• Homepage
    • Quem Somos
    • Colaboradores
  • Dossier
    • Raoul Walsh, Herói Esquecido
    • Os Filhos de Bénard
    • Na Presença dos Palhaços
    • E elas criaram cinema
    • Hollywood Clássica: Outros Heróis
    • Godard, Livro Aberto
    • 5 Sentidos (+ 1)
    • Amizade (com Estado da Arte)
    • Fotograma, Meu Amor
  • Críticas
    • Cinema em Casa
    • Em Sala
    • Noutras Salas
    • Raridades
    • Recuperados
    • Sem Sala
  • Em Foco
    • Divulgação
    • In Memoriam
    • Melhores do Ano
    • Palatorium Walshiano
    • Passatempos
    • Recortes do Cinema
    • Se Confinado Um Espectador
  • Crónicas
    • Filmes nas aulas, filmes nas mãos
    • Nos Confins do Cinema
    • Recordações da casa de Alpendre
    • Se Confinado Um Espectador
    • Week-End
    • Arquivo
      • Civic TV
      • Constelações Fílmicas
      • Contos do Arquivo
      • Ecstasy of Gold
      • Em Série
      • «Entre Parêntesis»
      • Ficheiros Secretos do Cinema Português
      • Filmado Tangente
      • I WISH I HAD SOMEONE ELSE’S FACE
      • O Movimento Perpétuo
      • Raccords do Algoritmo
      • Ramalhetes
      • Retratos de Projecção
      • Simulacros
      • Sometimes I Wish We Were an Eagle
  • Contra-campo
    • Caderneta de Cromos
    • Comprimidos Cinéfilos
    • Conversas à Pala
    • Estados Gerais
    • Filme Falado
    • Filmes Fetiche
    • Sopa de Planos
    • Steal a Still
    • Vai~e~Vem
    • Arquivo
      • Estado da Arte
      • Cadáver Esquisito
      • Actualidades
  • Entrevistas
  • Festivais
    • Córtex
    • Curtas Vila do Conde
    • DocLisboa
    • Doc’s Kingdom
    • FEST
    • Festa do Cinema Chinês
    • FESTin
    • Festival de Cinema Argentino
    • Frames Portuguese Film Festival
    • Harvard na Gulbenkian
    • IndieLisboa
    • LEFFEST
    • MONSTRA
    • MOTELx
    • New Horizons
    • Olhares do Mediterrâneo – Cinema no Feminino
    • Panorama
    • Porto/Post/Doc
    • QueerLisboa
  • Acção!
À pala de Walsh
Contra-campo, Filmes Fetiche 9

Filmes Fetiche: ensaísmo romântico

De Ricardo Vieira Lisboa · Em Setembro 4, 2016

Num belíssimo artigo sobre a pintora Maria Helena Vieira da Silva, de nome Vieira da Silva: a verdade das rotas, Margarida Acciaiuoli afirma que olhar a obra da artista é necessariamente olhar a rota da pintora e da mulher. Mas, mais importante, acrescenta que “o acabamento, a finitude formal e temporal dos seus quadros não é senão provisória (…) porque aí não se encerram caminhos… (…) tanto na arte como na vida, a sede de infinito é a única verdade de todas as rotas”. Obras que não encerram caminhos poderá ser talvez o lema dos Filmes Fetiche que compõe esta nova série que o À pala de Walsh agora inicia (a primeira está aqui) e que preencherá os domingos dos próximos meses. Esta série reflectirá o interesse que o À pala de Walsh vem dedicando à prática dos vídeo-ensaios, incluindo vídeos dos nossos colaboradores, mas também de alguns convidados assim como outros tantos do curso livre O Ensaio Audiovisual e a Crítica de Cinema como Prática Criativa, co-ministrado pelo nosso walshiano Luís Mendonça.

Reflections on Black (1955) de Stan Brakhage

A estética do inacabado não é propriamente moderna (nem pós-moderna), muito pelo contrário, funda-se com o renascimento e vem-se reconvertendo em múltiplas formas artísticas ao longo dos séculos (ainda que paradoxalmente os também os renascentistas abominavam o inacabado e terminavam muitas estátuas incompletas ou lacunares, à cabeça o escultor Cellini). Agustina Bessa-Luís (amiga próxima da pintora) é uma praticante deste estilo non finito e sobre o tema proferiu em 1983 uma conferência intitulada ‘Menina e Moça’ e a Teoria do Inacabado onde afirmou, explorando a homónima novela de Bernardim Ribeiro, que:

“A novela de Bernardim, tal como a obra da Sixtina, não pode ser lida como história moral – é uma tragédia cósmica. Acidentes, diálogos, presenças mudas, tempo e paisagem, tudo está sujeito a uma rotação sem desenlace e que é o discurso do inacabado. (…) Só o que é incompleto aprofunda a noção de nos encontrarmos cativos dentro do próprio acto criador.”

