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À pala de Walsh
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Olivia de Havilland (1916-2020): uma poderosa lucidez

De À pala de Walsh · Em Setembro 22, 2020

Actriz de figura elegante, aparentemente frágil mas de uma determinação imbatível, dentro e tantas vezes fora do ecrã, Havilland transformou a sua longevidade num teste à nossa memória associada a um cinema que verdadeiramente não cessa de nos assombrar: o clássico. A partir da formidável marca dos 100 anos, a cada novo aniversário, víamo-nos obrigados a revisitar os seus “anos dourados”, que constituíram, claro, o período dourado de Hollywood. A sua última interpretação registada para cinema data de 1979, mas é nos anos 40 que as três walshianas Daniela Rôla, Inês N. Lourenço e Carlota Gonçalves encontram a expressão maior dessa sua conhecida e imbatível – e poderosa – lucidez. A diva é delas, a diva é nossa.

To Each His Own (Lágrimas de Mãe, 1946) de Mitchell Leisen

To Each His Own (Lágrimas de Mãe, 1946), de Mitchell Leisen, recebeu em Portugal um título que declaradamente o situa no território da soap opera. Embora este seja, efectivamente, um filme pertencente ao subgénero de filmes de sacrifício materno – a par com Stella Dallas (O Pecado das Mães, 1937) ou The Old Maid (A Velha Ama, 1939) –, a personagem interpretada por Olivia de Havilland é bem mais do que uma ingénua a procurar fintar a crueldade do mundo. A história tem início em plena I Guerra Mundial, numa pequena cidade americana, onde vive Josephine Norris. Após um idílio de uma noite com um piloto aviador, Josephine engravida, vendo-se sozinha com uma criança, já que o piloto acaba por morrer em combate. Josephine irá concentrar todo o seu amor naquela criança, de quem vive separada, sendo incapaz de amar qualquer outro homem. É a fidelidade absoluta a um homem morto e o amor a uma criança incapaz de devolver o mesmo afecto. 

Josephine mostra toda a determinação e garra que adivinhamos na própria Olivia de Havilland, que foi capaz de enfrentar Jack Warner por causa do seu contrato de sete anos (e ganhar essa batalha). Nunca vimos Olivia de Havilland tão bela como nos primeiros momentos do filme (acreditamos que é a mistura dessa beleza magnífica e de uma total honestidade que provocam o coup de foudre no piloto, quando ela segura as suas mãos em pleno voo). No momento em que se vê roubada do amor do piloto e do filho que resultou dessa união, a resposta de Josephine é atirar-se ao trabalho, fazendo de uma empresa de fachada, que apenas encobria um reduto de contrabandistas, uma empresa de enorme sucesso, enriquecendo com o fabrico de cosméticos [um pormenor a lembrar Small Time Crooks (Vigaristas de Bairro, 2000) de Woody Allen]. E, muitos anos passados, já na sequência passada em Londres, durante o blitz, Olivia é uma mulher envelhecida, bastando-lhe, para insinuar essa idade mais avançada, umas olheiras reforçadas e um posicionamento de mãos muito pouco sedutor. Nela se vê já uma certa rudeza, o peso de ser uma mulher desabituada de jogos de sedução e momentos de felicidade – o que fica bem resumido na entrega de flores, quando ela se esquece da gorjeta. Felizmente, Lord Desham parece descortinar nela os tais mistérios misteriosos mencionados na abertura do filme. E ficamos a torcer por aqueles dois.

Daniela Rôla

The Dark Mirror (O Espelho da Alma, 1946) de Robert Siodmak

Do mesmo ano de To Each His Own de Mitchell Leisen – filme que valeu o primeiro de dois Óscares a Olivia de Havilland – The Dark Mirror (O Espelho da Alma), assinado por um dos grandes nomes do noir, Robert Siodmak, é geralmente encostado ao cantinho das curiosidades quando se pensa nas interpretações marcantes da actriz. Isto porque se trata de uma proeza, inclusive técnica, para a época: temos de Havilland em duplicado. Esta história de duas irmãs gémeas sob investigação policial, na suspeita de uma delas ter assassinado um homem, é o território perfeito para desmontar os próprios fantasmas da realidade familiar de Havilland, ou não fosse a personagem do psiquiatra (Lew Ayres), que ajuda o detective na resolução do caso, pôr o dedo na ferida da rivalidade entre irmãs. “There’s a natural rivalry between sisters”, diz ele a certa altura, e é como se estivesse a falar da patente emulação biológica entre Olivia de Havilland e Joan Fontaine, em vez de Terry e Ruth Collins.

Siodmak usa o rosto feminino como partitura que contém as nuances da alma, jogando com a dicotomia irmã boa/irmã má sem desafinar por um segundo a atmosfera psicológica dentro das imagens chiaroscuro. De Havilland, que disse sempre preferir interpretar as boas raparigas porque lhe davam mais trabalho, tem aqui um laboratório sobre personalidades opostas como raras vezes se viu na sua carreira. Entre a fragilidade de uma das irmãs e a sofisticação psicótica da outra, ela assume maravilhosamente os passos de uma dança lúrida em frente ao espelho do toucador. E eis que nasce uma terceira Olivia…

Inês N. Lourenço

The Heiress (A Herdeira, 1949) de William Wyler

Devastadora Olivia de Havilland em The Heiress (A Herdeira, 1949), de William Wyler, no papel de Catherine Sloper. Figura omnipresente que ocupa o filme, os planos. Ela produz o clima, faz estalar a narrativa com um temperamento que vai de fio a pavio sem estremecimento. A personagem, de vulnerável e deslocada, rica herdeira mal amada por um pai cruel (Ralph Richardson), protegida pela tia cúmplice (Miriam Hopkins) e apaixonada pelo sedutor Morris Townsend (Montgomery Clift), transforma-se numa cortante figura sem dó nem piedade. A contracena desta paixão está no corpo de Clift que a aborda com uma representação fora dos cânones, a quebrar o glamour distanciado e a favor de “outra coisa”, mais sensível e penetrante, mais subtil e interiorizada, que permite um campo de ambivalências que questiona mais e não categoriza tanto comportamentos e os fecha em definições. Implacável caçador de fortunas ou incauto apaixonado levado a refrear os sentimentos de uma relação proibida? Quem é este actor que dá a deixa a Havilland e perturba o plateau pelo acting inesperado? É Clift a ascender! 

Belo ciclo de actores, é certo, que vai marcar a linha melodramática e projectá-la numa fechada teia psicológica, bem urdida, a ligar situações e a compor respostas, numa espécie de huis clos (tudo concentrado nos quatro: Pai, Tia e os dois apaixonados), em crescendo, até chegar-se a um desfecho que produz alguma ambiguidade. No centro está Havilland a distribuir a carga, a estender o gráfico de emoções, a balançar sentimentos, a raiar ingenuidade e fria lucidez e a tirar-nos o tapete. E temos Catherine/Olivia a mudar de pele, a operar um teatro de vingança que a vai transfigurar em temível criatura. Como é possível caber no mesmo corpo outro corpo, num espectro tão distinto, alucinado mesmo, de comportamento? Fantástica actriz que põe “tudo” no rosto e no corpo, em leveza e em peso, e consegue a proeza de virar a casaca impecavelmente sem a amarrotar. Olivia de Havilland, a longevidade ficou-lhe bem colada e o Óscar de interpretação foi na mouche. 

Carlota Gonçalves

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