• Homepage
    • Quem Somos
    • Colaboradores
  • Dossier
    • Raoul Walsh, Herói Esquecido
    • Os Filhos de Bénard
    • Na Presença dos Palhaços
    • E elas criaram cinema
    • Hollywood Clássica: Outros Heróis
    • Godard, Livro Aberto
    • 5 Sentidos (+ 1)
    • Amizade (com Estado da Arte)
    • Fotograma, Meu Amor
  • Críticas
    • Cinema em Casa
    • Em Sala
    • Noutras Salas
    • Raridades
    • Recuperados
    • Sem Sala
  • Em Foco
    • Divulgação
    • In Memoriam
    • Melhores do Ano
    • Palatorium Walshiano
    • Passatempos
    • Recortes do Cinema
    • Se Confinado Um Espectador
  • Crónicas
    • Filmes nas aulas, filmes nas mãos
    • Nos Confins do Cinema
    • Recordações da casa de Alpendre
    • Se Confinado Um Espectador
    • Week-End
    • Arquivo
      • Civic TV
      • Constelações Fílmicas
      • Contos do Arquivo
      • Ecstasy of Gold
      • Em Série
      • «Entre Parêntesis»
      • Ficheiros Secretos do Cinema Português
      • Filmado Tangente
      • I WISH I HAD SOMEONE ELSE’S FACE
      • O Movimento Perpétuo
      • Raccords do Algoritmo
      • Ramalhetes
      • Retratos de Projecção
      • Simulacros
      • Sometimes I Wish We Were an Eagle
  • Contra-campo
    • Caderneta de Cromos
    • Comprimidos Cinéfilos
    • Conversas à Pala
    • Estados Gerais
    • Filme Falado
    • Filmes Fetiche
    • Sopa de Planos
    • Steal a Still
    • Vai~e~Vem
    • Arquivo
      • Estado da Arte
      • Cadáver Esquisito
      • Actualidades
  • Entrevistas
  • Festivais
    • Córtex
    • Curtas Vila do Conde
    • DocLisboa
    • Doc’s Kingdom
    • FEST
    • Festa do Cinema Chinês
    • FESTin
    • Festival de Cinema Argentino
    • Frames Portuguese Film Festival
    • Harvard na Gulbenkian
    • IndieLisboa
    • LEFFEST
    • MONSTRA
    • MOTELx
    • New Horizons
    • Olhares do Mediterrâneo – Cinema no Feminino
    • Panorama
    • Porto/Post/Doc
    • QueerLisboa
  • Acção!
À pala de Walsh
DocLisboa, Festivais 0

Sosialismi (2014) de Peter von Bagh

De Inês N. Lourenço · Em Outubro 29, 2014

Inserido num genuíno contexto de homenagem, Sosialismi (Socialism, 2014), último filme do recentemente falecido historiador de cinema e realizador finlandês Peter von Bagh (1943-2014), fez as honras de encerramento da 12ª edição do festival Doclisboa, no passado sábado, dia 25. Peter von Bagh, figura ímpar do mundo da cinefilia – fundador, com os irmãos  Kaurismäki, do Midnight Sun Film Festival, em Sodankylä; co-director do festival Cinema Ritrovatto, em Bolonha; responsável pela revista Filmihullu… – deixa-nos uma  obra vastíssima e excepcional, do ponto de vista do uso de imagens raras de arquivo, e igualmente na publicação de livros sobre a história do cinema. Procurando sempre privilegiar a história da Finlândia como tema central de muitos dos seus filmes (ou “ensaios fílmicos”), é, contudo, o século XX – o século do cinema – que traçará as linhas férreas de interesse deste profundo conhecedor e incansável estudioso. Reiterando o que diz José Manuel Costa, no texto de luto por von Bagh, em nome da Cinemateca, “morreu o melhor de todos nós”.

