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Retrato de família

De Tiago Ribeiro · Em Março 4, 2015

Numa das várias sequências antológicas de Caro Diario (Querido Diário, 1993), Moretti vai ao cinema. Na tela, um tipo esborracha uma televisão na cabeça de um outro, até ficar bem atarrachada. Sons estridentes como banda sonora. Contracampo de Nanni: inquieto, incrédulo, irrequieto. A saída do cinema processa-se como se de um enterro se tratasse, até se sentando num banco como se o mundo lhe tivesse caído em cima. Nanni, em voz-off, começa a narrar o que um crítico escreveu sobre o filme, um emaranhado de algaraviadas a rebentar de “análise sociológica” que é grande comédia. Um ou dois minutos depois já está Moretti junto ao leito do dito crítico, lendo-lhe algumas das coisas que foi escrevendo ao longo dos anos, desde o “pus pus underground” de Naked Lunch (O Festim Nu, 1991) aos devaneios sobre Wild at Heart (Um Coração Selvagem, 1990). O crítico chora, mal aguentando ouvir por outrém a tonelada de entulho que foi expelindo ao longo dos tempos.

Henry: Portrait of a Serial Killer (Henry: A Sombra de um Assassino, 1986) de John McNaughton

É natural que o realizador italiano tenha odiado Henry: Portrait of a Serial Killer (Henry: A Sombra de um Assassino, 1986). Moretti é um homem de bom gosto, sensível, um ser humano amigo do ser humano, e ver tanta violência, tanta corrupção da alma apenas lhe poderia provocar asco. Yes, sir: Henry: Portrait of a Serial Killer é uma obra que será melhor degustada por gente troglodita, de valores morais pouco seguros, gente para quem a afirmação “o travelling é uma questão de moral” é uma mera frase que bem poderia estar presente num pacote de leite.

Por falar em travellings: o filme começa com zooms sobre o corpo de três mulheres (que é uma e a mesmíssima actriz) acabada de entregar a alma ao criador. A colocação dos corpos, a nudez, o seu espectro de pose cuidadosamente estudado, poderia passar por mais uma qualquer instalação artística deste século XXI. São enquadramentos absolutamente gratuitos, chocantes porque sim, e já estamos a imaginar o Rivette a ver isto, indignado, a ir à campa do Pontecorvo com um ramo de flores, a pedir-lhe desculpa, e depois a agarrar num pau de marmeleiro (como diria o Manuel Machado) e a ir atrás do John McNaughton.

McNaughton que é coerente na relação que estabelece entre o que é o filme e os seus valores de produção. Para uma produção de vinte dinheiros, em que o actor principal [Michael Rooker, que vimos pela última vez no inane Guardians of the Galaxy (Os Guardiões da Galáxia, 2014] vestiu os seus próprios trapos, com uma fotografia de filme sub-amador, a devida correspondência: personagens porcas, situações feias, e valores inexistentes, onde a única réstea de pureza irá parar debaixo de um tapete. Henry é analfabeto, estúpido, e incapaz de se relacionar com o sexo oposto, matéria que faria mestre Freud dar pulos de contentamento. As suas limitações são apresentadas da forma mais directa possível. Ou seja, o contraponto daquilo que tem sido o assassino em série pós-Se7en (Sete Pecados Mortais, 1995): culto, inteligente, por vezes rico, misterioso, quase místico, glamourização que faria mestre Jesus Cristo voltar à terra com não um, mas cinquenta machados em cada braço. Gostava de saber onde vai o Kevin Spacey/John Doe buscar o dinheiro.

Todos estes propósitos de violência sem sentido, de mero escape para homens desprovidos de qualquer relação com a vida, está presente numa sequência nocturna onde o programa é dizimar alguém. É uma pequena digressão de road-movie pelas estradas  de uma Chicago que também ela parece despovoada, inerte. A música, em lentas cadências electrónicas entrecortadas com súbitas explosões sonoras, antevê o desastre. Segue-se algo que faria, claro está, Rivette chorar, comprar um ramo de flores, colocá-lo no túmulo do Pontecorvo, pedir-lhe desculpa, e voltar a ir atrás do McNaughton, desta vez com um pé-de-cabra.

Henry: Portrait of a Serial Killer é o principal cartão de visita deste gajo, que por fora ou no interior do mainstream, andou sempre a flirtar com o exploitation. Um dos seus filmes tem como título Girls in Prison (1994), que é auto-explicativo (e com argumento, pasme-se, do Samuel Fuller). Em 1993, não se sabe bem como, atingiu a glória do reconhecimento com Mad Dog and Glory (Uma Mulher entre Dois Homens, 1993), que os Cahiers du Cinéma incluiram no seu top ten anual. A última vez que demos por ele foi já no distante ano de 1998, quando fez uma irrisão de filme negro cheia de sexo e reviravoltas intitulada Wild Things (Ligações Selvagens, 1998). Deve ter levado com algum pau de marmeleiro ou pé-de-cabra. Agora, escutai o que Moretti tem a dizer sobre todas estas palavras acima:

Ecco, penso, ma chi scrive queste cose non è che la sera, magari prima di addormentarsi, ha un momento di rimorso? 

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Gillo PontecorvoJacques RivetteJohn McNaughtonMichael RookerNanni MorettiSamuel Fuller

Tiago Ribeiro

Em Dezembro de 1963, Jean-Luc Godard, sentado numa esplanada em Saint-Germain-des-Prés, proferiu o seguinte: "estou sentado numa cadeira numa esplanada e o cinema faz este mês sessenta e oito anos". Um "jeu de mot" polémico (como sempre, no mestre) mas que em retrospectiva nos parece de uma clarividência singular.

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