Rita Azevedo Gomes parece ter querido fazer um filme sobre a recusa da montagem como recurso de progressão narrativa. A Vingança de Uma Mulher (2012) é um filme que vive de dois pilares fortíssimos: esta intenção aglutinadora da realizadora e o trabalho (sobre-humano?) de Rita Durão – coisa tão extraordinariamente explosiva que mais do que elevar o filme a esferas cada vez mais longínquas – carregam toda a obra, qual espinha dorsal. O filme é, fundamentalemte, o monólogo de Rita Durão, tem partes antes e partes depois, mas é esse momento que importa (e todos o sabem), é aquele cataclismo emocional contado entre os veludos vermelhos de um quarto que interessa. É o horror que aquela mulher conta que conta.
O presente texto foi publicado no livro de compilação O Cinema Não Morreu – Crítica e Cinefilia À pala de Walsh. Pode adquiri-lo junto da editora Linha de Sombra, na respectiva livraria (na Cinemateca Portuguesa), e em livrarias seleccionadas.

3 Comentários
Fico muito sensibillizada com o belo texto que acabo de ler e me parece tão familiar ao meu próprio sentir. Agredeço as palavras e gostaria muito de seber quem está por trás da pena (se este objecto caiu em desuso creio que reencotro o sentido desta expressão neste texto). Um detalhe, não compreendi a associação ao Greenaway, nem tão pouco ao Eugéne Green (deste desconheço mesmo a obra). Mas é sempre bom que ver um filme faça apróximar de cada um as ‘suas’ cinematografias. E, como disse o Manoel de Oliveira no PARTY “Ce n’est qu’um detail”.
Já descobri através do Luís Mendonça que é um amigo dele quem escreve: Ricardo Lisboa. A minha curiosidade agora vai para saber quem está atrás deste nome.
Se demorei na resposta não foi por despeito nem altivez, foi porque me tenho ocupado com outros haveres e porque – verdade seja dita – não sei bem o que hei-de dizer. Primeiramente agradeço o comentário elogioso (e fico feliz que o meu texto seja próximo do olha da Rita Azevedo Gomes), segundo sou o Ricardo Vieira Lisboa que aparece e sou de facto amigo do Luís, pouco mais há que me possa identificar (talvez um dia tenha o prazer de a conhecer).
Quanto à comparação com Greenway outros poderiam encara-la como insulto (não foi esse o intuito) e na verdade a comparação soou-me vagamente forçada (daí que o parentesco seja afastado), mas não deixo de sentir uma proximidade entre os trabalhos mais recentes do dito realizador e o Vingança de Uma Mulher.
Mais uma vez agradeço a atenção.
[…] significativa da programação. Correspondências (2016) de Rita Azevedo Gomes (cujo maravilhoso A Vingança de Uma Mulher, seu filme anterior, parece só agora estar a ganhar reconhecimento, quando esse reconhecimento […]