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À pala de Walsh
Shadows (Sombras, 1959) de John Cassavetes
Críticas, Noutras Salas 0

Shadows (1959) de John Cassavetes

De João Araújo · Em Março 24, 2013

No fim do filme, uma frase anuncia the film you have just seen was an improvisation. Pode debater-se a validade desta afirmação, se realmente foi improvisado ou se apenas estudado para parecer assim, se faz sentido falar de improvisação no cinema quando se trata de uma obra fechada, destinada à repetição. A ideia maior será quebrar com o classicismo dominante, marcar a ruptura através de uma nova linguagem, e dotar o filme de um espírito irrequieto, que ao mesmo tempo regista as mudanças numa sociedade americana em convulsão e propõe uma diferente abordagem artística.

Se a improvisação é o pretexto para a técnica do filme, não faltam elementos que estabelecem o primeiro filme de Cassavetes como realizador, como uma das obras pioneiras no cinema independente americano. A utilização de actores desconhecidos, o trabalho de câmara móvel e os cortes súbitos, as impressões do granulado na fotografia e a coreografia de movimentos da câmara à volta dos actores, esticam os poucos meios ao máximo para criar um estilo uniforme. Estreado na mesma altura que À bout de souffle (O Acossado, 1960), enquanto a nova vaga francesa tomava forma, Shadows (Sombras, 1959) é a obra do outro lado do atlântico que estabelece um paralelo com a vontade em revolucionar formas e fórmulas.

A história do filme revolve à volta das vidas de três irmãos negros e de um conjunto de situações, criadas para colocar os actores em conflito, como numa série de exercícios de diálogos de confronto. Os três irmãos constituem a linha central do filme e as suas personalidades distintas indicam que a co-existência nem sempre é pacífica: Hugh, o mais velho, é um músico que luta para ser reconhecido pelo seu talento, sempre em viagem para o próximo trabalho mal pago; Ben, o segundo irmão, é um diletante à procura de vocação, que se arrasta pelo filme sem destino, ora envolvendo-se em situações que ameaçam chegar ao confronto físico, ora em caminhadas solitárias pelas ruas de Nova Iorque; Lelia é a mais nova, sempre no centro das atenções pela sua figura, que aparentando uma máscara de maturidade e desinteresse, na realidade escondem uma rapariga frágil. Entre cenas de festas improvisadas, encontros literários ou de bares animados com copos e corpos, vários segmentos ilustram os caminhos da nova geração beat que habitam os cenários marginais. Uma das sequências que se destaca pelo seu simbolismo, mostra uma visita de Ben e os seus amigos a um jardim de esculturas, onde os seus modos brutos contrastam com a sua sensibilidade em relação à arte exposta, não sendo certo o que fica a ganhar.

Os outros segmentos notáveis relacionam-se com um romance entre Lelia e um rapaz que encontra numa das várias festas. É aqui que a história do filme se torna complicada, ou que não tem receio em tornar-se complicada, pela honestidade e candura com que aborda os passos desta relação, pela forma como aborda o assunto quase proibido até aí das relações interraciais. Ao apresentar personagens à procura de encontros sexuais e o modo como lidam com as sequelas dessas aventuras, Cassavetes mostra que está disposto a arriscar caminhos tortuosos, revelando um filme avançado para o seu tempo. O facto de o rapaz apenas perceber que a cor da pele de Leira é diferente da sua quando a encontra com os seus irmãos, é utilizado para criar tensão, sublinhado pelo seu afastamento tempestuoso. Mas são as cenas anteriores, de aproximação e intimidade entre os dois que expõem as personagens à nudez da sua natureza. Os sentimentos revelados por entre lençóis definem um quadro de contradições e personagens complexas, e os planos aproximados das caras, como se Cassavetes não permitisse distância, permitem construir maior incerteza do que qualquer artifício narrativo.

Em Shadows tudo é sobre o movimento, sobre estar em constante fuga, onde ficar parado equivale a sair derrotado. A câmara gira à volta dos personagens, estes deambulam dentro das cenas, as cenas revolvem à volta de passeios e festas, sempre em movimento à volta de personagens à procura de um caminho que os salve, como se a tentar escapar das próprias sombras. O ritmo incandescente tenta capturar a efemeridade de uma época, demonstra urgência em actuar sobre uma sociedade em constante mudança. O estilo improvisado do filme é associado ao jazz e à sua energia contagiante sem ordem, da mesma forma que as cenas se sucedem de modo caótico. Esta construção frenética de uma realidade catatónica, que vive do momento e da cidade que retrata, permite deixar uma impressão sobre uma geração e deixar um filme que perdura no tempo.

Shadows (Sombras, 1959) de John Cassavetes, será exibido dia 26 de Março pelo Cineclube de Guimarães, às 21h30 no Blackbox Plataforma das Artes.

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Jean-Luc GodardJohn Cassavetes

João Araújo

"I don't think the film has a grammar. I don't think film has but one form. If a good film results, then that film has created its own grammar" Yasujiro Ozu in "Ozu and The Poetics of Cinema", David Bordwell

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