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The Glass Menagerie (1987) de Paul Newman

De Luís Mendonça · Em Maio 29, 2016

Falar do Paul Newman realizador é falar obrigatoriamente de Joanne Woodward. É na cadeira de director que Newman transforma um dos casamentos mais bem sucedidos na história de Hollywood numa parceria brilhante que compreende um total de cinco filmes. Começa com a obra de estreia de Newman enquanto realizador, o portentoso Rachel, Rachel (Raquel, Raquel, 1968), e atinge o seu ponto culminante com a sua obra-prima máxima, recentemente editada pela Alambique em Portugal, naquele que é um dos lançamentos em DVD do ano: The Effect of Gamma Rays on Man-in-the-Moon Marigolds (A Influência dos Raios Gama no Comportamento das Margaridas, 1972). Newman e Woodward reencontram-se no drama familiar Harry & Son (O Confronto, 1984), a única vez nestes filmes em que funcionam como um casal enamorado, ainda que, fatalmente, o seu amor não se chegue a cumprir totalmente. Aqui, como no telefilme The Shadow Box (1980) e em The Glass Menagerie (Algemas de Cristal, 1987), Woodward aparece assistida por um conjunto sólido de personagens. As personagens de Woodward sob a direcção de Newman têm em comum a solidão – ou melhor, são atravessadas por um disfuncional sentimento de isolamento – e são caracterizadas por um traço alienante, que as torna pouco capazes de comunicar com o mundo à sua volta.

É interessante ver como, no espaço de 19 anos, a obra do Newman realizador nasce, atinge a sua maturidade dramática e estilística e depois se cristaliza numa imagem, apenas numa imagem, em The Glass Menagerie: a de um unicórnio em vidro que perdeu um corno depois de cair ao chão. A causa do acidente: uma mulher que nunca foi amada – resultado do complexo provocado pela sua perna manca? – dança com um homem que encontra na sua timidez “old fashion”, e translúcida, uma beleza comovente. Os dois giram ao som de uma valsa tocada à distância, num prédio vizinho. O inebriamento do momento rouba-lhes as noções de tempo e de espaço. Quando se preparavam para girar mais uma vez, ele choca contra a mesa onde pousava o pequeno e frágil unicórnio em vidro, que, em resultado do embate, cai no chão e perde o corno. Agora ele já não é diferente. Pode-se juntar aos cavalos que não são “especiais” como ele. É o que acontece com Laura, uma interpretação de partir o coração por Karen Allen. Ela sente-se diferente das outras pessoas e acaba por se comportar em conformidade até ao momento em que decide enfrentar a sua timidez e aceita dançar a valsa pela primeira vez na sua vida.

As inseguranças de Woodward incarnando a protagonista de Rachel, Rachel parecem repercutir neste último filme mais em Laura que na personagem que a mesma actriz interpreta em The Glass Menagerie, Amanda, a matriarca desta família composta pela quebradiça coleccionadora de animaizinhos de vidro e pelo inconformado Tom (outra interpretação fulgurante, desta feita, por John Malkovich). Rachel e Laura partilham este medo profundo de se darem ao mundo. Ao mesmo tempo, preservam uma ingenuidade – uma pureza, pode-se dizer – que é bela, mas que também as sujeita a uma vulnerabilidade perigosa num mundo cheio de cavalos e com tão poucos unicórnios. A delicadeza destas personagens femininas é correspondida pela realização de Newman, sempre remetida a um lugar de sóbrio respeito pela vida (interior/exterior) das suas personagens.

 Há sempre um ângulo qualquer mediante o qual a câmara de Newman humaniza as suas personagens. 

The Glass Menagerie é a adaptação de uma peça de Tennessee Williams, ele que marcou a carreira do Newman actor, nomeadamente nos dois magníficos filmes de chambre realizados por Richard Brooks que traduzem em imagens dois textos magníficos do dramaturgo norte-americano, Cat on a Hot Tin Roof (Gata em Telhado de Zinco Quente, 1958) e Sweet Bird of Youth (Corações na Penumbra, 1962). A própria Woodward havia participado numa excelente adaptação ao cinema de uma peça de Tennessee Williams. Falo desse pungente filme de Sidney Lumet, protagonizado por Marlon Brando e Anna Magnani, chamado The Fugitive Kind (O Homem na Pele da Serpente, 1960). Por estes motivos, no que diz respeito ao texto propriamente dito, Newman e Woodward estão em casa. A mise en scène reflecte este à-vontade, na medida em que nunca ultrapassa, um milímetro que seja, a sua função de servir a coabitação dos seus três protagonistas, a quem se juntará uma quarta presença que irá trazer a mudança metaforizada pelo acidente com o unicórnio de vidro, das poucas coisas na vida que fazem brilhar os olhos da doce e só Laura.

Esta colecção translúcida e cintilante de animais quebradiços coloca em abismo o que se joga no palco desta casa em lenta ebulição. A mãe azucrina a cabeça do filho, porque este não cuida da irmã como deve ser; porque este está sempre a sair à noite, procurando aventuras no cinema que o fazem esquecer da sua entediante vida como trabalhador num armazém; porque ele está cada vez mais parecido com o seu pai, o grande ausente nesta história que, por causa do alcoolismo – o flagelo, mas desta feita “de mãe”, de Woodward em The Effect of Gamma Rays… -, é parcialmente responsável pela disfunção que aflige esta família. Tom precisa de se libertar desta vida – romper de vez com o cordão umbilical -, mas também não sabe como, nem quando. A vinda do seu amigo Jim O’Connor, para um jantar caseiro que tem como objectivo encontrar o par certo para a sua irmã, será o momento em que tudo estilhaça. A peça de vidro e a resistência de Tom às queixas e reparos da sua mãe.

Woodward parece uma versão antiética da mãe desleixada que interpretou em The Effect of Gamma Rays…. O seu excesso de preocupação e proteccionismo sufocam o espaço dramático do filme. A sua ânsia em impor uma ideia de felicidade a cada um dos filhos torna perto de irrespirável o ambiente geral que se vive naquela casa. Mas há uma atenuante: afinal, essa é uma ânsia de uma mãe sofredora. Há sempre um ângulo mediante o qual a câmara de Newman humaniza as suas personagens. The Glass Menagerie é um filme triste, mas serenamente triste. Ao passo que os primeiros filmes de Newman – onde se conta também Sometimes a Great Notion (Os Indomáveis, 1970), o único dos seus filmes sem Woodward e, talvez, o mais duramente masculino –  são convulsos e, por vezes, abismais. Aqui nada se resolve, nada se conserta completamente, nem mesmo o corno do unicórnio, ainda assim, a peripécia do jantar abre uma brecha por onde passa um pequeno fio de luz. Nada ficará na mesma, o que já é alguma coisa. É preciso que algo se parta para haver alguém que repare – no duplo sentido da palavra. O menagerie familiar revela-se assim um espaço de uma raríssima e, portanto, preciosíssima beleza humana. Não haja dúvidas: urge redescobrir Paul Newman, o realizador.

O À pala de Walsh vai sortear um DVD da obra-prima The Effect of Gamma Rays on Man-in-the-Moon Marigolds. Uma cortesia da Alambique Filmes. Esteja atento. 

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Luís Mendonça

"The great creators, the thinkers, the artists, the scientists, the inventors, stood alone against the men of their time. Every new thought was opposed. Every new invention was denounced. But the men of unborrowed vision went ahead. They fought, they suffered, and they paid - but they won." Howard Roark (Gary Cooper) in The Fountainhead (1949)

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