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Ye meigui zhi lian (1960) de Wang Tian-lin

De Helena Ferreira · Em Março 30, 2014

A voz das canções de Dong (O Buraco, 1998) de Tsai Ming-liang tem um corpo: Grace Chang. Sinónimo de girl power como nunca visto no cinema chinês, Grace Chang, ou Ge Lan (o seu nome chinês), foi uma monumental estrela que urge redescobrir. Ye meigui zhi lian (The Wild, Wild Rose, 1960) deu-lhe, talvez, o mais mítico dos seus papéis em cinema.

WildWildRose1

A canção que abre este musical – uma das mais extraordinárias experiências do género no cinema chinês – é uma versão em mandarim de “L’amour est un oiseau rebelle” da ópera Carmen de Bizet. Está dado o mote para o resto do filme: as revisitações em língua chinesa de clássicos da ópera europeia, a personagem trágica de uma versão de Carmen e a presença estonteante de Grace Chang. Ye meigui zhi lian é um filme cuja razão de ser é Grace, a sua voz e o seu corpo. Podemos dizer isto dos mais célebres filmes com ela, como Manbo nülang (Mambo Girl, 1957) ou Kongzhong xiaojie (Air Hostess, 1959) mas Ye meigui zhi lian é caso superlativo. Todos os ideais de mulheres submissas caem por terra perante esta explosão de autodeterminação. Mesmo presa no submundo da noite, para a sua personagem há mais liberdade aí que na convenção. Ou como cantaria Sally Bowles: “Life is a Cabaret…” Nesta história tão batida da cantora de nightclub destruída pelo amor de um homem há todos os ingredientes de um clássico e nenhum é maior que Chang, numa composição entre o Dietrichiano e a Gilda que foi Hayworth, mas que é também descendente em linha directa de outras fallen women do cinema asiático, nomeadamente do cinema de Xangai dos anos 30. E, no entanto, Grace Chang é igual a ninguém e insuplantável como uma das mais fortes presenças femininas do cinema chinês de sempre.

No filme, Grace Chang é Deng Sijia, uma sensual estrela num clube nocturno de uma cidade não identificada. É certo que o filme data de 1960 e é uma produção de Hong Kong – da chamada época dourada do cinema em mandarim do pós-guerra, das poucas alturas em que o cinema na língua falada oficial da China rivalizou com a popularidade das produções em cantonense na então colónia britânica. Mas a acção não é datada nem localizada e provavelmente o referencial é a Xangai dos anos 20, 30 ou 40 – onde os nightclubs não tinham rival e de onde muitos partiram com a tomada do poder pelos comunistas de Mao – grande parte procurando refúgio precisamente em Hong Kong. Não é difícil ver Ye meigui zhi lian a apelar a estes exilados, a fazer-lhes lembrar o decadente fascínio da Xangai burguesa do seu passado no seu incerto presente. Mas voltemos a Grace. Sijia é uma parte-corações que encontra resistência no novo pianista do clube, Liang Hanhua (Chang Yang). Noivo de uma dedicada namorada e em dificuldades financeiras, Hanhua irá sucumbir ao bom coração escondido pela aparência provocadora de Sijia e esta irá renunciar (temporariamente) à vida de bad girl pela promessa de uma relação convencional com ele. Há óbvios moralismos no filme, mas também há óbvias transgressões. Afinal, por mais filial que seja a namorada de Hanhua é por Sijia que o espectador está a torcer e quando esta fracassa nos seus propósitos e sacrificialmente regressa à vida de entretenimento nocturno, a sua tragédia é suavizada pela promessa de a voltarmos a ver a cantar e a dançar. Porque é nessa doce má vida que reside a aura de Grace: uma verdadeira aparição cinematográfica, um ser-cinema que brilha com o mesmo fulgor décadas após este filme ser feito. Deve ter sido para actores assim que se inventou a ideia de star quality.

No entanto, o filme não é um mero veículo para Grace Chang. O realizador Wang Tian-lin, também conhecido pela romanização a partir do cantonense Wong Tin-lam [pai do realizador Wong Jing, que assinou Da Shanghai (The Last Tycoon, 2012)], que, como Grace, nasceu em Xangai e construiu a carreira em Hong Kong nos anos 50, cria um trabalho extremamente competente, indo beber ao noir de Hollywood (nomeadamente nas cenas no clube) e ao cinema de Xangai com os seus retratos de pobreza citadina (vejam-se as cenas da família de Hanhua e, depois, da sua miséria como desempregado), mas evidenciando também um fulgor novo do cinema de Hong Kong e da sua atracção por um certo mundo de sombras (gangsters, etc.). O cuidado da produção, concretizada num atmosférico preto-e-branco, não é obra do acaso. Ye meigui zhi lian foi produzido por um dos mais importantes estúdios asiáticos da época, Cathay (rival dos Shaw Brothers), de que Grace Chang era uma das estrelas. Por exemplo, os números musicais, com as suas sequências eximiamente montadas alternando entre a figura individual de Sijia e o seu efeito da sua presença na assistência, são excelentes e não é complicado ver como apelaram a um jovem Tsai Ming-liang, nascido no seio de uma família chinesa na Malásia – um dos países do Sudeste asiático onde produções como esta eram distribuídas.

Herdeiro do cinema de Xangai de décadas anteriores, Ye meigui zhi lian é um paradigmático (mas não raro) caso de circulação regional, produzindo em Hong Kong como um produto exportável para todo um “mundo chinês” cujo público-alvo era bem mais vasto que os confins dessa metrópole. Mas a influência americana, nomeadamente de certas produções dos anos 30 e 40, é inegável, além de que ao reimaginar clássicos líricos europeus e transpô-los para uma língua, um tempo e um espaço distintos, Ye meigui zhi lian pode também ser visto como provocador exemplo de cinema transnacional. Uma raridade que merece ser mais vista e estudada – e não apenas por aficionados de cinema asiático. Quanto a Grace Chang, o seu nome inglês diz tudo: uma figura em estado de graça, como só o cinema dá à luz.

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Helena Ferreira

“Maybe, too, the screen was really a screen. It screened us... from the world” (The Dreamers)

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