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Festivais, Harvard na Gulbenkian 0

Ariel (1988) de Aki Kaurismäki

De Tiago Ribeiro · Em Janeiro 20, 2015

Um alien que desembarcasse neste nosso planeta e que ao fim de alguns dias decidisse informar-se sobre um país chamado Finlândia através dos filmes de um senhor chamado Kaurismäki, ficaria a saber o seguinte: país de pilha-galinhas, desenrascas, escroques, sistema prisional caduco, precariedade laboral, ausência quase total de “novas tecnologias” (a maior ironia de todas…), país de jukeboxes em cada quintal, bailaricos em cada esquina, de pastas de dentes a servirem de gel para o cabelo, de bancos que parecem uma versão de betão dos velhos “edifícios financeiros” do oeste americano, restaurantes semi-vazios, vagabundagem, e de uma solidariedade interpessoal nos limites do “estou-me nas tintas, antes assim que assado”. O extraterrestre poderia começar por Ariel (1988).

Ariel (1988) de Aki Kaurismäki

Ariel é a quinta longa-metragem de Aki Kaurismäki e o segundo capítulo da sua “trilogia do proletariado”, após Varjoja paratiisissa (Sombras no Paraíso, 1986), e precedendo a obra-de-todas-as-primas Tulitikkutehtaan tytto (A Rapariga da Fábrica de Fósforos, 1990). Duas observações: 1) demorei à volta de um minuto e meio para escrever cada um dos títulos originais dos filmes em questão e 2) de que o Kaurismäki ter uma “trilogia do proletariado” tem tanto sentido como o Ford ter fabricado a sua própria “trilogia do Western”, ou, para citar alguém muito querido ao finlandês-portista, o Ozu ter dirigido a sua sinfonia de “três filmes sobre a família”. Em retrospectiva, e em conformidade com o espírito do cineasta, a designação “trilogia do proletariado” parece-nos de ironia premente; estamos convencidos de que se Aki fizer um filme sobre um banqueiro suiço, também esse filme será proletário.

“O melhor é afogar-me”, canta alguém em Ariel, resignação total face às desgraças da vida. É uma achega que tipifica as situações-limite das personagens no mundo de Kaurismäki, mas que simultaneamente é desmentida por elas mesmas. A sua perseverança e obstinação jamais as levará a tal destino, isso é bom é para losers. Em Ariel, Taisto (Turo Pajala) começa por perder o emprego numa mina no interior finlandês para pouco depois, mal acabado de chegar à capital, levar com uma mocada nos cornos e assim dizer adeus a todos os seus escassos dinheiros para uma dupla de meliantes que parece ter acabado de vir de um concerto dos Ramones (episódio a que Aki voltaria alguns anos depois, em – mais minuto e meio…- Mies vailla menneissyytta (O Homem sem Passado, 2002)). Resultado: há que ir ganhar a vida.

A partir deste ponto Ariel começa a desenvolver o seu esboço de filme negro por entre as paisagens industriais-proletárias-pobretanas de Hensílquia (nada de “modernidade”). Uma mulher (Susanna Haavisto) chega-se à frente, e com ela traz um filho já imbuído da sagacidade anti-conformista kaurismäkiana. Mais pedregulhos no caminho de Taisto, que o acabarão por levar à prisão, onde travará conhecimento com Mikkonen (Matti Pellonpaa, um dos peso-pesados do realizador nórdico), homem que, segundo as suas palavras,” sempre ali esteve”. Uma série de estratagemas levarão os dois cúmplices até a um assalto que terá tanto de destrambelhamento como de eficiência, e só o modo como o fora-de-campo é encenado nesta cena já bastaria para tornar este filme em algo digno de louvor.

Como sempre em Aki, o importante são as coisas pequenas, os pormenores, como aquele de todos os funcionários atrás de um balcão (de um restaurante, café, banco, pousada) estarem sempre com a pose rígida de quem está à espera de porra nenhuma. “Tenho um pacote para si”, diz um recepcionista de qualquer espelunca a Susanna, pouco antes de agarrar no seu filho e de o entregar. Acções e gestos feitos com uma simplicidade e limpidez elas próprias devedoras da simplicidade e clareza da narrativa, jamais escrava de “temas” e de “vamos mostrar os não-privilegiados da sociedade, coitadinhos”; quando muito, Ariel é algo sobre Cadillacs (parece-me a mim que é um…), óculos escuros, maços de cigarros e sobretudos perdidos no lixo. Abaixo a auto-comiseração, viva a iconografia vintage norte-americana.

E, last but not the least, uma obra sobre os prazeres que poderão acontecer na vida. Como quando Taisto dá boleia aos seus companheiros sem-abrigo no seu carro de capota aberta em direcção à pousada em que todos se abrigam das noites veraneantes da capital finlandesa. Ou ainda quando todos eles, na mesma pousada, estão submersos na narrativa que vai sucedendo numa pindérica televisão. Alguns segundos chegam para identificarmos o que os tanto fascina: High Sierra (O Último Refúgio, 1941). Ao contrário do Bogart nesse filme, a inexorabilidade do destino terá outros planos para Taisto, em mais um momento “amanhã é outro dia” tão específico do cineasta. Logo veremos como tudo acabará.

Ariel é projectado no próximo sábado (23 de Janeiro), às 15:30, na sala multiusos do Centro de Arte Moderna da Fundação Calouste Gulbenkian, no âmbito do décimo segundo programa Harvard na Gulbenkian. A acompanhar o filme de Kaurismäki, passa A Caça (1964) de Manoel de Oliveira. O À pala de Walsh oferecerá bilhetes para a sessão na sua página do Facebook.

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1980'sAki KaurismäkiHumphrey BogartJohn FordYasujiro Ozu

Tiago Ribeiro

Em Dezembro de 1963, Jean-Luc Godard, sentado numa esplanada em Saint-Germain-des-Prés, proferiu o seguinte: "estou sentado numa cadeira numa esplanada e o cinema faz este mês sessenta e oito anos". Um "jeu de mot" polémico (como sempre, no mestre) mas que em retrospectiva nos parece de uma clarividência singular.

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