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Críticas, Em Sala 0

“Siberia”: saison en enfer

De Carlos Natálio · Em Dezembro 31, 2020

Sermos derrotados pela memória é como uma pequenina morte em vida. Nota psicanalítica para filme psicanalítico. Procurei em vão uma passagem de um livro que referia qualquer coisa como “remeter para a Sibéria do pensamento”. Não me recordo onde o li, mas creio que dizia respeito a um conselho sobre como esquecer/reprimir algo. O facto de não me lembrar da citação – cujo conteúdo me veio à mente quando via Siberia (Sibéria, 2019) – talvez seja essa aplicação na prática: remeti à Sibéria do meu pensamento, uma espécie de recalcamento, o que significaria exactamente isso, remeter um pensamento à Sibéria. Se imaginei ou se é real, essa é também a corda bamba da psicanálise do inferno a que Abel Ferrara se/nos submete neste seu memory road movie.

Siberia (Sibéria, 2019) de Abel Ferrara

Willem Defoe volta à carga pela sexta vez com o cineasta do Bronx, alter ego quase contínuo, desta vez remexendo nas relações paternais – em especial com o pai que aparecerá também a meio desta alegoria (Defoe com óculos), de um hades de auto-tortura e remorso de tom vagamente cristão. Existe uma capa ficcional para o sonho felliniano de Ferrara: um solitário americano a trabalhar num bar na Sibéria, refugiado dos desgostos da vida, imaginamos nós. Esse é o pretexto para uma série de encontros, físicos e oníricos, onde Ferrara vai desfiando uma autobiografia que faz do isolamento e da evasão – mas também da viagem (pela neve com os seus huskies, pelo deserto com os seus cães parecidos com huskies e pelo bosque com os seus huskies novamente) – os símbolos mais evidentes desse desenrolar do fio das memórias e dos tramas.

Mas Ferrara consegue ser foleiro ao mesmo tempo que é subitamente desconfortável. O cosmos mallickiano ao lado das mobelhas que fazem o mesmo “som de uma mulher a ser estrangulada”.

Nesta sua “abertura de jogo”, Siberia é um filme pouco hermético. O que pode parecer um paradoxo. Isto porque, ao mesmo tempo que nos diz que estamos no mundo do onirismo e da abstracção (e com ele, um planeado desnorte do espectador), é sempre muito claro a catalogar esse onirismo, a construir a alegoria da caverna, no desdobramento do eu e da alma (ver imagem), nos encontros com os guias metafísicos (Jodorowsky, o da juventude, a pairar) e nos temas do seu eu atormentado: a relação de culpa com o pai, os medos infantis, a ausência face à morte da mãe, o fim do amor, as mulheres como símbolo de luxúria e morte.

Talvez por isso Siberia vá seguindo o seu trilho de forma algo irregular. Momentos existem em que o simbolismo e o romantismo pesadão dão sono: por exemplo, os planos exóticos, ambientais, existenciais do herói na neve; ou os anões, deformados, enforcados que deveriam servir a ideia de pesadelo, mas que se fossem Lynch teriam um toque mais subtil, menos “claro”. Mas Ferrara consegue ser foleiro ao mesmo tempo que é subitamente desconfortável. O cosmos mallickiano ao lado das mobelhas que fazem o mesmo “som de uma mulher a ser estrangulada”. Um cineasta que trabalha sempre na fronteira entre a tensão doce e sensível e o desbragado e violento. Por isso, nesta escalada também temos peixes que falam hebreu, ou jovens que ouvem heavy metal [é a cena de dança de Le Sel del Larmes (O Sal das Lágrimas, 2019), encenada por Ferrara] e mesmo momentos de redenção que de tão infantis, atingem violentamente o alvo, manchando positivamente o filme de uma estranha leveza: por exemplo, a recuperação da alegria da vida após a retrospecção, na qual Defoe dança e canta ao som de “Runaway” de Del Shannon.

Em suma, Siberia não deixa no seu pior de poder ser catalogado como mais um filme retrospectivo de um cineasta a olhar para trás, neste caso, com amargura e alguma esperança. Mas é também uma viagem pelos alçapões e labirintos da memória, como se quisesse filmar Smultronstället (Morangos Silvestres, 1957), mas uma das suas mãos fosse a de Lars von Trier em Antichrist (Anticristo, 2009) ou Melancholia (Melancolia, 2011).

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Carlos Natálio

«Keep reminding yourself of the way things are connected, of their relatedness. All things are implicated in one another and in sympathy with each other. This event is the consequence of some other one. Things push and pull on each other, and breathe together, and are one.» Marcus Aurelius

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