Atente-se que se refiro a pintura de Vieira da Silva e a literatura de Agustina não o faço bem por acaso; sobre a primeira afirmou José Augusto França que as suas obras o remetiam para o “truque cinematográfico” da parede de tijolos destruída cuja imagem projectada exibe a sua reconstrução em movimento contrário, e sobre a segunda Manuel Antunes referiu os processos como a “a repetição e a visão directa e imediata, o método cinematográfico do flashback, e a prospectiva implícita”. Ou seja, muito do que é a obra destas duas mulheres é de influência cinematográfica e portanto não será impensável que muito dos olhares sobre o cinema possam ser também influenciados por elas.

Quero no entanto chamar ainda a atenção para a perspectiva romântica sobre a ruína como foi sublinhada por outros artistas, em particular aqueles do romantismo, como destaca Dominique Païni num artigo intitulado para uma moderna estética das ruínas:

“O gosto e o encantamento poéticos pelas ruínas são, por excelência, predisposições românticas. Entre os poetas podemos considerar Baudelaire o primeiro crítico e teórico da arte a admitir, a ‘confessar’, o seu interesse — segundo ele próprio disse por ocasião do Salão de 1859 — pela exposição do mutilado. De Winckelmann — o belo ideal na perfeição do fragmento — até Rilke comentador de Rodin, o incompleto, o fragmento, o mutilado não deixaram de ter uma presença crescente nos museus, no imaginário dos artistas e na teoria da arte.”

Se de facto o non finito e as ruínas que referi até agora são-no de facto, isto é, estilo formalista e obras em decadência, quero propor, como mote para esta série de Filmes Fetiche a ideia do espectador de cinema como aquele que se encontra com o filme em modo non finito e para o qual a experiência do cinema é sempre uma ruína amorosa, um amontoado de imagens perdidas, emoções devassadas e memórias esquecidas. O conceito de cena imaginada como vêm descrevendo e ensaiando Adrian Martin e Cristina Álvaréz López é um que me interessa reconhecer como propósito subliminar (e inconsciente, diria mesmo) que perpassa a prática do vídeo-ensaio e, como tal, dos Filmes Fetiche que esta série apresenta.

The Woman in Black (2012) de James Watkins

Mas não só a dupla de vídeo-ensaístas considerou este conceito, Catherine Grant escreveu algo semelhante num artigo recente para a revista Aniki, onde refere o desejo de “bring my version of that ‘hidden film’ into audiovisual existence”. Nesse mesmo artigo refere os processos reconstrutivos e criativos do espectador descritos por Paul Sutton como aquele que recria o filme de que se recorda.

Aliás, Grant, juntamente com Christian Keathley, no artigo The Use of an Illusion: Childhood Cinephilia, Object Relations, and Videographic Film Studies promove um olhar sobre o gesto vídeo-ensaístico como uma manifestação do fenómeno transicional descrito por Winniccot na relação conflituosa e em constante complementaridade entre a realidade concreta e a realidade fantástica de uma criança enquanto brinca — o fenómeno descreve os momentos de relação intermédia entre o real recebido e o real construído pelo próprio —, prolongando a descrição do fenómeno além da cinefilia para a manipulação efectiva/afectiva do objecto fílmico. Assim, o vídeo-ensaísta será um espectador motivado pela relação incestuosa entre a concretude do material fílmico que corta, remonta, manipula e cola (como a criança que arranha, maltrata e arranca os olhos do seu boneco) e que ao mesmo tempo se deixa seduzir pelos encantos mágicos daquilo que o filme lhe oferece (é o boneco que acompanha as sestas, que toma chá e biscoitos no jardim, que ouve os mais profundos segredos infantis), formando uma ponte entre a análise teórica e a biográfica, entre o geral do filme e o particular do espectador.

O poder “mágico” da associação livre, inconsciente, psicanalítica, onírica é assumidamente um dos motores do trabalho de qualquer vídeo-ensaísta, em conjunto com a relação emocional com os filmes, que os faz privilegiar certos momentos ou cenas em detrimento doutras que acabam rapidamente esquecidas. Assim, a cena tanto pode ser imaginária, como vindo de um filme feito de memórias e cruzamentos associativos, como pode igualmente resultar da relação do espectador com o filme e formar-se no intervalo entre os dois.

Estou em crer que a potência criativa das cenas imaginadas no acto vídeo-ensaístico passa exactamente por ser um espaço ideal para cruzar personagens, universos, géneros, estilos, correntes e que mais, e num acto heteróclito criar momentos simultaneamente narrativos (mais ou menos líricos) e analíticos, simultaneamente conscientes da história das imagens que remisturam e embebidos na noção individual do espectador na sua relação directa com os fragmentos. Um território meta-cinematográifico entre a teoria e a cinefilía, entre o consciente e o inconsciente.

Keshigomu (The Eraser, 1977) de Shûji Terayama

Partilhar isto:

  • Twitter
  • Facebook
Adrian MartinAgustina Bessa-LuísBernardim RibeiroCatherine GrantChristian KeathleyCristina Álvaréz LópezDominique PaïniJosé Augusto FrançaManuel AntunesMargarida AcciaiuoliMaria Helena Vieira da Silva

Ricardo Vieira Lisboa

O cinema é um milagre e como diz João César Monteiro às longas pernas de Alexandra Lencastre em Conserva Acabada (1999), "Levanta-te e caminha!"

