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À pala de Walsh
Acção! 7

Let’s get physical: contra o fim dos suportes físicos, a favor da liberdade do espectador

De À pala de Walsh · Em Novembro 19, 2020

Let’s get physical, physical
I wanna get physical
Let’s get into physical.

Olivia Newton-John, Let’s Get Physical

A invasão das plataformas de streaming, à cabeça a Netflix, terá um efeito extraordinariamente limitador das opções de qualquer espectador que ame o cinema, o seu passado e presente. A primeira limitação prende-se com o estreitamento das alternativas. Todos sabemos: no universo das plataformas streaming, o “menu” é mais curto e menos diversificado do que a oferta de qualquer um dos velhinhos videoclubes, da videoteca do cinéfilo médio ou mesmo de um canal de televisão minimamente sensível à tradição estilística e crítica do cinema. Tudo nestas plataformas sugere qualidade em quantidade, mas se a qualidade é sempre um assunto discutível, a alegada quantidade pode ser facilmente controvertida. Tentem percorrer os filmes mais canónicos da História do Cinema numa destas plataformas e verifiquem como esse percurso se transformará numa via crucis tão frustrante quanto revoltante.

Videodrome (Experiência Alucinante, 1983) de David Cronenberg

Recentemente, o crítico de cinema Luís Miguel Oliveira partilhava, na sua página de Facebook, o resultado de uma pesquisa levada a cabo na citada plataforma, realizada debaixo da categoria “filmes clássicos”. O resultado? À ordem dada, o motor de busca respondia com filmes populares, a cores e falados em inglês, obras recorrentes nas grelhas televisivas mais banais, e perto de nenhum título encontrado teria mais de cinquenta anos (pode ver a imagem partilhada aqui). Será preciso lembrar que o cinema conta já com uma história vasta para lá de centenária? Como apelidariam um amigo cinéfilo que, sob a categoria de “filmes clássicos”, apresentasse tão pobre amostra na sua colecção de DVDs? Que se tomaria por algo que não era. Provavelmente.

Se as plataformas se constituíssem hoje como meros complementos à actividade cinéfila, não estaríamos a redigir este texto e neste tom, porque, apesar de tudo, mesmo a pouco extensa e criteriosa oferta existente em plataformas como a Netflix é bem-vinda, até salutar para quem acha, com alguma propriedade, que o cinema é essencialmente uma experiência lúdica, um passatempo ou um fenómeno de alto valor sentimental e de forte apelo nostálgico. Dir-nos-ão: com a redução do mercado da oferta cinematográfica ao streaming, outros serviços surgirão para compensar a ausência de títulos mais clássicos ou marginais. O problema aqui radica na dispersão excessiva destes serviços que, de qualquer modo, individualmente e no seu conjunto, dificilmente suplantarão em qualidade a oferta apresentada por uma boa prateleira com DVDs.

Não queremos ser aquele condutor que, conduzindo em contramão na auto-estrada, alega que são os outros que estão a conduzir em sentido contrário. Mas rejeitamos liminarmente a ideia de que pouco ou nada há de extremamente proveitoso e até essencial na experiência de ver e coleccionar o cinema fisicamente. O tempo não voltará para trás e o streaming veio para ficar. O DVD, enquanto media físico, é um símbolo, no fundo, da forma de relacionarmos o cinema com a nossa experiência individual. Uma forma de constituir uma colecção pessoal, que reflicta uma memória e um imaginário. Actualmente – e sublinhamos que este é um estado de coisas que esperemos que se possa transformar no futuro – o cinema em streaming tem sido cooptado por uma destrutiva lógica algorítmica, algo que está nos antípodas desse “fazer memória”, desse “constituir imaginário crítico”. O problema não é tanto o da desmaterialização, mas sim o de uma arquitectura digital sobre a qual está assente a mesma. Uma arquitectura que trata o cinema segundo uma lógica de mercado que assenta numa ideia de consumos quantitativos de bens indistintos, de homogeneização dos produtos, de redução do que é ineficaz, isto é, da capacidade de diferenciar. E isto é oposto da relação que um cinéfilo e crítico quer manter com o cinema e com cada um dos filmes, bons e maus.

Por isso, e enquanto não encontramos formas construtivas, críticas, que respeitam minimamente a individualidade do espectador cinéfilo no espaço do cinema desmaterializado, não podemos de modo algum assistir passivos à destruição de uma dada forma física de programar e fruir do cinema, lançando para o lixo tudo o que de bom acumulámos ao longo desta história de recepção das imagens em movimento (por exemplo, a qualidade assegurada de som e imagem de certas edições contra outras ou ainda, não esquecer, a amplitude de oferta em matéria de extras audiovisuais ou sob a forma de ensaios de divulgação crítica e académica do cinema).

