• Homepage
    • Quem Somos
    • Colaboradores
  • Dossier
    • Raoul Walsh, Herói Esquecido
    • Os Filhos de Bénard
    • Na Presença dos Palhaços
    • E elas criaram cinema
    • Hollywood Clássica: Outros Heróis
    • Godard, Livro Aberto
    • 5 Sentidos (+ 1)
    • Amizade (com Estado da Arte)
    • Fotograma, Meu Amor
  • Críticas
    • Cinema em Casa
    • Em Sala
    • Noutras Salas
    • Raridades
    • Recuperados
    • Sem Sala
  • Em Foco
    • Divulgação
    • In Memoriam
    • Melhores do Ano
    • Palatorium Walshiano
    • Passatempos
    • Recortes do Cinema
    • Se Confinado Um Espectador
  • Crónicas
    • Filmes nas aulas, filmes nas mãos
    • Nos Confins do Cinema
    • Recordações da casa de Alpendre
    • Se Confinado Um Espectador
    • Week-End
    • Arquivo
      • Civic TV
      • Constelações Fílmicas
      • Contos do Arquivo
      • Ecstasy of Gold
      • Em Série
      • «Entre Parêntesis»
      • Ficheiros Secretos do Cinema Português
      • Filmado Tangente
      • I WISH I HAD SOMEONE ELSE’S FACE
      • O Movimento Perpétuo
      • Raccords do Algoritmo
      • Ramalhetes
      • Retratos de Projecção
      • Simulacros
      • Sometimes I Wish We Were an Eagle
  • Contra-campo
    • Caderneta de Cromos
    • Comprimidos Cinéfilos
    • Conversas à Pala
    • Estados Gerais
    • Filme Falado
    • Filmes Fetiche
    • Sopa de Planos
    • Steal a Still
    • Vai~e~Vem
    • Arquivo
      • Estado da Arte
      • Cadáver Esquisito
      • Actualidades
  • Entrevistas
  • Festivais
    • Córtex
    • Curtas Vila do Conde
    • DocLisboa
    • Doc’s Kingdom
    • FEST
    • Festa do Cinema Chinês
    • FESTin
    • Festival de Cinema Argentino
    • Frames Portuguese Film Festival
    • Harvard na Gulbenkian
    • IndieLisboa
    • LEFFEST
    • MONSTRA
    • MOTELx
    • New Horizons
    • Olhares do Mediterrâneo – Cinema no Feminino
    • Panorama
    • Porto/Post/Doc
    • QueerLisboa
  • Acção!
À pala de Walsh
Críticas, Noutras Salas 0

A Matter of Life and Death (1946) de Michael Powell e Emeric Pressburger

De Inês N. Lourenço · Em Outubro 13, 2014

 June, are you pretty?
Not bad…
Can you hear me as well as I hear you?
Yes.

You’ve got a good voice. You’ve got guts too. It’s funny – I’ve known dozens of girls, I’ve been in love with some of them, but an American girl whom I’ve never seen and who I never shall see will hear my last words. That’s funny. It’s rather sweet.

(…)

 I could love a man like you, Peter.
I love you, June. You’re life and I’m leaving you.

 

Poucos filmes terão um diálogo inicial tão memorável quanto o de A Matter of Life and Death (Um Caso de Vida ou de Morte, 1946). E não são apenas as palavras que fazem deste um momento inesquecível (nem a economia de texto permitiria reproduzi-lo aqui integralmente: ao cinema o que é do cinema), é toda a situação cruciante que fornece a ebulição nos espíritos, quando estas vozes se encontram através de um rádio.

Momo-Galerie-Romaric-Tisserand-margherita-ratti-matteroflife1

Estamos em Inglaterra, Maio de 1945 – fim da guerra na Europa – e Peter Carter (David Niven) encontra-se dentro de um avião em chamas, após um bombardeamento. Único sobrevivente, no meio de toda a parafernália mecânica destruída, eis que um rádio será o cordão umbilical que o ligará à vida por mais uns minutos improváveis… June (Kim Hunter), a operadora em serviço na base de comando, é então a voz da doçura e perserverança que Peter necessitava para saltar sem paraquedas, na esperança de a poder visitar depois, quando for um fantasma. Para nós, que a podemos ver, é essa face rosada, debaixo de uma sombra que lhe cobre o olhar, e de onde brotam uns lábios vermelhos de anjo (se os anjos usarem red lipstick).

Peter salta, efectivamente, para a morte. Surge uma espécie de holy smoke (expressão proibida no Paraíso), e a visão do seu corpo a boiar à beira-mar, com uns ecos que repetem “wings, wings, wings” (um plano breve de asas enfileiradas como numa linha de montagem), faz-nos crer que Peter acordou num lugar misticamente diverso daquele que nós, vivos, pisamos. Powell não perde aqui a oportunidade para completar o quadro com motivos bem ingleses: um cão e um jovem pastor, desembaraçado de qualquer tipo de veste, tocando flauta nas dunas. Temos a imagem do Paraíso; contudo, era preciso que Peter tivesse morrido mesmo, não fosse um qualquer equívoco cósmico. O amor, daqui por diante, protagonista desta história, apanhou-o “em vida”, e iniciará uma outra guerra, de índole universal.