harbour

O hábito é partir-se do geral para o particular. No caso, os dois últimos filmes de Peter von Bagh são uma inversão deste movimento discursivo, de um para o outro. Muisteja – Pieni Elokuva 1950-Luvun Oulusta (Remembrance – A Small Movie about Oulu in the 1950’s, 2013), o penúltimo, consagra-nos uma memória poética de Oulu, a cidade finlandesa onde von Bagh viveu grande parte da sua infância e adolescência. Limitada no tempo que revisita (anos 50), esta “viagem” que se empreende visualmente através de uma série de materiais de arquivo, imprime-nos o espírito de uma cidade ártica, em pleno amanhecer social. Depois do encontro lírico com o passado, o seu passado, Peter von Bagh acaba por sair da zona particular das suas memórias, para derramar o seu olhar analítico (e, mais uma vez, romântico) de historiador sobre um tema muito geral: o socialismo. Com efeito, Sosialismi acaba por ser daquelas portas grandiosas, barrocas, talhadas ao pormenor, com que se fecha uma obra rigorosa e apaixonada.

Dividido em dezoito capítulos, iniciados cada um deles com citações de grandes autores (Marx, Gorki, Dostoievski, Malraux, Jack London…), escolhidas com acribia, para nos firmar no sentido das imagens que pensam e comprovam o socialismo através de diferentes momentos da história, em diversos pontos geográficos, Sosialismi não pode deixar de ser também um filme sobre o próprio cinema – documental e de ficção – que se cruzou fatalmente com o maior sonho colectivo do século XX. Escrevendo direito por linhas tortas, uma vez que a história não é linear, von Bagh começa este filme da única maneira possível, isto é, pela pedra angular que suportará toda a descendência de imagens do e sobre o socialismo: La sortie de l’usine Lumière à Lyon (1895), o embrião do movimento, o embrião do cinema, a ser ele próprio o testemunho da inevitabilidade do tema do trabalho e dos trabalhadores, que é como quem diz, do socialismo. Outro elemento preambular que define, por sua vez, uma certa dimensão melancólica para Sosialismi é a primeira citação, tirada da peça Tio Vânia de Tchekhov: “Those  living a hundred, two hundred years from now, despising us for our silly, mundane lives, may perhaps somehow learn the secret of happiness”, este sentido, ao mesmo tempo, lúcido e quimérico que tanto nos diz sobre a própria abordagem histórica, ainda que romântica (repito-me propositadamente), do realizador. As imagens congregadas aqui são quase uma só imagem, a beleza da demanda por um ideal inatingível na sua plenitude, tal como a imagem que guardamos de Our Daily Bread (O Pão Nosso de Cada Dia, 1934), de King Vidor,  com os trabalhadores a oferecerem as suas mãos a uma obra comum, com benefícios comuns. São tantas imagens e, no entanto, apenas uma.

Escrever sobre Sosialismi faz-nos também sucumbir um pouco ao seu carácter enciclopédico; num impulso deítico, temos vontade de inventariar, através da memória, alguns dos filmes do socialismo que vão aparecendo: La Marseillaise (1938), Bronenosets Potemkin (O Couraçado Potemkin, 1925), Oktyabr (Outubro, 1928), A Corner in Wheat (1909), The Immigrant (O Emigrante, 1917), Roma città aperta (Roma, Cidade Aberta, 1945), The Grapes of Wrath (As Vinhas da Ira, 1949), Il vangelo secondo Matteo (O Evangelho Segundo São Mateus, 1964), Le crime de Monsieur Lange (O Crime do Sr. Lange, 1936)… Aqui uma pequena amostra dos mais conhecidos, chegando-nos ainda ao conhecimento outros títulos que, seguramente, o mais cinéfilo de todos nós, ignorava a existência. Essa é uma das maravilhas e privilégios para quem teve a oportunidade – ou mantém a curiosidade – de conhecer a obra de Peter von Bagh. Um dos, ou talvez o mais famigerado dos seus filmes, Helsinki, ikuisesti (Helsinki Forever, 2008), levou Chris Marker à ousada manifestação de preferência deste, em relação ao estimado clássico Berlin: Die Sinfonie der Grosstadt (A Sinfonia de uma Capital, 1927). E como não sentir o poder de tais imagens resgatadas do esquecimento, quando vemos o navio a atravessar o gelo, quais primeiros espectadores a assistirem à saída dos trabalhadores da fábrica Lumière? É um movimento inaugural, e von Bagh sabia encontrá-los como ninguém.

