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À pala de Walsh
Críticas, Em Sala 1

Julieta (2016) de Pedro Almodóvar

De Carlos Natálio · Em Setembro 17, 2016

Em 2001, o realizador Manoel de Oliveira, quase quinze anos antes da sua morte, filmou Michel Picolli em Je rentre à la maison (Vou Para Casa, 2001). Este representava uma espécie de alter ego do autor que percebia, perante a súbita morte da sua família e às custas de uma estranha adaptação de Ulysses de James Joyce, que havia uma mudança (um “regresso”) na sua vida a que tinha de atender. Quinze anos depois do filme de Oliveira, Almodóvar filma em Julieta (Julieta, 2016) o seu “regresso a casa”, também apoiando-se em Ulisses, desta vez a personagem de Homero.

julieta-julieta-2016-de-pedro-almodovar

Importa clarificar o paralelismo. Se “regressar a casa” recorrentemente funciona como moribunda metáfora para morte ou mesmo para marcar um regresso às raízes do seu cinema, o mesmo não se passa aqui. A exausta Julieta (Emma Suárez) é uma personagem habitada/julgada pelo desaparecimento. Vemo-la inicialmente a encaixotar livros e outros pertences para uma “saída de casa”, uma ida planeada de Madrid para Portugal com o seu companheiro Lorenzo (Darío Grandinetti). Nesta “ilha de Calipso” que reconstruiu para si, os livros, os filmes, os quadros (Sakamoto, Duras, Lucien Freud) fazem parte de um muro erguido contra a lembrança da sua desaparecida Penélope. Mas depois de doze anos de ausência, Julieta, ao ouvir falar novamente da sua filha Antía, terá de “regressar a casa”, uma Ítaca imaginária, no qual o presente terá finalmente de encarar os destinos trágicos do passado.

Se tudo isto parece um tanto genérico é precisamente porque Almodóvar não quer afinal filmar a consumação de nenhuma casa específica, nem sequer de um regresso. Julieta, baseado em contos da escritora Alice Munro, é um filme alicerçado, como toda a sua obra, de depuração em depuração, numa poética do desaparecimento. O passado é uma máquina de devorar presenças, as personagens limitam-se a reagir, como podem, à fuga, ao coma, à doença, à traição, à morte dos outros. São todos habitantes-amantes-passageiros dos quais o realizador se limita a  extrair uma imagem da vida como descoincidência e de uma melancolia que, à falta de melhor, tudo liga.

Julieta é um sereno desfiar contra o desespero, feito de caixotes frágeis, de cartas escritas como armas de defesa e percursos narrativos já traçados.

Mas como sabemos nem sempre assim foi. A movida almodovariana dos seus primeiros filmes – aqui evocada nas cores marítimas de uma Julieta jovem e muito pintada (Adriana Ugarte) e de um pescador demasiado belo (Daniel Grao) – foi como que sendo abafada pelos sinais da tragédia. Das comédias passamos aos dramas mas ainda de forte intensidade, de música que explode o sentimento das perdas e dos desencontros. Aqui essa evolução (ia escrever oposição, mas não me parece que seja o caso) é esboçada pelo desdobramento das duas Julietas. A Julieta jovem que se apaixona sobre o signo do desaparecimento misterioso (um velho passageiro que se evapora numa viagem de comboio, numa noite de neves e renas) e de um cenário hitchcockiano, Rebecciano. E a Julieta adulta, aprisionada pelo exílio emocional que as desmesuras do passado lhe trouxeram.

A passagem do tempo mostra Julieta como um filme/personagem que simboliza a descoincidência do cinema em Almodóvar. Um cinema que perdeu os seus fetiches, mas também as suas lágrimas inspiradoras e que se depura a um ponto que recusa qualquer excepcionalidade. As cores fortes de Almodóvar parecem então separar-se da ousadia e afirmar-se por si além do histrionismo das histórias (e quem diz as cores, diz os corpos). Mas também a narrativa parece perder o fulgor das grandes tragédias. Por paradoxal que pareça, talvez por isso Julieta possa afinal habitar finalmente a verdadeira tragédia. E passar, à primeira vista, como o mais banal dos filmes do espanhol, escondendo em si toda uma subtil riqueza. Uma riqueza e profundidade tornadas invisíveis por um extraordinário pensamento sobre a desaparição.

E assim Julieta é um sereno desfiar contra o desespero, feito de caixotes frágeis, de cartas escritas como armas de defesa e percursos narrativos já traçados. Um lento caminhar para casa, uma casa que já nem paredes tem.  Alicerçada apenas naquilo que se sente e cujo rosto e contorno já Julieta não recorda e que Almodóvar esboroou.

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Carlos Natálio

«Keep reminding yourself of the way things are connected, of their relatedness. All things are implicated in one another and in sympathy with each other. This event is the consequence of some other one. Things push and pull on each other, and breathe together, and are one.» Marcus Aurelius

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