• Homepage
    • Quem Somos
    • Colaboradores
  • Dossier
    • Raoul Walsh, Herói Esquecido
    • Os Filhos de Bénard
    • Na Presença dos Palhaços
    • E elas criaram cinema
    • Hollywood Clássica: Outros Heróis
    • Godard, Livro Aberto
    • 5 Sentidos (+ 1)
    • Amizade (com Estado da Arte)
    • Fotograma, Meu Amor
  • Críticas
    • Cinema em Casa
    • Em Sala
    • Noutras Salas
    • Raridades
    • Recuperados
    • Sem Sala
  • Em Foco
    • Divulgação
    • In Memoriam
    • Melhores do Ano
    • Palatorium Walshiano
    • Passatempos
    • Recortes do Cinema
    • Se Confinado Um Espectador
  • Crónicas
    • Filmes nas aulas, filmes nas mãos
    • Nos Confins do Cinema
    • Recordações da casa de Alpendre
    • Se Confinado Um Espectador
    • Week-End
    • Arquivo
      • Civic TV
      • Constelações Fílmicas
      • Contos do Arquivo
      • Ecstasy of Gold
      • Em Série
      • «Entre Parêntesis»
      • Ficheiros Secretos do Cinema Português
      • Filmado Tangente
      • I WISH I HAD SOMEONE ELSE’S FACE
      • O Movimento Perpétuo
      • Raccords do Algoritmo
      • Ramalhetes
      • Retratos de Projecção
      • Simulacros
      • Sometimes I Wish We Were an Eagle
  • Contra-campo
    • Caderneta de Cromos
    • Comprimidos Cinéfilos
    • Conversas à Pala
    • Estados Gerais
    • Filme Falado
    • Filmes Fetiche
    • Sopa de Planos
    • Steal a Still
    • Vai~e~Vem
    • Arquivo
      • Estado da Arte
      • Cadáver Esquisito
      • Actualidades
  • Entrevistas
  • Festivais
    • Córtex
    • Curtas Vila do Conde
    • DocLisboa
    • Doc’s Kingdom
    • FEST
    • Festa do Cinema Chinês
    • FESTin
    • Festival de Cinema Argentino
    • Frames Portuguese Film Festival
    • Harvard na Gulbenkian
    • IndieLisboa
    • LEFFEST
    • MONSTRA
    • MOTELx
    • New Horizons
    • Olhares do Mediterrâneo – Cinema no Feminino
    • Panorama
    • Porto/Post/Doc
    • QueerLisboa
  • Acção!
À pala de Walsh
Cadáver Esquisito, Contra-campo 7

Sexo implícito

De À pala de Walsh · Em Março 26, 2013

Há obviamente um crescendo liberal do ponto de vista da moral que explica que o realismo cinematográfico tenha querido apagar as fronteiras entre o que pode e o que não pode ser mostrado. Nessa voracidade, o sexo é a primeira coisa em que se pensa. Mas essa é também uma estratégia que comunga com a comunicação social, a publicidade, numa ânsia de proximidade, do directo, do explícito, do violento. Ou agitar os braços bem alto para ver quem repara em nós. Mas e então, qual o charme do que não se podia ver? Do por trás, do debaixo do lençol, da “marotice” em off? Será apenas uma nostalgia do passado, um desejo de ver menos?  É um jogo complicado de jogar, o da caça sexual, o do voyeur ou o vai-vem do penetrado/penetrador. Por um lado, somos atraídos irresistivelmente para o buraco na parede (para o cinema, tout court), como Anthony Perkins para o corpo de Janet Leigh. Por outro, quando vemos demais já não podemos voltar atrás, só podemos pensar: “eu não queria saber isto”. É a depressão pós-coito.

Ora, os innuendos sexuais, solução pragmática de contorno aos don’ts do Código Hays têm precisamente essa dimensão de jogo: de dizer o que não se pode mas sobretudo de investir o espectador nessa função activa de, com a sua pornográfica mente, desvelar (se quiser, se tiver talento para tal) a imundice mais porca na mais alva das tramas. É, por isso, só uma coisa que está em causa quando falamos da dimensão implícita do sexo: de liberdade. Liberdade sexual de penetrar ou ser penetrado (por algum motivo Lubitsch tinha “apenas” um touch, que ora significa toque, ora significa apalpanço). O “charuto” de Errol Flynn, que Alexis Smith segura em Gentleman Jim (O ídolo do Público, 1942), um dos melhores Walshes, quando ele vai lutar pela primeira vez na academia, é símbolo fálico, pois é, e nenhuma temeridade nisso, não se pense. Walsh faz uma panorâmica para o próprio charuto e acaba nele a cena. Se é um simbolismo quase explícito, o innuendo revelado, ele é também uma marca do “machismo feminista” de Walsh que revela a exacta colocação dos sexos na mecânica da atracção. É essa também a função do sexo implícito: dar a vê-lo, veladamente, como quem observa o social. Pois um é parte do outro. (CN)

