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Sommaren med Monika (1953) de Ingmar Bergman
Críticas, Noutras Salas 0

Sommaren med Monika (1953) de Ingmar Bergman

De João Araújo · Em Fevereiro 25, 2015

Não admira que Sommaren med Monika (Mónica e o Desejo, 1953) seja referenciado como uma das influências da nouvelle vague, tal é a forma como se assemelha a um percursor desse movimento. De espírito rebelde e agitador, procura uma perspectiva nova para contar a sua história, num filme sobre o inconformismo e a transgressão contra o status quo, que acaba por estilhaçar sem misericórdia os sonhos das suas personagens. Uma história de uma fuga filmada de forma realista, é uma fuga etérea, impossível de sustentar com a realidade. É também um filme sobre um realizador apaixonado pela sua actriz (Harriet Andersson), que aqui confunde-se com a personagem (Monika), e uma carta de amor de Bergman ao cinema.

Sommaren med Monika (Mónica e o Desejo, 1953) de Ingmar Bergman

Logo na primeira cena de Sommaren med Monika, um rapaz é abordado por uma rapariga num café, que lhe diz: “Vamos fugir daqui e nunca mais voltar. Vamos ver o mundo inteiro”, repto que aceita de imediato. Ele é Harry, moço bem comportado e trabalhador esforçado, mesmo que distraído, que herdou a timidez de uma casa partilhada com um pai em luto silencioso. Ela é Monika, arisca quanto baste, atiradiça e de modos rudes, encantadora e desafiante, com a cabeça nas nuvens. Tanto a proposta dela como a resposta dele são uma provocação, uma brincadeira sobre um ímpeto irrealizável, um jogo em que os dois fingem que esse impulso é mais que um sonho. Mas antes de ela abandonar o café, combinam um encontro num cinema, portal para um outro mundo sonhado. Após esse primeiro encontro, aproximam-se aos poucos, mas as duras condições de vida de cada um acabam por sabotar uma ideia de fuga, ou melhor, acabam por empurra-los para essa hipótese.

Bergman começa por sublinhar a condição agreste do quotidiano destas personagens, filmando de forma realista a sua situação de jovens pobres a tentarem sobreviver numa sociedade que os tenta controlar, com atenção detalhada às lutas do dia-a-dia. Numa cena, vemos Harry no seu emprego, onde é acossado permanentemente pelos seus superiores, num armazém que se assemelha a um pesadelo kafkiano com as suas encomendas e facturas, filmado com composições apertadas e ângulos de câmara inclinados para insinuar um meio opressor. Monika tem ainda menos sorte e, se no trabalho é constantemente perturbada e agarrada por homens que acham que é isso que ela procura, em casa as paredes de um minúsculo apartamento mal contêm a cacofonia de uma mãe carrancuda, dois irrequietos irmãos infantes, e um pai bêbedo e violento que a agride.

Se Bergman aplica um estilo realista ao primeiro acto do filme, mesmo que diferente dos parâmetros do neo-realismo italiano que despontava em paralelo, por certos apontamentos melodramáticos, com a introdução do segundo acto do filme, muda de registo. Incapazes de viver o seu romance de sonho naqueles arredores familiares que não os entendem, Monika e Harry pegam num barco e fogem para uma ilha, sem olhar para trás. Será aqui que o filme se transfigura numa história de amor adolescente, esquecendo o cinismo anterior, e dedicando-se apenas ao romance entre os dois. Através de pequenos episódios que retratam a vida na ilha, as preocupações dão lugar ao hedonismo imediato, e o realismo dá lugar a um lirismo de afectos e erotismo cúmplice. É aqui que se torna mais evidente a perdição de Bergman por Harriet Andersson, musa tornada em objecto de desejo tornada provocação, filmada em trajes menores ou a trocar de roupa, e que passeia a sua sensualidade pelas composições icónicas de Bergman, como tentação exuberante. Bergman e Andersson acabariam por envolver-se sentimentalmente por um breve período de tempo, mas a sua relação profissional alongar-se-ia por vários anos, como nos filmes Såsom i en spegel (Em Busca da Verdade, 1961), Viskningar och rop (Lágrimas e Suspiros, 1972) ou Fanny och Alexander (Fanny e Alexandre, 1982).

Não raras vezes Bergman filma os dois amantes de longe, reforçando a sua solidão num contraste com os elementos naturais que os rodeiam, como numa cena em que dois fogem de um baile para se refugiarem num cais abandonado, onde dançam até ao nascer do sol. Este lirismo onírico é temporário, e essa efemeridade é sinalizada por Bergman num dissolve que sobrepõe as chamas de uma fogueira sobre o rosto das duas personagens. Aos poucos, o feitiço daquele verão parece quebrar-se e, com a impossibilidade de sustentar esta fuga e o acumular de problemas e tensões entre Harry e Monika, o regresso torna-se inevitável.

O regresso à cidade marca também o regresso à estética realista. Repare-se no contraste entre as duas sequências que delimitam este segundo acto, uma viagem de barco que acompanha a saída/entrada através do rio que leva à cidade, visualmente semelhantes mas de espírito distinto. Se da primeira vez a viagem representa o início da fuga, de esperança na proa, com o chilrear de pássaros à medida que a cidade fica para trás, da segunda vez o regresso parece quase uma declaração de guerra, de derrota iminente. Depois do lirismo, Bergman volta ao realismo, para ilustrar as dificuldades da vida a dois na sociedade que tinham renegado, e esse regresso parece ainda mais negro, pela oposição às cenas de felicidade anterior na ilha. Com o afunilar do romance entre Harry e Monika, e os caminhos divergentes de cada um, o desenlace parece pouco esperançoso. Mas é perto do fim que aparece uma nova dimensão no filme, que até aí só tinha sido evocada nas margens, depois do realismo/lirismo/realismo: é o próprio cinema. Além do primeiro encontro no cinema, Monika faz várias referências ao cinema durante o filme, comentando como a sua vida é tão diferente dos filmes que vê. A própria fuga ensaiada é inspirada nas histórias que vê na tela, que imagina alongarem-se à própria vida, como quando se olha demoradamente ao espelho, imaginando o próprio reflexo como uma imagem num filme. Perto do fim, depois de uma discussão com Harry, Monika entra num café, como na cena inicial, e aqui acontece o plano mais extraordinário e surpreendente: a câmara aproxima-se de Monika, com o rosto iluminado na escuridão, e esta olha directamente para nós, quebrando assim a ilusão de realidade, como se nesse momento Monika se transformasse na estrela de cinema que tanto desejava, apoderando-se do filme como seu objecto, e desafiando o espectador com o seu olhar.

Sommaren med Monika será exibido dia 26 de Fevereiro pelo Cineclube de Joane, no Pequeno Auditório da Casa das Artes de V. N. de Famalicão.

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1950'sHarriet AnderssonIngmar Bergman

João Araújo

"I don't think the film has a grammar. I don't think film has but one form. If a good film results, then that film has created its own grammar" Yasujiro Ozu in "Ozu and The Poetics of Cinema", David Bordwell

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