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Críticas, Em Sala 0

Mother! (2017) de Darren Aronofsky

De Luís Mendonça · Em Setembro 21, 2017

Estreia-se hoje um filme caseiro de guerrilha, disruptivo e inconformado, que ataca o coração do nosso comodismo tão século XXI. É uma obra que vai à luta, que não tem medo de sujar as mãos e que se apresenta profundamente implicada na realidade que retrata. Visão simultaneamente satírica e horrífica do mundo sentimental. Retrato diabólico de we, the people que nos faz rir e gritar – no seu clímax conseguimos fazer essas duas coisas ao mesmo tempo. Com um riso estampado no rosto, gritamos: socorro! Gritar à gargalhada assim, dando uso à exclamação que Darren Aronofsky colocou no título para assinalar tanto a extensão do gesto – linguagem alegórica de extrema lucidez e bárbara violência – como o alcance deste filme-grito – um vírus áudio/visual que estranha e entranha, não cessando de nos trabalhar por dentro bem para lá das luzes da sala voltarem a acender. Fica já a mensagem neste parágrafo introdutório: apoie o cinema americano, o cinema americano com tomates, e vá ver Mother! (Mãe!, 2017).

Ao contrário do que se tem dito e escrito, não há nada em Mother! que sucumba ao “delírio pelo delírio” ou a um auto-complacente capricho ou exercício de vaidade do seu realizador. Nem tão-pouco quer este filme baralhar as cabeças dos pobres espectadores. Entenda-se: o filme é bárbaro, mas o cinema que o fabrica é de uma acuidade e lucidez notáveis. Portanto, não, este não é um exercício cheio de “pontos de interrogação” ou “what the fucks”, como se tem vendido. O filme está, sim, repleto de pontos de exclamação. São eles que vão pontuando, em crescendo, uma parábola sobre a – não “uma”, mas “a” –  brutal saga doméstica de todos nós, os vivos. Começa, aliás, por ser um muito concreto retrato da sacrossanta instituição social chamada “casa”. A casa como house e como home. E como corpo. Do quê ou de quem propriamente? De uma relação heterossexual branca mais ou menos exemplar: ele, por Javier Bardem, ela, por Jennifer Lawrence. Um casal-modelo habitando uma casa isolada do mundo que, muito especialmente, a doce esposa preserva com todo o amor, pintando ou repintando as paredes, mobilando ou adornando os quartos… Cada divisão é o espelho de um amor cristalino.

O que acontece, no entanto, é que a câmara de Aronofsky entra de rompante pela porta da frente. Não avisa ou pede licença. Simplesmente, entra por ali adentro. E é mal educada. E estilhaça o que era cristalino no amor. O filme começa verdadeiramente aqui, na sua má educação. A saga matura-se em pleno acto de invasão. Invasão da câmara dentro da casa, mas também das pessoas que a vão tomando inopinadamente até ao momento em que a real proprietária já não conseguir dar conta do recado sobre quem está onde, a fazer o quê. E, pergunta inquietante que se agarra à pele, também a nossa de espectadores impreparados para tamanha ousadia: para quê tudo isto? Para quê toda esta… celebração diabólica? O terror, como se sabe, partilha o mesmo campo semântico da palavra território. A administração do terror é, enfim, a administração do território. A câmara de Aronofsky teoriza sobre esta coincidência semântica. Casa (house/home) como corpo, corpo como casa do mais… perfeito amor.

Esta ideia de que estamos sós, entregues aos nossos medos pré-fabricados – pelos media -, ocupa, em pleno, esta fábrica de tudo, este circo terrífico que é a casa de Lawrence e Bardem neste filme de puta madre de Darren Aronofsky.

Desde o início, Mother! fez-me recordar um cartoon. É a história do homem de gengibre na sua casa de gengibre. Ele grita porque não sabe se a casa é feita dele ou se ele é feito da casa. A casa e Jennifer Lawrence têm o mesmo tipo de relação. Por isso, gritamos: socorro! Já viramos em Black Swan (Cisne Negro, 2010) como Aronofsky é capaz de fabricar um terror localizado na carne, mas é aqui que ele filma a sua grande “metamorfose”, a meio caminho entre a carne e a parede, entre o sonho capitalista – a casa como o paraíso de todas as comodidades – e o terror descontrolado da criação – Bardem interpreta um poeta martirizado, que não consegue escrever, que não consegue foder.