Se Walsh raramente mistura os géneros (não necessariamente os cinematográficos), fá-lo porque a relação entre os homens e as mulheres é, não poucas vezes, uma de desafio. Não necessariamente na posição missionária da mulher sedutora e do homem incapaz de se segurar mas em outras e diversas posições todas elas igualmente prazerosas. Penso nas mulheres desejosas de homem e do homem desejoso de dinheiro em The King and Four Queens (Um Rei e Quatro Rainhas, 1956) e também na flaming Mamie que desejando ardentemente o dinheiro deixou fugir o amor, porque a sessão de ‘convívio’ tinha chegado ao fim; a santa trindade – homem/mulher/dinheiro – aparece incontáveis vezes nos filmes de Walsh e talvez dela surjam os seus melhores filmes. Mas se os jogos sexuais em Walsh podem desinteressar os mais desejosos de novidades tântricas, muitos são os exemplos do que ficou tenuemente no ar (e vigorosamente nas calças) no trabalho de vários realizadores clássicos – ou mesmo antes disso. Talvez. Mas interessa-me mais outros subentendidos, daqueles em que o entendido está bem marcado e o sub é é coisa que já não se usa. Penso no humor folgazão em cenas como esta e esta – não por acaso são gags sobre a própria natureza do cinema como arte das sombras, que como todas as sombras, escondem mais do que revelam. Se os códigos impunham subterfúgios simbólicos aos argumentistas e realizadores, quando acabaram tais imposições muitos continuaram a fazer um cinema papal onde não havia renda descosida ou botão por abotoar. Mas quando tudo está no sítio, dá vontade de rasgar tudo com uma espingardada. (RVL)

Pois se, de facto, o Código Hays deixou de vigorar – chegou uma altura em que este espartilho nocivo da criação artística, como quase todos o viam, foi despido, entre outros pedaços de roupa (o cinema americano dos anos 70 tem várias nudezes) -, os códigos morais continuaram a comandar, principalmente a partir do momento em que toda a gente percebeu que os espectadores que restavam eram os adolescentes e que se deveria produzir filmes unicamente para estes, portanto sem quaisquer possibilidades da classificação etária os afastar. Foi como se nada tivesse mudado. Contudo, mudou: já ninguém conhece o segredo da argúcia com que os cineastas clássicos davam a volta à censura e mesmo as brincadeiras à Mel Brooks subsistem apenas naquele género que ajudaram a criar mas não lhes faz jus. E, no entanto, como escrevi logo ao início, parece que o sexo nunca esteve tão presente. Como se explica este paradoxo? Não sei, o certo é que nos filmes mais “inocentes” [lembro um exemplo português: Morangos com Açúcar – O Filme (2012)], a câmara se demora em decotes e calções diminutos, abdominais e bíceps, como se fora uma private joke entre esta e o espectador, a que os actores, argumentistas, realizadores, etc. são alheios. Porventura, será sobre este fenómeno que Spring Breakers (2012), que retrata antigas estrelas juvenis da Disney em bikini, se debruça. Algo a verificar no próximo IndieLisboa, festival em que passará o mais recente filme de Harmony Korine. (JL)

Falo, então, de algo mais elaborado que a simplista dicotomia explicitação/implicitação, denotação/conotação. O que falo aqui é do carácter pornográfico, poderosamente explícito, do não dito, do não mostrado. A criação erótica – toda a gente sabe – é muito mais poderosa que a dura e “não mediada” encenação fantasiosa do desejo, vulgo porno. O que o cinema ensinou a televisão a fazer, que já antes aprendera com a melhor propaganda de guerra – estávamos, aliás, em plena II Guerra Mundial quando o charuto fálico passou para a mão de Alexis Smith em Gentleman Jim -, foi passar para imagens – atenção ao plural, à polissemia fantasiosa – a proverbial máxima de “o fruto proibido é o mais apetecido”. Entretanto, não há nada totalmente subliminar, pensamos ante as imagens como desejamos pensar, isto é, sem grandes reservas morais. Assim, um charuto na mão de Alexis Smith só era um falo, nos anos 50 e 60, para meia dúzia de críticos dos Cahiers du cinéma, hoje, quando estamos (demasiado?) avisados de todas as “fintas retóricas” da publicidade, vemos um falo onde nos mostram um charuto ou vemos um charuto onde nos mostram um falo. Convém é ter sorte ou ser hábil a acertar no público-alvo: imagine que no primeiro caso “eu sou uma freira” e no segundo caso “eu sou o Bill Clinton”. O implícito explícito precisa de um bom targeting, já que é o destinário que dará ou não “o bom sentido” (leia-se, o desígnio certo…) à mensagem. Um grande e interminável Teste de Rorschach para o espectador pós-moderno. (LM)

Partilhar isto:

  • Twitter
  • Facebook
Anthony PerkinsCódigo HaysErnst LubitschErrol FlynnHarmony KorineJanet LeighMel BrooksPropagandaPublicidadeRaoul Walshsexo

À pala de Walsh

Artigos relacionados

  • Contra-campo

    Vai~e~Vem #30: o que pode o retrato

  • Contra-campo

    Steal a Still #38: Luís Miguel Oliveira

  • Caderneta de Cromos

    Caderneta de Cromos #9: Joana Gusmão

7 Comentários

  • N diz: Março 26, 2013 em 10:39 pm

    adoro este blogue 🙂 parabéns.