Artigos relacionados

  • Contra-campo

    Vai~e~Vem #30: o que pode o retrato

  • Contra-campo

    Steal a Still #38: Luís Miguel Oliveira

  • Caderneta de Cromos

    Caderneta de Cromos #9: Joana Gusmão

9 Comentários

  • Vídeo-ensaio #1: Volleyball Holiday | À pala de Walsh diz: Setembro 4, 2016 em 7:54 pm

    […] Introdução à Segunda Temporada dos Filmes Fetiche […]

    Inicie a sessão para responder
  • Vídeo-ensaio #2: Sorry For Smoking | À pala de Walsh diz: Setembro 11, 2016 em 8:35 pm

    […] Introdução à Segunda Temporada dos Filmes Fetiche […]

    Inicie a sessão para responder
  • Vídeo-ensaio #4: Haunting Symptoms, do subtexto ao texto | À pala de Walsh diz: Setembro 18, 2016 em 6:10 pm

    […] Introdução à Segunda Temporada dos Filmes Fetiche […]

    Inicie a sessão para responder
  • Vídeo-ensaio #3: O Filme enquanto Filme | À pala de Walsh diz: Setembro 18, 2016 em 10:58 pm

    […] Introdução à Segunda Temporada dos Filmes Fetiche […]

    Inicie a sessão para responder
  • Vídeo-ensaio #5: Polo Norte | À pala de Walsh diz: Outubro 2, 2016 em 7:18 pm

    […] Introdução à Segunda Temporada dos Filmes Fetiche […]

    Inicie a sessão para responder
  • Vídeo-ensaio #6: O que deseja ele? | À pala de Walsh diz: Outubro 11, 2016 em 5:20 pm

    […] Introdução à Segunda Temporada dos Filmes Fetiche […]

    Inicie a sessão para responder
  • Vídeo-ensaio #7: Editing issues | À pala de Walsh diz: Outubro 22, 2016 em 4:19 pm

    […] Introdução à Segunda Temporada dos Filmes Fetiche […]

    Inicie a sessão para responder
  • Vídeo-ensaio #8: Just another film about Arquitectura | À pala de Walsh diz: Outubro 23, 2016 em 8:56 pm

    […] Introdução à Segunda Temporada dos Filmes Fetiche […]

    Inicie a sessão para responder
  • Vídeo-ensaio #9: The (Im)Perfect Human | À pala de Walsh diz: Outubro 30, 2016 em 8:45 pm

    […] Introdução à Segunda Temporada dos Filmes Fetiche […]

    Inicie a sessão para responder
  • Deixe uma resposta Cancelar resposta

    Tem de iniciar a sessão para publicar um comentário.

    Últimas

    • Esta é uma história sobre o amor e a mudança de direcção

      Março 4, 2021
    • “Cosmopolis”: padrão-ratazana

      Março 3, 2021
    • A vingança do “Video Home System”

      Março 2, 2021
    • “The Other”: ali, à janela

      Março 1, 2021
    • Maureen O’Hara e John Wayne, disputas conjugais – parte III: The Wings of Eagles

      Fevereiro 28, 2021
    • Amigos e comparsas na nouvelle vague

      Fevereiro 25, 2021
    • In memoriam: Jean-Claude Carrière (1931-2021)

      Fevereiro 24, 2021
    • A piscina da vizinha é o cinema da minha

      Fevereiro 23, 2021
    • “Mulher na Praia”: a maleita das imagens

      Fevereiro 22, 2021
    • Três passos numa floresta de alegorias

      Fevereiro 21, 2021

    Goste de nós no Facebook

    • Quem Somos
    • Colaboradores
    • Newsletter

    À Pala de Walsh

    No À pala de Walsh, cometemos a imprudência dos que esculpem sobre teatro e pintam sobre literatura. Escrevemos sobre cinema.

    Críticas a filmes, crónicas, entrevistas e (outras) brincadeiras cinéfilas.

    apaladewalsh@gmail.com

    Últimas

    • Esta é uma história sobre o amor e a mudança de direcção

      Março 4, 2021
    • “Cosmopolis”: padrão-ratazana

      Março 3, 2021
    • A vingança do “Video Home System”

      Março 2, 2021
    • “The Other”: ali, à janela

      Março 1, 2021
    • Maureen O’Hara e John Wayne, disputas conjugais – parte III: The Wings of Eagles

      Fevereiro 28, 2021

    Etiquetas

    2010's Alfred Hitchcock Clint Eastwood François Truffaut Fritz Lang Jean-Luc Godard John Ford João César Monteiro Manoel de Oliveira Martin Scorsese Orson Welles Pedro Costa Robert Bresson Roberto Rossellini

    Categorias

    Arquivo

    Pesquisar

    © 2020 À pala de Walsh. Todos os direitos reservados.