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Críticas, Em Sala 3

Only God Forgives (2013) de Nicolas Winding Refn

De Carlos Natálio · Em Julho 25, 2013

Faça este exercício em casa: experimente colocar Ryan Gosling junto a um papel de parede bonito com motivos asiáticos, ilumine-o em tons de vermelho, peça para ele fechar a boca e ter um olhar traumatizado mas pouco expressivo. Depois chame algum familiar com as capacidades de visão em saudável estado de funcionamento (se for do sexo feminino ainda valida mais a experiência) e peça-lhe para descrever o que vê. Se o seu familiar falar imediatamente no papel de parede (isto só funciona se o papel for mesmo muito bonito, eu aviso) tenho a dar-lhe os parabéns pois conseguiu: você é oficialmente um formalista.

Nicholas Winding Refn é um formalista e isso valeu-lhe há dois anos o prémio de melhor realizador em Cannes com Drive (Drive – Risco Duplo, 2011). Muita gente aplaudiu, outra tanta desejou torturá-lo, por expor assim tão descaradamente, tão in our face, os atributos técnicos do “grande autor”. Como agora em Only God Forgives (Só Deus Perdoa, 2013) permanece o mesmo herói silencioso, as posturas à frente das acções, o controlo absoluto da construção do ambiente e da forma através da luz, da cor, da música de Cliff Martinez. Mas terá então mudado alguma coisa?

A julgar pelas declarações de Refn o que mudou foi o facto de entretanto ter sido pai pela segunda vez e de ter tido necessidade de extrapolar em filme sentimentos de violência interiores mas com contornos existencialistas. O ponto de partida foi, diz ele, imaginar-se a ter uma luta física com Deus. Se comummente se critica o formalismo ele assenta numa tradição milenar de desvalorização da retórica (e com ela da arte, e dentro dela em particular da imagem) por essa “incapacidade” de chegar ao conteúdo, à ideia das coisas. A capacidade de produzir formas sem conteúdo. Ora é precisamente por aqui que Only God Forgives marca uma diferença face a Drive. Se o filme de 2011 tinha presente uma cega vontade de experimentar, utilizando o plot como pretexto para a forma, agora dir-se-ia que Refn deu ouvidos aos seus críticos, fazendo desaparecer a pureza do seu gesto estético.

Este gesto parece querer submeter-se a uma rede de simbolismo psicanalítico e construir uma viagem de contornos místicos e edipianos que nunca chegam a ser concretizados em pleno precisamente porque o seu ponto de partida, o seu “coração” está na forma. Assim o motorista de Drive é agora Julian, dono de um clube de boxe tailândes, impelido pela mãe a vingar a morte do irmão, assassinado pelo pai de uma prostituta que este mata. Mas ao contrário do primeiro, o protagonista interioriza a violência, recalca-a (é a sua mãe, o cameo de Kristin Scott Thomas numa versão horny e trashy de Jocasta, que lhe diz que tem a pila pequena) passando-a para a figura “divina” e inultrapassável do polícia tailandês Chang (Vithaya Pansringarm), com a sua espada silenciosa e acessos de violência extrema à la Kitano intermitentes com um puro estado de serenidade zen.

Dir-se-ia que no universo de Refn irrompe assim como ideia que tudo contamina uma ligação seminal à mãe (com contornos maternais e sexuais: há uma inesquecível cena final com “acesso” ao útero) que mostra também a violência como algo feminino e sensual, canalizando todo o mutismo e o estilo das suas figuras para o esboço de uma qualquer pulsão incestuosa. Traído desta forma pela necessidade de introduzir uma segunda leitura, por se levar demasiado a sério, o realizador dinamarquês dá ainda mais o flanco aqueles que não convivem bem com essa sua necessidade abstracta de expor a técnica. Não podemos deixar de pensar nos decalques às ambiências sonoras  e visuais de mistério de Lynch, ao gosto infantil pelo choque de Gaspar Noé (a quem dedica o filme, juntamente com Alejandro Jodorowsky) ou até, imagine-se, às pinturas emocionais de In The Mood for Love (Disponível para Amar, 2000) de Wong Kar-wai.

Neste caldinho de imaginários onde sobressai o trabalho na fotografa de Larry Smith [Eyes Wide Shut (De Olhos Bem Fechados, 2000)] fica a faltar a coerência do próprio mundo de Refn. Sobram assim apenas fragmentos de esteta: o mutismo dos personagens como forma de falso enchimento de seriedade ou a violência como dispositivo sem particular noção de tensão. Cai-se assim na armadilha favorita do formalismo autoritário: um vácuo labiríntico entre a estimulação sensorial e a estimulação emocional. E nesse vazio, o espectador aborrece-se.

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Carlos Natálio

«Keep reminding yourself of the way things are connected, of their relatedness. All things are implicated in one another and in sympathy with each other. This event is the consequence of some other one. Things push and pull on each other, and breathe together, and are one.» Marcus Aurelius

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3 Comentários

  • João Milagre diz: Julho 25, 2013 em 11:48 pm

    E ainda a banda sonora, sempre a música em tensão, chama-lhe sopa o Straub, a chover no molhado.

    Inicie a sessão para responder
  • Frederico Batista diz: Julho 28, 2013 em 1:02 pm

    O Gosling é o maior.

    Inicie a sessão para responder
  • Lost River (2014) de Ryan Gosling | À pala de Walsh diz: Setembro 16, 2015 em 8:51 am

    […] traumas maternais e edipianos [quem viu aquela absurda sequência da entrada no útero da mãe em Only God Forgives (Só Deus Perdoa, 2013) infelizmente não esquece…]. Tudo isto somado Gosling brinda-nos aqui […]

    Inicie a sessão para responder
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