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Entre as brumas

De Tiago Ribeiro · Em Dezembro 5, 2013

Pode ser o som de uma campainha, o cacarejar de uma galinha, o miar de um cão, o ladrar de um porco, a travagem de um camião de duas rodas, o trim-trim de um fax, o crepitar de uma lareira com lenha a arder, o gotejar da chuva num telhado, ou simplesmente uma canção (de qualidade ou do B Fachada, não importa para tal propósito): variados são os motivos para o ser humano associar um determinado evento sonoro a acontecimentos do seu passado, sejam agradáveis ou pouco proveitosos, radiantes, como estar com a/o amada/o num concerto do Leonard Cohen, ou dilacerantes, como ter assistido a uma conferência do Professor João Carlos Espada (ou ter ouvido os Diabo na Cruz). É provável que 99,5% da espécie humana já tenha experimentado tal usufruto da memória; os outros 0,5% estavam a ler um booklet dos Diabo na Cruz, enquanto ouviam B Fachada no iphone, com o Professor João Carlos Espada na televisão em mute.

Em plena década de Hitchcock e Sirk, Robert Aldrich pegou nas suas picaretas, nas suas esponjas, nos seus sacos de cimento e nos seus martelos e tratou de pôr mãos à obra: realizar a fusão possível entre os aleijados e aleijadas traumatizados do primeiro e a “telenovela” fúnebre do segundo, mas sem recursos a Technicolors, luxuosos orçamentos e demais mordomias, antes um “realista” e in your face (por vezes exagerado e a resvalar para a histeria) retrato de personagens a contas com solidão, tempo perdido e repressões nada condizentes para a boa saúde de um ser humano. Resultou daqui Autumn Leaves (Folhas de Outono, 1956), título sirkiano por excelência.

Joan Crawford (que neste filme interpreta um elemento do sexo feminino) é Millicent Wetherby, uma mulher a caminho da meia idade, a viver sozinha num bungalow suburbano, passando o tempo a fazer secretariado doméstico e a ir, de quando em quando, a um cinema ou a um concerto, imiscuindo-se solitariamente na multidão dos fifties americanos, aparentemente toda bem casada e cheia de felicidade doméstica, com os seus soutiens torpedo, as suas novas televisões, as suas cozinhas limpíssimas, as suas donas de casa que cozinhavam impecavelmente vestidas e maquilhadas, com o retrato do Professor Sala… artigo errado. E Millie a passar ao lado de toda esta magnificiência de modo de vida, uma tristeza.

Numa das tais idas a um concerto de um pianista (não nos pareceu o Armando Gama), acontece uma das sequências centrais de Autumn Leaves: um flashback de Millie, possivelmente de dez ou vinte anos atrás, onde se encontram os alicerces da sua “actual” situação. A curta duração desmente a profundidade de informações que são fornecidas pela economia de Aldrich (e dos seus rolos compressores, claro), embora a melancolia de uma tragédia muito tranquila una estes três minutos e picos de maneira que só os mestres conseguem unir; a associação entre a música no concerto e a do disco que Millie tem em sua casa, ou o diálogo resignado entre Millie e o seu pai, ou o modo como Robert isola Crawford no meio da multidão na sala do concerto, momentos todos eles a transmitirem perda e desgraça.

A sequência termina já sem música, com Millie já na rua, mirando qualquer hipótese de oportunidade, qualquer olhar na sua direcção. Não precisará de esperar muito tempo, e depois “começa o filme”, com toda a acção que se segue a dar sempre grande importância retrospectiva ao tal flashback e que nos leva no fim a perguntar se o que vai por aqui é genuíno amor, medo profundo pela solidão ou mera aceitação dos ditames sociais da época. Não há respostas definitivas, e ainda bem, pois está claro. Filme que é filme quer-se ambíguo e já salivamos só de pensar que vem aí uma nova “obra-prima” do Lars Von Trier, cineasta “ambíguo” e…ah?…Ah. Artigo errado.

Este artigo foi escrito enquanto se ouvia um best of dos Roxy Music, que muitas memórias nos trouxe. Lembramo-nos, muito particularmente, ao ouvir este best of, daquela vez em que estávamos a ouvir um best of dos Roxy Music e que tal nos fez comentar com o colega do lado que estar a ouvir Roxy Music nos fazia recordar de qualquer coisa, embora não “estejamos a ver muito bem o que é”. O colega do lado auxiliou-nos, e disse-nos:

– não será aquele momento em que estavas a ler Foucault numa esplanada e passou perto um carro a dar Bob Dylan e de imediato tiveste uma quebra de tensão?

Autumn Leaves é belíssimo. Bom Natal para todos e todas.

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Alfred HitchcockDouglas SirkJoan CrawfordRobert Aldrich

Tiago Ribeiro

Em Dezembro de 1963, Jean-Luc Godard, sentado numa esplanada em Saint-Germain-des-Prés, proferiu o seguinte: "estou sentado numa cadeira numa esplanada e o cinema faz este mês sessenta e oito anos". Um "jeu de mot" polémico (como sempre, no mestre) mas que em retrospectiva nos parece de uma clarividência singular.

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