• Homepage
    • Quem Somos
    • Colaboradores
  • Dossier
    • Raoul Walsh, Herói Esquecido
    • Os Filhos de Bénard
    • Na Presença dos Palhaços
    • E elas criaram cinema
    • Hollywood Clássica: Outros Heróis
    • Godard, Livro Aberto
    • 5 Sentidos (+ 1)
    • Amizade (com Estado da Arte)
    • Fotograma, Meu Amor
    • Diálogos (com Estado da Arte)
  • Críticas
    • Cinema em Casa
    • Em Sala
    • Noutras Salas
    • Raridades
    • Recuperados
    • Sem Sala
  • Em Foco
    • Comprimidos Cinéfilos
    • Divulgação
    • In Memoriam
    • Melhores do Ano
    • Palatorium Walshiano
    • Passatempos
    • Recortes do Cinema
  • Crónicas
    • Do álbum que me coube em sorte
    • Filmes nas aulas, filmes nas mãos
    • Nos Confins do Cinema
    • Recordações da casa de Alpendre
    • Week-End
    • Arquivo
      • Civic TV
      • Constelações Fílmicas
      • Contos do Arquivo
      • Ecstasy of Gold
      • Em Série
      • «Entre Parêntesis»
      • Ficheiros Secretos do Cinema Português
      • Filmado Tangente
      • I WISH I HAD SOMEONE ELSE’S FACE
      • O Movimento Perpétuo
      • Raccords do Algoritmo
      • Ramalhetes
      • Retratos de Projecção
      • Se Confinado Um Espectador
      • Simulacros
      • Sometimes I Wish We Were an Eagle
  • Contra-campo
    • Body Double
    • Caderneta de Cromos
    • Conversas à Pala
    • Crítica Epistolar
    • Estados Gerais
    • Filme Falado
    • Filmes Fetiche
    • Steal a Still
    • Vai~e~Vem
    • Arquivo
      • Actualidades
      • Estado da Arte
      • Cadáver Esquisito
      • Sopa de Planos
  • Entrevistas
  • Festivais
    • Córtex
    • Curtas Vila do Conde
    • DocLisboa
    • Doc’s Kingdom
    • FEST
    • Festa do Cinema Chinês
    • FESTin
    • Festival de Cinema Argentino
    • Frames Portuguese Film Festival
    • Harvard na Gulbenkian
    • IndieLisboa
    • LEFFEST
    • MONSTRA
    • MOTELx
    • New Horizons
    • Olhares do Mediterrâneo – Cinema no Feminino
    • Panorama
    • Porto/Post/Doc
    • QueerLisboa
  • Acção!
À pala de Walsh
Críticas, Em Sala 0

Elena (2011) de Andrei Zvyagintsev

De Carlos Natálio · Em Julho 25, 2012

Há pouco menos de uma década que Andrei Zvyagintsev espantou toda a gente com Vozvrashchenie (O Regresso, 2003). O filme, sobre filhos que não estavam habituados a ser filhos e um pai que não estava habituado a ser pai, venceu o Leão de Ouro em Veneza, servindo para considerar instantaneamente o seu autor como uma espécie de filho pródigo do novo cinema russo. Com um absoluto controlo formal – a música original de Andrei Dergachyov entrava a pique a “moer-nos” o juízo e as entranhas – mas sobretudo pela construção de uma atmosfera toda ela de granito, que o mais russo dos escritores russos se poderia orgulhar, Zvyagintsev contava essa fatalidade de dois jovens a entrar na adolescência que tiveram de crescer às custas da morte do pai.

Em Elena (Elena, 2011), que entretanto também já fez os seus estragos e ganhou Un Certain Regard prémio do júri em Cannes, as crianças também ainda não cresceram. O mais novo porque é um bebé, limitando-se, no mais belo plano de filme (o picado sobre a cama, perto do final; logo verão, é fácil dar com ele) a mudar de espaço; e sobre o mais velho, já adolescente, Sasha, paira a ameaça de um futuro nada risonho entre a indigência nas ruas que o levará certamente à prisão e essa ameaça ainda maior que é a chamada ao exército. Mas o mais curioso é que se em O Regresso os filhos não crescem pela ausência do pai, aqui não o fazem pela sua presença. Isto é claro na forma como a câmara de Zvyagintsev se situa no atravancado pequeno apartamento, sem “linha de fuga”, onde estes vivem e na forma como apanha a presença opressora do pai de Sasha, desempregado, sempre lá, sentado no sofá, a abrir o frigorífico ou a comer batatas fritas até à eternidade.

Se temos vindo a falar do desemprego, da guerra, do futuro, este funciona como uma espécie de substrato omnipresente do filme de Zvyagintsev que começou  por ser uma proposta de um produtor inglês para trabalhar sobre o tema do Apocalipse. O caminho ínvio que tomou posteriormente fez com que abandonasse a língua inglesa, e com ela o seu produtor, e fizesse o filme com dinheiros russos  e aproveitando uma situação da vida do seu argumentista. E eis que chegamos finalmente à protagonista que dá nome ao filme, avó de Sasha, enfermeira reformada, viúva que casou novamente com Vladimir um homem bem mais rico. Cada um vive instalado num ritmo quotidiano metálico, do abrir e fechar dos cortinados, do dormir em quartos separados, do barulho de fundo das televisões, que só a idade permite compreender e que a montagem sonora ajuda a marcar.