Só neste início estão concentradas todas as batalhas temáticas por vir: o amor e a morte, o Paraíso e a Terra, a América (June) e a Inglaterra (Peter). A Matter of Life and Death, faz-se também de questões políticas (como a maior parte dos filmes no pós-guerra, quais encomendas de moralismo patriótico), não obstante, Powell, juntamente com o toque europeu de Pressburger, encontrou uma forma mágica – aquilo a que João Bénard da Costa tão bem denominou “delírio” – de contornar a austeridade da indústria cinematográfica britânica, jogando um pouco com os estereótipos nacionais para fazer valer as questões absolutas. Na sua autobiografia, A Life in Movies, Powell chega mesmo a sublinhar esse lado de “façanha”, que prescreveu a realização do filme, como uma das razões subversivas que alimentou o seu gosto pessoal por aquele: em toda a sua obra, guardou para A Matter of Life and Death o lugar da predilecção.

Da Terra para o Firmamento, toda a arquitectura se converte na grandeza dos monumentos neoclássicos (a lembrar a metafísica de De Chirico), como, de resto, a escadaria ornamentada de estátuas (Lincoln, Platão, Salomão…) é o exemplo culminante, escoltando-nos até uma autêntica – e gigantesca –  ágora helénica, onde tem lugar o tribunal dos céus. Aqui impera o atributo da lei, a ordem métrica das decisões (daí que “não morrer na data afixada” seja um sério caso de justiça), face ao delírio do amor, essa tragédia terrena… E é para a ágora que, tanto o filme como a escadaria-elevador, nos levam, com a lágrima de June recolhida numa rosa, a ser a prova menos política e mais poética alguma vez apresentada a julgamento.

É um facto que, antes de A Matter of Life and Death, outros filmes exploraram a burocracia do Firmamento: Liliom (1934), A Guy Named Joe (Um Certo Rapaz, 1943), Heaven Can Wait (O Céu Pode Esperar, 1943), The Horn Blows at Midnight (1945)… Mas a criatividade de Powell e Pressburger notou-se particularmente na divergência visual entre essa “repartição das finanças” celeste, votada ao preto e branco, e a vida terrena, à qual se consagra o Technicolor, numa encantadora homenagem ao “lado de cá”, fantasia que até aos mensageiros do “lado de lá” causa inveja (“one is starved for Technicolor up there”). E outras inovações se acrescentam, como sejam as imagens paralisadas, com os corpos retidos num gesto (a cena do jogo de ping pong), aquando das visitas do além – porque os dois tempos são incompatíveis.

Voltando, para terminar, à ideia de este ser o predilecto de Powell, a sua esposa, Thelma Schoonmaker, disse a propósito: “The real reason it was his favourite was he could be a magician with it. He could create heaven and earth and stop time.” Resta assinalar que, além disso, a dupla The Archers – porque não devemos esquecer Pressburger – também “criou”, neste filme, um plano muito próximo dos quadros de George Stubbs (ou seja, até a pintura inglesa põe aqui um pezinho.) Um plano que me ficou na cabeça, à segunda vez que vi A Matter of Life and Death. Deixo ao leitor/espectador o pequeno desafio de o descobrir, nesta bela película que se percorre entre a vida e a morte.

A Matter of Life and Death passa amanhã, terça-feira (14 de Outubro), no Conservatório de Música de Coimbra, às 21:30. 

Partilhar isto:

  • Twitter
  • Facebook
1940'sEmeric PressburgerJoão Bénard da CostaMichael PowellThelma Schoonmaker

Inês N. Lourenço

"On aime une histoire parce qu’on aime le conteur. La même histoire, contée par un autre, n’offre aucun intérêt." Jean Renoir

Artigos relacionados

  • Críticas

    “El anacoreta”: causa de morte, o fora de campo

  • Cinema em Casa

    “Quai d’Orsay”: obrigado, Tavernier (a Stabilo Boss)

  • Cinema em Casa

    “Rio Corgo”: western à portuguesa

Sem Comentários

Deixe uma resposta Cancelar resposta

Tem de iniciar a sessão para publicar um comentário.

Últimas

  • Beijo e gancho de ferro

    Abril 22, 2021
  • “El anacoreta”: causa de morte, o fora de campo

    Abril 21, 2021
  • Christian Petzold: “Tens de regressar à fotografia para compreenderes algo sobre o cinema”

    Abril 19, 2021
  • A fronteira entre a morte e o movimento no cinema

    Abril 17, 2021
  • Fantasmas em trânsito

    Abril 15, 2021
  • “Quai d’Orsay”: obrigado, Tavernier (a Stabilo Boss)

    Abril 13, 2021
  • What’s in a frame

    Abril 12, 2021
  • O (des)conforto do espectador solitário

    Abril 11, 2021
  • Fragmentos de um discurso incestuoso

    Abril 10, 2021
  • Sobre uma imagem adormecida

    Abril 8, 2021

Goste de nós no Facebook

  • Quem Somos
  • Colaboradores
  • Newsletter

À Pala de Walsh

No À pala de Walsh, cometemos a imprudência dos que esculpem sobre teatro e pintam sobre literatura. Escrevemos sobre cinema.

Críticas a filmes, crónicas, entrevistas e (outras) brincadeiras cinéfilas.

apaladewalsh@gmail.com

Últimas

  • Beijo e gancho de ferro

    Abril 22, 2021
  • “El anacoreta”: causa de morte, o fora de campo

    Abril 21, 2021
  • Christian Petzold: “Tens de regressar à fotografia para compreenderes algo sobre o cinema”

    Abril 19, 2021
  • A fronteira entre a morte e o movimento no cinema

    Abril 17, 2021
  • Fantasmas em trânsito

    Abril 15, 2021

Etiquetas

2010's Alfred Hitchcock Clint Eastwood François Truffaut Fritz Lang Jean-Luc Godard John Ford João César Monteiro Manoel de Oliveira Martin Scorsese Orson Welles Pedro Costa Robert Bresson Roberto Rossellini

Categorias

Arquivo

Pesquisar

© 2020 À pala de Walsh. Todos os direitos reservados.