Posto isto, o problema principal, que mais nos inquieta nesta fase, advém do facto de o iminente monopólio das plataformas online ameaçar não só a subsistência do mercado de distribuição, roubando pessoas às salas através de uma estratégia por vezes agressiva de produção, marketing e lobbying político (veja-se a discussão recente em torno da proposta de lei audiovisual), como de significar “o último prego no caixão” do mercado home cinema (hoje quase defunto, em Portugal, e em vias disso, no resto do mundo). Contra desconfianças serôdias, os media físicos revelam-se, de forma cristalina, como aliados das salas de cinema. De tal modo é assim que o novo player entendeu, conscientemente ou não, que era tempo de minar, simultaneamente, a possibilidade de reprodução do cinema em suporte DVD ou Blu-ray, destinado à sala de estar e guardado nas prateleiras de nossas casas, e de liquidar a experiência do cinema (em suporte DCP ou, hoje uma raridade, em película), na sala de projecção e “assegurada” em arquivos especializados como os de certas distribuidoras e, claro, das cinematecas. Os serviços de streaming são como “fogo amigo” para o home cinema – já sabemos que são “fogo inimigo” para as salas e os criadores crentes de que “o cinema é no cinema”. De qualquer modo, amigo ou não, dúvidas há se, neste preciso momento, os serviços streaming não estarão continuadamente a “atirar a matar”, contra tudo e todos.

Vamos perspectivar o pior cenário, mas façamo-lo já com uma certa dose de realismo. Encaremos a possibilidade de que os espectadores não mais irão possuir colecções de filmes. Nada é seu, na realidade nada é sua propriedade sem ser um passe virtual que lhe dá acesso a uma colecção programada por alguém de quem sabemos pouco – sabemos que esse alguém gosta de seguir tendências de mercado muitas vezes tão alheias à gloriosa arte cinematográfica e sua história quanto afins de trends nefastas.

À boleia de ondas ideológicas consubstanciadas em caças às bruxas ou autos de fé, cada vez mais assistimos ao crescimento em massa, e por sucessivas vagas, de uma espécie de cegueira generalizada, sendo que facilmente esta tem sucumbido a “políticas de terra queimada” ou acções de sabotagem e cancelamento cultural. Assim sendo, parece que Gone with the Wind (1939) é racista e um produto tóxico? Pois então que se ordene o “delete” deste título das colecções online. Parece que The Birth of a Nation é um filme que não deve ser (re)visto? Fácil: torne-se este clássico fundador de Hollywood num título apenas reconhecível em páginas das Histórias do Cinema mas de jeito nenhum disponível, de facto, nos múltiplos ecrãs de que dispomos. Ou então que se contextualize o filme antigo recorrendo à retórica do dia ou rasurem-se as tais cenas incómodas a bem da boa moral vigente. Assim, lava-se mais branco para que o catálogo esteja apresentável, bom para consumo.

Sabemos uma coisa: um DVD ou Blu-ray terá uma expectativa média de vida de décadas. Agora outra questão de capital importância: durante quanto tempo uma dessas obras fundamentais, para a história do cinema e da humanidade, permanecerá num catálogo online? Por força de todas estas circunstâncias – falta falar das legais, ligadas a copyrights -, não sabemos se podemos confiar neste novo “fiel depositário” da nossa memória e cultura cinéfila. Sabemos uma coisa: no caso dos discos (DVDs ou Blu-rays), podemos contar com eles, sempre à mão de semear e durante vários anos, na nossa colecção particular. Uma colecção nascida de uma articulação de múltiplos factores de sociabilidade cinéfila e não de um afunilamento do nosso “museu imaginário” do cinema por via de uma sucessão de actos de compra ou “likes” que nos fecha numa bolha que perpetua o mesmo e a satisfação fácil (se gostou “disto”, talvez goste “daquilo”…).

Com a dieta cinéfila cada vez mais dependente dos humores da comunidade e face a um serviço de streaming globalmente cativo desses humores e de nem sempre claras leis de mercado, perguntamos: onde fica a nossa liberdade de escolha, a opção em ver um filme em detrimento de outro filme ou de querer interpretar um filme de dada maneira e não de outra prescrita pelas embirrações do momento? Onde fica a nossa liberdade – e como podemos crescer, cultural e intelectualmente – num mundo totalmente virtualizado, desmaterializado, ditado ou programado por organizações de quem sabemos muito pouco ou mesmo nada? Interessará esta programação “sem rosto” à nossa educação como amantes do cinema, como educadores, criadores, estudantes e cidadãos?

Queremos deixar o seguinte apelo: que todos os amantes da arte – começando por nós, espectadores – se reúnam e se constituam como força crítica – resistente porque desconfiada, desconfiada porque resistente – contra o extermínio dos suportes físicos. Pedimos aos nossos leitores que não se distraiam ou baixem os braços nesta luta pela defesa da maior liberdade de escolha, em nome de uma opção cinéfila mais instruída e de qualidade. Que ninguém sucumba à cegueira virtual.

Let’s get physical. Uma e outra vez.

Carlos Natálio

João Araújo

Luís Mendonça

Ricardo Vieira Lisboa

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