Interrogamano-nos por que razão o número zero se formula no plural: 0 coisas, 1 coisa, 2 coisas, 3 coisas… infintas coisas. Para primeiro número desta rubrica, talvez este “zero plural” faça mais sentido do que nunca.
Como diz Robert Bresson, no cinema tudo termina numa parede branca, onde se projectam as imagens do cinematógrafo. Jean-Luc Godard seguiu a mesma linha de pensamento quando, em Scénario du film ‘Passion’ (1982), nos ensinou como pode nascer um filme de uma superfície branca, se a ela formos acrescentando, por exemplo, uma praia, uma casa, uma fábrica, um casal… O zero é o branco e, por isso, é ausência de paisagem e ausência de imagem? Não, o zero é potência de paisagens e potência de imagens. Nele, muitas coisas, uma “pluralidade de coisas”, se poderão projectar e ganhar forma ou, usando um verbo importante que nós, portugueses, aplicamos à arte cinematográfica, “realizar”.
O que a rubrica Acção! pretende é projectar a opinião que iremos produzir no À pala de Walsh num lugar onde esta se possa ver realizada, onde se espera e, para suplício de muitas almas cinéfilas, se desespera pela sua realização. Não falaremos virtualmente e no abstracto, tal como não nos iremos virar apenas para nós mesmos. O movimento aqui será sempre inverso: virar-nos-emos, invariavelmente, para fora, procurando tornar a opinião activa e útil à preservação, acesso e enriquecimento do património cinematográfico, que é de todos.
Reivindicamos, no número 0 desta rubrica, o direito a dizer que o Cinema, por ser e não “apesar de ser” território imagi(n)ário, é espaço de todos e para todos. Faremos tudo o que estiver ao nosso alcance para deter quem nos quer privar das suas imagens, nomeadamente todos aqueles que, na sombra, vão construindo muros em torno de um território que só vive, ontologicamente, no quadro do mais livre exercício de liberdade, muito além das nossas pequeninas circunstâncias. Faremos desta rubrica, ainda a “zeros”, a parede branca para todas as projecções que façam cair muros e libertar as paisagens e as imagens desse Cinema que é de todos, por sinal, o único que conhecemos e o único que amamos (daí o “c” maiúsculo).
Por tudo isto, convidamos todos os amantes do Cinema a seguirem e a prestarem apoio às nossas acções futuras.