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Toute la mémoire du monde (1956) de Alain Resnais

De Luís Mendonça · Em Outubro 16, 2012

A memória do horror [Nuit et brouillard (1955)], a memória do trauma [Hiroshima mon amour (Hiroshima Meu Amor, 1959)] e a memória do amor [L’année dernière à Marienbad (O Último Ano em Marienbad, 1961)]. Tudo se arquiva no cinema de Alain Resnais. Mas como se arquiva o arquivo propriamente dito? Nos três primeiros casos este esforço de “arrumar” ou “ordenar” a memória parece cair numa impossibilidade, porque Auschwitz não se pode esquecer, porque a protagonista não viu nada em Hiroshima ou porque X e A, homem e mulher, poderão ou não ter-se encontrado em Marienbad. A dúvida obriga a que estes dossiers, que – não tenhamos dúvidas – encerram alguns dos temas mais importantes do século, permaneçam na secretária indefinidamente “por arrumar”, mas então e o arquivo propriamente dito – esse insaciável -, o que fazer com ele? De que modo o alimentamos?

O problema do incatalogável poderá ser mais complexo que o do catalogável, mas, de qualquer modo, há perguntas que devem ser feitas mesmo se já intuímos as respostas, até porque quanto mais avançamos mais papel e palavras são produzidas à nossa frente. A questão é tão funcional quanto ontológica, porque nunca alcançamos a História – isso Walter Benjamin já sabia – mas alguém tem de fazer esse trabalho sem fim, isto é: catalogar o que é catalogável, mesmo sob pena de precipitar a catalogação do incatalogável. Da mesma forma, como fazer e tornar acessível a História que, foucauldianamente, se faz por escrito – se faz escrita – sempre vários passos à nossa frente?, pergunta-se – ou especulo eu –  neste pequeno documentário de 20 minutos sobre os interstícios da Bibliothèque Nationale, onde tudo se sistematiza em fichas e mais fichas, de arquivamento, de consulta, de isto e daquilo; onde numa complexíssima canalização interna circula informação – os dejectos da Cultura? – a alta velocidade, que depois será manejada com vista à sua divisão e confinamento num arquivo, almejando-se com isto uma espécie de solução concentracionária (e final) para “toda a memória do mundo”.

Não há inocência nos termos utilizados, se pensarmos nas imagens horríficas dos campos de concentração que Nuit et brouillard revelou pela primeira vez ao mundo, sem ilusões de que alguma guerra se possa ter ganho depois daquilo. Os empilhamentos de sapatos, carteiras, cabelos… o esforço de divisão e classificação que o Estado alemão administrava a cada uma das suas vítimas deixou atrás de si essas e muitas mais evidências incontornáveis: evidência como alta visibilidade e como prova (evidence) incontestável do Horror inominável pensado e posto em prática por um aparelho burocrático super-racional onde  parecia estar tudo no lugar menos o humano – ia escrever o homem, mas ia escrever mal, porque esse tinha obrigação de saber o que fazia, ainda que seja justo dizer-se: nós também não “vimos nada em…”.

Lendo-o à luz da sua obra – e esforço-me eu aqui por a “sistematizar” -, o que Alain Resnais quer dizer com este filme ironicamente intitulado Toute la mémoire du monde (1956) também consiste no seguinte: pode não ter visto nada em…, aliás, decerto não viu, mas também a “requisição” dessa memória não o pode coibir de se envolver no processo histórico. A memória não se guarda, como os livros nas estantes que ganham pó até à eternidade, não, a memória deve ser viva: eu “sei” porque “vi” naquele arquivo que “tal e tal” aconteceu, logo, arrumada que está, a história faz-se ali (no arquivo) e não “aqui e agora” (= acção sobre o presente e a realidade orgânica)? Não, o arquivo confere-nos a responsabilidade de estarmos vivos na História, mas não nos pode excluir dos seus processos – se for caso disso, teremos de deixar cair algumas obras ou aceitar que o arquivo com “toda a memória do mundo” é um ideal que nos guia mas que não “arruma a História”. A memória da Bibliothèque Nationale é perfeita, certo, mas a perfeição é inimiga de si mesma, precisa sempre da imperfeição do homem – o tal humano, o vírus bom da desrazão subjectiva e sentimental ou de uma certa ignorância intelectual (a felicidade, porra!) – para pôr a História em marcha, seguindo caminho a passo da Humanidade do Homem.

Toute la mémoire du monde passa amanhã, dia 17 de Outubro, às 17h15 no auditório I da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas. Este filme de Resnais é um dos vários títulos que compõem a maratona fílmica, de entrada livre, “Tarefas Infinitas: Quando o Cinema Filma Livros”, cuja programação completa pode ser consultada aqui. Confirme a sua presença na página do Facebook deste evento.

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Luís Mendonça

"The great creators, the thinkers, the artists, the scientists, the inventors, stood alone against the men of their time. Every new thought was opposed. Every new invention was denounced. But the men of unborrowed vision went ahead. They fought, they suffered, and they paid - but they won." Howard Roark (Gary Cooper) in The Fountainhead (1949)

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Sem Comentários

  • JBL diz: Outubro 16, 2012 em 3:49 pm

    Belo texto. A memória não pode ser um arquivo morto.

    Inicie a sessão para responder
  • Luís Mendonça diz: Outubro 18, 2012 em 5:37 am

    Obrigado. Para um investigador, mais do que qualquer outra pessoa, penso que é fundamental esse alerta.

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