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À pala de Walsh
Kikujirô no natsu (O Verão de Kikujiro, 1999) de Takeshi Kitano
Críticas, Noutras Salas 1

Kikujirô no natsu (1999) de Takeshi Kitano

De João Araújo · Em Julho 22, 2013

Kikujirô no natsu (O Verão de Kikujiro, 1999) é um acto de expiação, com Kitano à procura de esquecer demónios que o assombram. Tal como não raras vezes acontece nos seus filmes, a personalidade de Kitano confunde-se com a da sua personagem no filme, alguém que revisita aqui o seu passado através de uma viagem. Como tinha acontecido com Hana-bi (Fogo de Artifício, 1997), esta é uma viagem pelas estradas japonesas, mesmo que mais pacífica, que serve de pretexto a uma reflexão sobre o Japão contemporâneo, sem deixar de olhar para trás.

O filme começa lentamente com uma série de sequências que mostram uma cidade fechada para férias, abandonada. Um miúdo sem projecto de férias decide ir à procura da mãe que fugiu mal ele nasceu, e um vizinho amigo dos seus avós encarrega-se de o acompanhar. As ruas desertas, a que equivalem enquadramentos vazios, comentam a desagregação da família japonesa tradicional, e a personagem de Kitano sofre do mesmo desamparo que o miúdo, mesmo que isso no início não signifique empatia. A personagem de Kitano é antes de mais um miúdo graúdo, de modos rudes, alguém que vive num mundo próprio, pouco preocupado com as consequências das suas acções. Um sinal disso é que após receber dinheiro da sua mulher para a viagem, acaba por perdê-lo imediatamente em apostas, sem reparar no desapontamento do miúdo.

Após uma série de episódios menores que relatam o pouco progresso do par na sua viagem, o filme demora-se numa longa sequência numa paragem de autocarro, enquanto os dois ficam abandonados à sua sorte. É aqui que o filme assume a marginalização destas personagens na sociedade, e é também aqui que a personagem de Kitano percebe que o miúdo que tem acompanhado, é como ele, são o reflexo um do outro: o miúdo, como irá acabar (cínico, envenenado); o homem, como já foi uma vez. A partir daqui fica também claro que os seus companheiros serão outros marginalizados como eles, um poeta nómada e um par de bikers inofensivos, preparando a dinâmica para o resto do filme, a caminho da redenção emocional.

Hana-bi, vencedor em Veneza, foi um marco importante na filmografia de Kitano, não só pela evolução temática depois das explosões de violência niilista em filmes como Sonatine (Sonatina, 1993), mas também pela abordagem estilística que lhe permitiu atingir uma visão mais humanista e íntima, suportada por momentos humorísticos. Assumindo um passado conflituoso que transborda ainda para o presente, põe de lado esse passado como parte menor, para dedicar-se a um novo olhar, menos amargo. Vários elementos presentes em Hana-bi, para a construção de uma nova gramática visual, são reforçados neste filme: as pinturas que dividem os capítulos são substituídas por polaroids animadas, baseadas no diário fotográfico do miúdo, num toque de ingenuidade feliz; as composições estáticas, que revelam uma narrativa própria dentro do mesmo plano, servem para estabelecer piadas, muitas vezes através do uso de espaço bloqueado por objectos ou mesmo imediatamente fora do ecrã; a expressão vazia do rosto de Kitano que serve de espelho; as elipses que desorientam o espectador tornam-se naturais. É esta nova unidade formal que permite a Kitano enfrentar os tais demónios – o abandono, a falta de uma estrutura de suporte, a dificuldade em confiar nos outros – e humaniza-los através do comportamento e reacções das personagens.

A importância da família na sociedade e a sua influência sobre a moral social foram sempre um tema importante no cinema japonês, e ninguém melhor que Ozu capturou isso ao longo do seu legado. Com a fragmentação dessa estrutura central, vários outros filmes contemporâneos dedicaram-se a revelar as consequências da perda desse suporte. Hirokazu Koreeda aborda precisamente essas consequências no magnífico Dare mo shiranai (Ninguém Sabe, 2004), um quadro sobre como sobrevivem os órfãos dessa estrutura, enquanto em Tôkyô sonata (Sonata de Tóquio, 2008), Kiyoshi Kurosawa mostra como adultos e mais novos reagem ao desaparecimento da própria família – temas tangentes a Kikujirô no natsu. Mas já o próprio Ozu tinha aludido a este tema em Dekigokoro (Passing Fancy, 1933), uma história sobre um pai pouco presente e um filho que tem que aprender a crescer sozinho. Tal como Kikujiro, o adulto acaba por chegar ao mais novo através de piadas e jogos, com a ajuda de outras personagens abandonadas pela sociedade que lhes são próximas, para ultrapassarem dificuldades. Kitano parece inspirar-se no filme de Ozu, para chegar à mesma conclusão sobre a esperança em combater o sentimento de exclusão, que passa pela união entre o par central e os desajustados à sua volta, de forma a conseguirem criar, assim, a sua própria família.

Kikujirô no natsu de Takeshi Kitano, será exibido dia 23 de Julho às 21h30 em Coimbra, pelo Fila K Cineclube, no Mosteiro de Santa Clara-a-Velha ao ar livre.

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2010'sHirokazu KoreedaKiyoshi KurosawaTakeshi KitanoYasujiro Ozu

João Araújo

"I don't think the film has a grammar. I don't think film has but one form. If a good film results, then that film has created its own grammar" Yasujiro Ozu in "Ozu and The Poetics of Cinema", David Bordwell

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1 Comentário

  • Manual de sobrevivência para um tsunami em Junho | À pala de Walsh diz: Maio 30, 2018 em 3:01 pm

    […] do kitanesco, pode sempre dar um salto às sessões de Kizzu ritân (Os Rapazes Regressam, 1996) e Kikujirô no natsu (O Verão de Kikujiro, 1999) e não sairá […]

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