    Inicie a sessão para responder
  • Miguel Domingues diz: Março 28, 2013 em 11:46 am

    Falta aqui o exemplo do sexo implicito tao violento e tao obvio que se torna explicito. Veja-se o paradigma Viridiana de Luis Bunuel, que lido pareceu nada ter de mal e que visto representa uma coleção do obscenidades, ou Bunuel a malhar no sistema através do sexo. Seria um bom exemplo.

    Inicie a sessão para responder
  • Gentleman Jim (1942) de Raoul Walsh | À pala de Walsh diz: Maio 29, 2013 em 3:13 pm

    […] toda a obra e reflexões walshianas referidas no nosso dossier Raoul Walsh, Herói Esquecido ou na última edição da rubrica Cadáver Esquisito num único filme: a obra-prima Gentleman Jim (O Ídolo do Público, […]

    Inicie a sessão para responder
  • Martha (1973) de Rainer W. Fassbinder | À pala de Walsh diz: Junho 14, 2013 em 3:33 pm

    […] de concentração –, para, no momento seguinte, a tomar sexualmente (num bom exemplo de “sexo implícito” no cinema, que, de tão implícito, de tão psicologicamente violento para o espectador, dele se poderá […]

    Inicie a sessão para responder
  • Joe (2013) de David Gordon Green | À pala de Walsh diz: Maio 8, 2014 em 1:36 pm

    […] de encontrar uma pila ou um ânus em qualquer filme e os dos Walsh são ricos nisso – vide o charuto de Gentleman Jim (O Ídolo do Público, 1942) ou a gruta do final Colorado Territory (Golpe de […]

    Inicie a sessão para responder
  • Filme Falado #7: Gentleman Jim (1942) de Raoul Walsh | À pala de Walsh diz: Abril 22, 2015 em 3:20 pm

    […] toda a obra e reflexões walshianas referidas no nosso dossier Raoul Walsh, Herói Esquecido ou na última edição da rubrica Cadáver Esquisito num único filme: a obra-prima Gentleman Jim (O Ídolo do Público, […]

    Inicie a sessão para responder
  • A lei do Desejo é a lei de Lee Remick | À pala de Walsh diz: Outubro 17, 2016 em 3:43 pm

    […] se lamenta a Clift das voltas da vida enquanto balança, ininterrupta mas languidamente, a cadeira. Se já se escreveu sobre sexo implícito no cinema por estas bandas, então aqui está o exemplo dos exemplos: isto não é outra coisa senão Remick, sentada em cima […]

    Inicie a sessão para responder
  • Deixe uma resposta Cancelar resposta

    Tem de iniciar a sessão para publicar um comentário.

    Últimas

    • “Cosmopolis”: padrão-ratazana

      Março 3, 2021
    • A vingança do “Video Home System”

      Março 2, 2021
    • “The Other”: ali, à janela

      Março 1, 2021
    • Maureen O’Hara e John Wayne, disputas conjugais – parte III: The Wings of Eagles

      Fevereiro 28, 2021
    • Amigos e comparsas na nouvelle vague

      Fevereiro 25, 2021
    • In memoriam: Jean-Claude Carrière (1931-2021)

      Fevereiro 24, 2021
    • A piscina da vizinha é o cinema da minha

      Fevereiro 23, 2021
    • “Mulher na Praia”: a maleita das imagens

      Fevereiro 22, 2021
    • Três passos numa floresta de alegorias

      Fevereiro 21, 2021
    • “Soul”: a vida, a morte e o jazz

      Fevereiro 18, 2021

    Goste de nós no Facebook

    • Quem Somos
    • Colaboradores
    • Newsletter

    À Pala de Walsh

    No À pala de Walsh, cometemos a imprudência dos que esculpem sobre teatro e pintam sobre literatura. Escrevemos sobre cinema.

    Críticas a filmes, crónicas, entrevistas e (outras) brincadeiras cinéfilas.

    apaladewalsh@gmail.com

    Últimas

    • “Cosmopolis”: padrão-ratazana

      Março 3, 2021
    • A vingança do “Video Home System”

      Março 2, 2021
    • “The Other”: ali, à janela

      Março 1, 2021
    • Maureen O’Hara e John Wayne, disputas conjugais – parte III: The Wings of Eagles

      Fevereiro 28, 2021
    • Amigos e comparsas na nouvelle vague

      Fevereiro 25, 2021

    Etiquetas

    2010's Alfred Hitchcock Clint Eastwood François Truffaut Fritz Lang Jean-Luc Godard John Ford João César Monteiro Manoel de Oliveira Martin Scorsese Orson Welles Pedro Costa Robert Bresson Roberto Rossellini

    Categorias

    Arquivo

    Pesquisar

    © 2020 À pala de Walsh. Todos os direitos reservados.