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À pala de Walsh
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Ennio Morricone (1928-2020): a suprema arte de ouvir o filme

De À pala de Walsh · Em Julho 9, 2020

Percorrer a obra de Morricone é atravessar alguns dos momentos mais importantes – e imponentes – da história do cinema dos últimos sessenta anos. Partiu um dos compositores mais memoráveis do cinema moderno, mas ficam as fortíssimas recordações despertadas por cada nota de um vastíssimo repertório que os walshianos homenageiam aqui, nestes exemplares de alguma da melhor música que os filmes nos deram a ouvir – quase apetece escrever “nos deram a ver”. Grazie Maestro!

Per qualche dollaro in più (Por Mais Alguns Dólares, 1965) de Sergio Leone

Ennio Morricone ficou gravado na minha adolescência a assobiar-me aos ouvidos, igual à atmosfera poeirenta que gravitava e silvava nos westerns spaghetti distendendo-se sob os seus maravilhosos acordes. Soavam a aventura e a filmes caseiros engrandecidos pelas suas bandas sonoras roubadas. A dimensão do espaço que a música ocupou permaneceu igual à intemporalidade da sua extensão, lenta e ritmada com dramatismo cortante. E respondo sempre, em automatismo irracional, à eleição das suas bandas sonoras oferecidas em bandeja. Páro no Per qualche dollaro in più (Por Mais Alguns Dólares, 1964), de Sergio Leone, e revejo (e ouço) o lirismo musical contra a violência detonante, no momento cruel do duelo de El Indio, por Gian Maria Volonté (fulminante), com o traidor Tomaso, homem que o terá metido na cadeia (a mulher e o filho, já fora de campo e do filme, num momento arrepiante) com Lorenzo Robledo. Tudo isto para que o jogo visual de Leone possa caber na perfeição nos acordes soberbos em contra corrente da imagem. Suspensão e concentração, a música do relógio de bolso, planificação mestra (Klaus Kinski a aparecer), e a indução duma bela dicotomia expansiva, neo-romântica e concreta, épica, lírica, de suores e lágrima no olho. A sua melancolia expressiva fica na eternidade dos filmes. Sublime criador Ennio, o último dos românticos, dramático e lancinante, Morricone.

Carlota Gonçalves

C’era una volta il West (Aconteceu no Oeste, 1968) de Sergio Leone

Quando ouvi a notícia da morte de Ennio Morricone, o meu instinto foi, de imediato, ir recuperar o CD da banda sonora de C’era una volta il West (Aconteceu no Oeste, 1968). Há vários anos comprei esta banda sonora de um filme que nunca vi, mas cuja música se tornou, para mim, de cabeceira. Será que não vi mesmo o filme? Eu sinto que, através da música, vi um filme. Que todas as impressões e sugestões estão lá: a solidão, a aridez, a ansiedade, a presença de uma mulher. Sinto que há um vento quente que vagueia entre o som da harmónica e a magnífica voz de Edda Dell’Orso. É este o maior elogio que posso tecer a Ennio Morricone. 

Daniela Rôla

Il gatto a nove code (O Gato das Sete Vidas, 1971) de Dario Argento

Na minha cinefilia, e durante vários anos, falar de Ennio Morricone foi invocar westerns spaghetti, cinemas paraísos, crimes organizados e um “delicodoce” filme de Rolland Joffé, Cidade da Alegria (City of Joy, 1992), que terá bem sido um dos meus primeiros contactos com a sua música. Contudo, foi através de Il gatto a nove code (O Gato das Sete Vidas, 1971), incursão primordial de Dario Argento pelo giallo, que Morricone realmente – permitam-me o “trocadilho anglicista” – struck a chord. Recuperando agora essa banda sonora, entendemos como a qualidade musical de Ennio Morricone se sobrepõe de modo particular à narrativa e forma do filme e que, no geral, a sua criatividade nasceu para a ilustração de uma obra cinematográfica. A partir do tema agora destacado, intitulado “1970”, sentimos as raízes avant-garde da formação do compositor no Gruppo di Improvvisazione Nuova Consonanza, ao mesmo tempo que a sua minimalista instrumentalização e as sussurrantes vocalizações de Edda Dell’Orso são pauta de inquietação, mesmo junto de quem não observa a sua referente imagem fílmica.

Samuel Andrade

Le professionnel (O Profissional, 1981) de Georges Lautner

Estive quase 40 anos sem voltar a ver o filme de Lautner, e dele recordava apenas duas coisas: que tinha Belmondo e que havia por lá uma composição de Ennio Morricone que nunca me saíra da cabeça. Chama-se Chi Mai (em português, “quem é”) e li hoje que fizera já parte de um outro filme, Maddalena (Madalena, a Pecadora, 1971) de Jerzy Kawalerowicz. Também vi que foi Belmondo quem pediu para que fosse o tema principal em Le profissionnel (O Profissional, 1981), numa banda sonora de resto original mas sem outra melodia que se destaque. A música do italiano não se resume ao fatalismo que antecipa para as personagens um destino trágico (Morricone era perito na utilização lancinante dos instrumentos de cordas), mas é este o traço dominante que recordo por muito outros filmes, e por este em particular.     

