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Public Enemies (2009) de Michael Mann

De Ricardo Gross · Em Fevereiro 20, 2014

Cada morte de cada homem, de ambos os lados da Lei, importa. Michael Mann assinala-as de forma poética, umas mais simbólicas que outras, dando o remate numa hierarquia que o filme vinha estabelecendo para os vários inimigos públicos até então. Espantoso filme de Mann, ainda o seu último título estreado, que estabelece uma variação de época sobre o modelo que se apresentara consolidado e fascinante em Heat (Cidade Sob Pressão, 1995). A ideia de Mann, pelo menos desde essa altura, é a de criar um paralelismo entre polícias e ladrões, filmados no reduto privado que transcende a actividade que os colocará em colisão, dando a observar os pontos de contacto entre as suas condutas e a sua determinação.

Esses homens que se tornam obsessões uns para os outros, vivem as mortes de ambos os lados como despedidas entre gente que se respeita, e que acaba por vir a identificar-se entre si. Mas primeiro é preciso apresentá-los ao espectador, para depois fazê-los interceptarem-se nos caminhos do bem e do mal, e nisso Michael Mann é craque, o arco da masculinidade projectado até ao estatuto de mito. Public Enemies (Inimigos Públicos, 2009) abre com o assalto de Dillinger (Johnny Depp) a uma prisão onde se encontram companheiros seus, e a cena termina com a morte do mentor, Walter Dietrich, quando a mão de Dillinger larga finalmente o corpo não mais com vida daquele que lhe passara uma regra de conduta semelhante à que Neil McCauley (Robert De Niro) proferia em Heat: a de nunca nos apegarmos a algo que não estejamos disposto a abandonar em 30 segundos se sentirmos a proximidade do perigo.

Segue-se a apresentação do agente do FBI, Melvin Purvis (Christian Bale), numa cena diurna de caça em campo aberto ao lendário Pretty Boy Floyd, que é reminiscente de outro título de Michael Mann, The Last of the Mohicans (O Último dos Moicanos, 1992). A mobilidade de câmara de Mann, que em Public Enemies é numas vezes vídeo de alta definição (sobretudo os nocturnos) e noutras 35mm, coloca-nos dentro da acção, coincidindo a perspectiva que temos com a subjectividade do perseguidor, o agente Purvis que acaba por abater o criminoso. Ainda um aspecto relevante da mesma cena é a utilização na banda-sonora do bluegrass eléctrico de Otis Taylor (n. 1948), anacronismo assumido pelo realizador que reforça a noção de que Public Enemies é um filme de época (os anos 30 do século XX) marcado por uma sensibilidade moderna, no que estabelece extraordinários paradoxos: é que se a música empresta à perseguição uma energia acrescentada, já a utilização da tecnologia digital de alta definição atribui uma crueza aos confrontos e uma qualidade realista às imagens que tiram o melhor efeito expressivo da escassez das fontes de luz: tantas vezes limitadas ao luar, aos faróis dos carros e às rajadas de metralhadora. A música para mostrar as coisas como as sentimos. A tecnologia para dar as ver as coisas como elas eram.

O less is more torna-se “less is Mann” na medida em que o realizador faz uso com grande intencionalidade dos espaços desabitados ou espaços naturais, pelas suas componentes de silêncio e desobstrução de elementos visuais, territórios onde cada figura e cada elemento sonoro terão por contraste uma significação mais forte. É como o uso esporádico que Mann dá à música de Elliot Goldenthal, seu habitual colaborador – tal como o director de fotografia Dante Spinotti – que quando surge projecta Public Enemies num tempo para além do tempo, um tempo de heróis que se regem por princípios potenciados pelo carácter extremo das suas vidas. Mann filma-os como lados de uma igual moeda, e nada traduz esta ideia tão brilhantemente como uma das melhores cenas de todo o cinema de Mann, quando John Dillinger se infiltra nos escritórios do FBI que se dedicam em exclusivo a combater o seu bando e interpela os poucos homens que lá se encontram e que acompanham pela rádio um jogo de baseball. Mann imprime a esta inesperada visita um cunho hiper-realista que a situa fora do factual. Mas é brilhante a deambulação de Dillinger, que observa nas paredes as fotografias suas e dos companheiros, algumas com a inscrição de “morto”, como se relembrasse de uma só vez os momentos dessas várias mortes (que antes víramos), ao mesmo tempo que permanece incógnito para os seus alheados inimigos.

Michael Mann transporta o cinema de acção para um plano em que este se torna arte. Mann é um génio das analogias, um alquimista a trabalhar com as cores, as sombras e o som, e um artista da complexidade psicológica masculina colocada ao nível das personagens maiores que a vida. O cinema de Michael Mann não esconde a idealização que constrói, dentro da qual os próprios heróis agem em função de uma desejada nova vida que não virá depois porque será violentamente interrompida. Public Enemies veio juntar-se a esta obra do existencialismo a ferro e fogo.

Public Enemies será exibido pela Cinemateca Portuguesa, dia 22 de Fevereiro às 15h30, na sala Dr. Félix Ribeiro, e dia 24 de Fevereiro às 19h30, na sala Luís de Pina.

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Ricardo Gross

"Ken is a tormented man. It is Eiko, of course, but it is also Japan. Ken is a relic, a leftover of another age, of another country." The Yakuza (1974) de Sydney Pollack

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