A gravitas contida de Elena (Nadezhda Markina), a fazer lembrar um pouco Imelda Staunton em Vera Drake (2004) ou a Alexandra de Sokurov (2007), transforma a relação com Vladimir numa espécie de duelo em surdina: ela a querer assegurar o futuro do neto através do dinheiro do marido e ele a defender a sua filha distante, mimada e irónica de nome. E Zvyagintsev prolonga esse duelo: entre os interiores silenciosos e marcados pelos sons dos ecrãs e os afazeres das personagens e os exteriores, onde a câmara, e a música de Philip Glass permitem entender essa vida de cada um deles a sós como um recarregar baterias para o próximo confronto amoroso mas também social. É que em último caso o que está frente a frente são duas concepções de vida: uma onde “the last should be the first”, como diz Elena, dos pobres que tudo podem fazer para sobreviver; e outra, de Vladimir e da filha Katerina, uma visão maquinal, calculista, que se perpetua indiferente nos seus maus genes e posses materiais.

Deste confronto que acaba por ter um desfecho “territorial” claro, sabemos quem leva a melhor. Assim como o sabem os corvos que abrem e fecham o filme. Este bird’s eye metafórico é o local a partir de onde o cineasta russo expõe a dimensão do conflito social da Rússia contemporânea. A partir deste ponto de vista qualquer triunfo soará a improdutivo, as classes jovens (os filhos e os netos) parecem incapazes de sair moralmente de onde estão e a vida parece ser um castigo suficientemente claro. É nesse atoleiro que o cinema reina sem pudor.

Partilhar isto:

  • Twitter
  • Facebook
2010'sAleksandr SokurovAndrei ZvyagintsevImelda StauntonMike Leigh

Carlos Natálio

«Keep reminding yourself of the way things are connected, of their relatedness. All things are implicated in one another and in sympathy with each other. This event is the consequence of some other one. Things push and pull on each other, and breathe together, and are one.» Marcus Aurelius

Artigos relacionados

  • Críticas

    “Estrada Fora”: ‘a car of one’s own’

  • Críticas

    “Sundown”: o último Verão

  • Críticas

    “Opening Night”: duas horas (e meia) na vida de uma mulher

Sem Comentários

  • J. Barreto diz: Julho 28, 2012 em 4:51 pm

    Gostei. Está muito bem escrito. Parabéns

    Inicie a sessão para responder
    • Carlos Natálio diz: Julho 30, 2012 em 1:16 pm

      Obrigado, mas sobretudo o filme é que vale bem a pena.

      Inicie a sessão para responder
  • Leviafan (2014) de Andrey Zvyagintsev | À pala de Walsh diz: Março 4, 2015 em 4:11 pm

    […] ou nem tanto assim). O segundo olhar é um que se aproxima mais daquele de Andrey Zvyagintsev, como escreveu o Carlos Natálio a propósito de Elena (2011), há nele um “ponto de vista [onde] qualquer triunfo soará a improdutivo, as classes jovens […]

    Inicie a sessão para responder
  • Deixe uma resposta

    Tem de iniciar a sessão para publicar um comentário.

    Últimas

    • Body Double #4: Jorge Molder

      Agosto 1, 2022
    • “Estrada Fora”: ‘a car of one’s own’

      Agosto 1, 2022
    • ‘The atrocity exhibition’

      Julho 31, 2022
    • Vai~e~Vem #46: semiótica da cozinha: telas de degustação

      Julho 30, 2022
    • Palatorium e comprimidos cinéfilos: Julho

      Julho 29, 2022
    • “Sundown”: o último Verão

      Julho 28, 2022
    • “Opening Night”: duas horas (e meia) na vida de uma mulher

      Julho 27, 2022
    • Vai~e~Vem #45: espectros e máquinas de visão

      Julho 26, 2022
    • Travis no cinema ou Kim Min-hee no deserto

      Julho 25, 2022
    • “Ce Sentiment de L’Été”: uma sinfonia solar

      Julho 24, 2022

    • Quem Somos
    • Colaboradores
    • Newsletter

    À Pala de Walsh

    No À pala de Walsh, cometemos a imprudência dos que esculpem sobre teatro e pintam sobre literatura. Escrevemos sobre cinema.

    Críticas a filmes, crónicas, entrevistas e (outras) brincadeiras cinéfilas.

    apaladewalsh@gmail.com

    Últimas

    • Body Double #4: Jorge Molder

      Agosto 1, 2022
    • “Estrada Fora”: ‘a car of one’s own’

      Agosto 1, 2022
    • ‘The atrocity exhibition’

      Julho 31, 2022
    • Vai~e~Vem #46: semiótica da cozinha: telas de degustação

      Julho 30, 2022
    • Palatorium e comprimidos cinéfilos: Julho

      Julho 29, 2022

    Etiquetas

    2010's Alfred Hitchcock Clint Eastwood François Truffaut Fritz Lang Jean-Luc Godard John Ford João Bénard da Costa Manoel de Oliveira Martin Scorsese Orson Welles Pedro Costa Robert Bresson Roberto Rossellini

    Categorias

    Arquivo

    Pesquisar

    © 2021 À pala de Walsh. Todos os direitos reservados.