Ricardo Gross

The Thing (Veio do Outro Mundo, 1982) de John Carpenter

O cerco finalmente é internalizado no cinema de Carpenter, mas a síntese só fica completa quando falamos da influência maior que é, para Carpenter, Howard Hawks – como o bicho “do outro mundo” que controla e desfigura a alma e os corpos, o cinema clássico entrou no organismo e ganhou vida em The Thing (Veio do Outro Mundo, 1982). Mas se há a coisa visual, também há a coisa sonora. Mais Carpenter que Carpenter, Morricone deu corpo na banda sonora à mais perfeita das apropriações virológicas – batidas sintetizadas imitam a pulsação do coração (“Dum-dum”…) e deixam-se envolver pelas notas agudas de um órgão que grita por uma salvação qualquer, por um Deus que responda às preces das primeiras vítimas do iminente fim da humanidade. Morricone faz música metafísica inoculando-a num filme realizado pelo habitual músico dos seus filmes, que lhe terá dito, simplesmente: “use fewer notes!” E assim foi: um vírus genial foi inserido no corpo mutante do mais clássico dos cinemas, isto é, o mais moderno. Muitos anos depois, Morricone seria convocado para a sequela mais perfeita do filme de Carpenter. Falo de The Hateful Eight (Os Oito Odiados, 2015) de Quentin Tarantino, o único Óscar (so what?) na carreira de Morricone.

Luís Mendonça

The Mission (A Missão, 1986) de Roland Joffé

Quando disserem o seu nome, não falem de Newman, Barry ou Williams, mas sim de Mozart, Bach ou Beethoven. Não era “um dos maiores compositores de bandas sonoras”, mas sim “um dos maiores compositores”. Ponto. Porque as suas composições são obras de arte por si, que vivem autonomamente para lá dos filmes para que foram pensados, enchendo os espaços onde se ouvem de uma beleza célica, apaixonante, fértil em imagens e emoções. Não (ou)viram The Mission (A Missão, 1986)? A banda sonora não se limita a acompanhar o filme. Fá-lo, verdadeiramente. Pois é quando os missionários jesuítas alcançam as cataratas do Iguaçu ao som da flauta de pã de “Falls”, quando o padre ascético de Jeremy Irons toca para os indígenas o principal instrumento de “Gabriel’s Oboe”, quando o mercenário esclavagista de De Niro encontra o perdão com os coros litúrgicos e tambores tribais de “Vita Nostra”, que The Mission é mais comovedor, mais forte, e infinitamente mais belo. Escutar o álbum de olhos fechados é compreender que não é deste mundo, tal como não o é o “Concerto para Clarinete”, a “Paixão segundo São Mateus” ou a “Nona Sinfonia”. É sentir, de maneira inefável, a mais libertadora música. É receber, com a sua bem saliente espiritualidade, essa obra imaculada chamada “The Mission”. É ouvir, em toda a sua glória, il Maestro Ennio Morricone. 

Duarte Mata

The Untouchables (Os Intocáveis, 1987) de Brian De Palma

Numa das duas brilhantes sequências de suspense de The Untouchables (Os Intocáveis, 1987) de Brian De Palma – em teoria, a mais antológica será a outra, que Ennio Morricone embala com uma melodia de berço, a homenagear o carrinho de bebé na escadaria de Odessa em O Couraçado Potemkine (Bronenosets Potemkin, 1925) de Eisenstein – Sean Connery, ou Jim Malone, movimenta-se pelos compartimentos da sua casa seguido pelo homem que veio para o matar, entrando pela janela da casa de banho. Malone sabe que está a ser seguido e quando encara de surpresa o assassino com uma faca na mão, a música que acicatava o momento pára, e ele diz com aquela voz que podemos amar: “Isn’t that just like a wop? Brings a knife to a gun fight”… até chegar à porta das traseiras e ser baleado por outro capanga de Capone. Aí já só se escuta o som do choro de um bebé (paralelo curioso com a sequência da escadaria, em que o bebé no carrinho não chora, apesar da azáfama do tiroteio). Mas é da banda sonora de Morricone que quero falar. Em toda a sequência descrita, que vai culminar com a chegada de Kevin Costner ao apartamento, e o seu comovente jeito de (se) agarrar (a)o corpo ensanguentado de Malone, a partitura de Morricone é um invólucro orfeico preciso, tanto a destilar tensão como, depois, a acalentar a dor, com notas que combinam o sentido de honra, nada abstracto, de Malone com a doçura do agarrar de uma mão. Esta é a inteligência melódica das composições do maestro italiano, que não ficam no primeiro estádio da audição mas entranham-se no corpo do espectador, melómano ou não. E este foi último filme que vi antes de saber da morte de Morricone, notícia que me devolveu a esse tema de uma solenidade sem espartilho. O tema de um adeus.

Inês N. Lourenço

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