“When you’re Smiling keep on smiling, the whole world smiles with you”, diz a canção de Louis Armstrong que von Bagh escolheu, mesmo antes do decurso da montagem de Sosialismi, para terminar o filme. “The last madman”, dizia ele de si próprio;  era mesmo. Não dá para não sorrir, ainda que contendo uma lágrima teimosa.

Partilhar isto:

  • Twitter
  • Facebook
Aki KaurismäkiAndré MalrauxAnton TchekhovChris MarkerDoclisboaFiódor DostoiévskiJack LondonJosé Manuel CostaKarl MarxKing VidorLouis ArmstrongMáximo GorkiMika KaurismäkiPeter von Bagh

Inês N. Lourenço

"On aime une histoire parce qu’on aime le conteur. La même histoire, contée par un autre, n’offre aucun intérêt." Jean Renoir

Artigos relacionados

  • Festivais

    Porto/Post/Doc 2020: memórias e fantasmas

  • Festivais

    Frames Portuguese Film Festival 2020: Frames Love Stories

  • Críticas

    “David Byrne’s American Utopia”: o cinema fica na plateia a assistir

Sem Comentários

Deixe uma resposta Cancelar resposta

Tem de iniciar a sessão para publicar um comentário.

Últimas

  • Christian Petzold: “Tens de regressar à fotografia para compreenderes algo sobre o cinema”

    Abril 19, 2021
  • A fronteira entre a morte e o movimento no cinema

    Abril 17, 2021
  • Fantasmas em trânsito

    Abril 15, 2021
  • “Quai d’Orsay”: obrigado, Tavernier (a Stabilo Boss)

    Abril 13, 2021
  • What’s in a frame

    Abril 12, 2021
  • O (des)conforto do espectador solitário

    Abril 11, 2021
  • Fragmentos de um discurso incestuoso

    Abril 10, 2021
  • Sobre uma imagem adormecida

    Abril 8, 2021
  • Vai~e~Vem #33: em hora de ponta, o prazer

    Abril 7, 2021
  • Vislumbrando um gesto (in)visível no plano final de “No Home Movie”

    Abril 5, 2021

Goste de nós no Facebook

  • Quem Somos
  • Colaboradores
  • Newsletter

À Pala de Walsh

No À pala de Walsh, cometemos a imprudência dos que esculpem sobre teatro e pintam sobre literatura. Escrevemos sobre cinema.

Críticas a filmes, crónicas, entrevistas e (outras) brincadeiras cinéfilas.

apaladewalsh@gmail.com

Últimas

  • Christian Petzold: “Tens de regressar à fotografia para compreenderes algo sobre o cinema”

    Abril 19, 2021
  • A fronteira entre a morte e o movimento no cinema

    Abril 17, 2021
  • Fantasmas em trânsito

    Abril 15, 2021
  • “Quai d’Orsay”: obrigado, Tavernier (a Stabilo Boss)

    Abril 13, 2021
  • What’s in a frame

    Abril 12, 2021

Etiquetas

2010's Alfred Hitchcock Clint Eastwood François Truffaut Fritz Lang Jean-Luc Godard John Ford João César Monteiro Manoel de Oliveira Martin Scorsese Orson Welles Pedro Costa Robert Bresson Roberto Rossellini

Categorias

Arquivo

Pesquisar

© 2020 À pala de Walsh. Todos os direitos reservados.