Evan Alex) é assaltada por um grupo de doppelgängers. Seguindo a linha do folclore alemão, de onde este tipo de criaturas é originária, os doppelgängers de Us representam cópias idênticas das pessoas, mas que acentuam o seu lado maligno, como um encontro improvável entre Dr Jekyll e Mr Hyde, ou entre o original e o duplicado alienígena, que Don Siegel desenvolveu para Invasion of the Body Snatchers (A Terra em Perigo, 1956). Cada pessoa tem o seu doppelgänger, que repete as suas acções e vive num universo alternativo implantado no grande número de túneis e construções subterrâneas abandonadas, a que alude o inicio do filme. Numa sala de espelhos de um parque de diversões que estabelece uma passagem entre os dois mundos, um encontro inesperado entre a mãe (Lupita Nyong), quando era criança, e o seu doppelgänger é o mote para um incidente futuro em que todos os doppelgängers dirigem-se até à superfície para reclamar os privilégios que lhe foram negados e a que têm direito. Também em Weird City (2019), a saborosa série de comédia e ficção científica que Jordan Peele criou com o colaborador habitual Charlie Sanders, para o canal de streaming YouTube Premium, o mundo é dividido em duas comunidades, no entanto a passagem é vigiada e funciona como uma forma de alfândega. Nestas comunidades, Above The Line e Below The Line, não contam questões de raça, género ou preferência sexual, mas sim classes económicas que implicam diferentes privilégios, o que não elimina a mesma problemática que qualquer segregação pode originar.  

Us (Nós, 2019) de Jordan Peele

A reunião das comunidades “Above The Line” e “Below The Line” de Us faz-se por meio de uma repetida imagem que exibe a reactivação do evento de beneficência “Hands Across America”, semelhante ao movimento “We Are the World”, mas centrado na realidade social do Estados Unidos, que em 1986 reuniu milhões de pessoas, entre celebridades e indivíduos comuns, num continuo cordão humano de compaixão pela pobreza e a exclusão social. Peele questiona a farsa representada por este sentido de comunidade, em que também participou Ronald Reagan numa semana em que criticava a acção dos pobres como a principal razão para os problemas da fome, compondo um cenário alucinado, cuja melhor imagem é a remontagem do clássico “I Got 5 on It” (1995) da autoria de Luniz, duo de hip hop originário da West Coast, onde o filme foi rodado, em colaboração com Michael Marshall, numa versão sombria que, através de efeitos de eco e reverberação, amplifica o seu lado fantasmático.

Por falarmos em ecos, na versão original de “I Got 5 on It” já se sentiam sinais da banda sonora de A Nightmare on Elm Street (Pesadelo em Elm Street, 1984) de Wes Craven, bem como Us contém referências mais ou menos directas a Thriller (1982) de Michael Jackson, Jaws (Tubarão, 1975) de Steven Spielberg ou The Birds (Os Pássaros, 1963) de Alfred Hitchcock. São também vestígios das vagas promessas do slogan “Make America Great Again”, em que a América profunda vem negar a sua invisibilidade e reclamar a sua perda de estatuto à medida que os poderes dos grupos privilegiados são fortalecidos. Nesta América pós-racial ainda há omissão e exclusão, mas o que mais perturba é o horror da instrumentalização do valor da partilha e do sentido de comunidade, por via de uma inspirada articulação de géneros, em que o terror não é mais que um alter ego da comédia.

Partilhar isto:

  • Twitter
  • Facebook
2010'sAlfred HitchcockBela LugosiCharlie SandersDon SiegelDonald TrumpEvan AlexJordan PeeleLupita NyongMichael JacksonMichael MarshallShahadi Wright JosephSteven SpielbergVictor HalperinWes CravenWinston Duke

Carlos Alberto Carrilho

"I took a couple of papier-mâché rocks from the nearby studio, probably leftovers from some sword and sandal flick, then I put them in the middle of the set and covered the ground with smoke and dry ice, and darkened the background. Then I shifted those two rocks here and there and this way I shot the whole film." Mario Bava

Artigos relacionados

  • Críticas

    “Two for the Road”: manual de ‘recasamento’ em viagem

  • Críticas

    “Lightyear”: o ‘Interstellar’ da Pixar

  • Críticas

    “Un autre monde”: inteligência ou indecência?

2 Comentários

  • “Ayka”: viver acossado nas ruas de Moscovo | À pala de Walsh diz: Abril 3, 2019 em 9:37 am

    […] de na mesma semana em que vimos Ayka, termos visto também o último filme de Jordan Peele, Us (Nós, 2019). O pesadelo que Peele cria em sentido metafórico ganha uma existência real no filme […]

    Inicie a sessão para responder
  • Roberto Blatt diz: Abril 6, 2019 em 5:31 am

    Escrevi uma micro-crítica “mordaz” ao novo filme de Jordan Peele – Us . Leia por sua conta e risco.

    Inicie a sessão para responder
  • Deixe uma resposta

    Tem de iniciar a sessão para publicar um comentário.

    Últimas

    • Vai~e~Vem #44: palíndromo ou espero que te encontres bem

      Junho 28, 2022
    • “Two for the Road”: manual de ‘recasamento’ em viagem

      Junho 28, 2022
    • Seria um filme: “Le Camion”, de Marguerite Duras  

      Junho 27, 2022
    • “Winter Kills”: o Grande Voyeur

      Junho 26, 2022
    • In memoriam: Jean-Louis Trintignant (1930-2022)

      Junho 24, 2022
    • “Lightyear”: o ‘Interstellar’ da Pixar

      Junho 23, 2022
    • “Un autre monde”: inteligência ou indecência?

      Junho 23, 2022
    • Palatorium e comprimidos cinéfilos: Junho

      Junho 22, 2022
    • Tocar a mesma canção

      Junho 22, 2022
    • 10 Anos de À pala de Walsh: ciclo na Cinemateca

      Junho 20, 2022

    • Quem Somos
    • Colaboradores
    • Newsletter

    À Pala de Walsh

    No À pala de Walsh, cometemos a imprudência dos que esculpem sobre teatro e pintam sobre literatura. Escrevemos sobre cinema.

    Críticas a filmes, crónicas, entrevistas e (outras) brincadeiras cinéfilas.

    apaladewalsh@gmail.com

    Últimas

    • Vai~e~Vem #44: palíndromo ou espero que te encontres bem

      Junho 28, 2022
    • “Two for the Road”: manual de ‘recasamento’ em viagem

      Junho 28, 2022
    • Seria um filme: “Le Camion”, de Marguerite Duras  

      Junho 27, 2022
    • “Winter Kills”: o Grande Voyeur

      Junho 26, 2022
    • In memoriam: Jean-Louis Trintignant (1930-2022)

      Junho 24, 2022

    Etiquetas

    2010's Alfred Hitchcock Clint Eastwood François Truffaut Fritz Lang Jean-Luc Godard John Ford João Bénard da Costa Manoel de Oliveira Martin Scorsese Orson Welles Pedro Costa Robert Bresson Roberto Rossellini

    Categorias

    Arquivo

    Pesquisar

    © 2021 À pala de Walsh. Todos os direitos reservados.