O que se passa é que Mother!, dividido em dois grandes blocos, é em si mesmo um filme que se transforma na sua própria pele. O que assinala definitivamente a mudança – de pele, claro – é a entrada em cena de Kristen Wiig. Para os cinéfilos mais atentos, por exemplo, apreciadores das comédias de Paul Feig, a aparição de Wiig é a mensagem mais eloquente sobre o que muda. No primeiro bloco, temos o registo horrífico, de home invasion, devedor de Repulsion (Repulsa, 1965) e The Strangers (Os Estranhos, 2008); o olhar implacável do matrimónio e da maternidade, algures entre Rosemary’s Baby (A Semente do Diabo, 1968) e Possession (Possessão, 1981); um princípio de reflexão sobre o isolamento e a natureza perversa da criação vizinho de Un tranquillo posto di campagna (Um tranquilo lugar na província, 1968); e a desfaçatez extrema que nos mordisca a alma tanto quanto… esse verdadeiro naco de cinema anarquista chamado Killer Joe (2011). No segundo bloco, nomeadamente quando Wiig entra em cena, acresce a mais exclamativa comédia própria de uns Monty Python salpicada pelo body horror de David Cronenberg.

Disparando para todos os lados, o delírio – um delírio audaz, incisivo, controlado, nunca vaidoso e aleatório como se tem bradado – toma conta da casa e transforma-a num circo que faz troça das mais variadas representações de convulsão, de destruição e de guerra que preenchem, em zapping, os ecrãs dos nossos Iphones e televisores. É uma mass mediática orquestração do horror em plena casa familiar – havíamos visto algo assim nos filmes de Kleber Mendonça Filho. Esta casa é a nossa casa, a do filme e a de Jennifer Lawrence – já a percorremos tanto e tão intensamente até aí que, quase por osmose, ela passou a ser parte de nós. É aqui que Mother! se constitui como um cocktail molotov arremessado contra as nossas mais cristalizadas expectativas.

A torrente de situações é de tal ordem que perdemos as nossas coordenadas. Apesar disso, sabemos muito bem onde estamos fisicamente, tal como sabemos perfeitamente que estamos numa saga sem fim, e sem redenção. Mas é só por isso que Mother! grita? Não, até porque a grande revelação está no começo, no começo antes do começo do terror, o que marca a entrada na casa dos “estranhos”. É aí que aparece o tema do acto poético como acto de destruição e renovação. O filme deleita-se com a ideia de fim e, por isso, o fim é o começo e o começo é o fim. Como Lawrence perdida na sua própria casa – desapossada do que é seu.

Lembra-se o leitor de Luis Buñuel e da mensagem escrita no quadro da sala de aula em Las Hurdes (As Hurdes: Terra Sem Pão, 1933), esse documentário que o espanhol filmou e montou como se fosse um filme de horror? “Respetad los tienes ajenos.” Mother! exclama esta lição também. E à sua maneira põe o dedo na ferida, numa parábola política audaz, no que diz respeito às nossas fobias pelo “lugar do outro”, por aquilo que não controlamos e que nos entra em casa, pele adentro. Esta ideia de que estamos sós, entregues aos nossos medos pré-fabricados – pelos media -, podia pertencer a uma fábrica de nada, mas ocupa, em pleno, esta fábrica de tudo, este circo terrífico que é a casa de Lawrence e Bardem neste filme de puta madre de Darren Aronofsky.

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"The great creators, the thinkers, the artists, the scientists, the inventors, stood alone against the men of their time. Every new thought was opposed. Every new invention was denounced. But the men of unborrowed vision went ahead. They fought, they suffered, and they paid - but they won." Howard Roark (Gary Cooper) in The Fountainhead (1949)

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