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Lei e Ordem: no envelhecimento de Henry Fonda (parte II)

De Vítor Ribeiro · Em Janeiro 26, 2020

Um raccord de um discurso de Richard Nixon com Warlock (O Homem das Pistolas de Ouro, 1959) e o semi-deus Henry Fonda, já próximo do ocaso da Hollywood clássica, foi o assunto da crónica anterior, que estendemos a esta, num discorrer sobre os westerns como registos da implementação e apuro dos mecanismos da justiça, no alargamento para oeste da América.

The Tin Star (Sangue no Deserto, 1957) de Anthony Mann – Perkins elege Fonda como uma figura paternal e instrutora.

As duas primeiras sequências de The Tin Star (Sangue no Deserto, 1957), apresentam-nos os protagonistas e esboçam os temas que interessam ao filme de Anthony Mann: Morgan (Henry Fonda) chega à cidade com um homem morto atravessado no dorso do cavalo que o segue, perante a população que assiste, em silêncio; na cena seguinte, encontramos o jovem Ben Owens (Anthony Perkins), promovido a xerife, a ensaiar desajeitadamente o uso das armas, no encontro com o maduro Fonda, apresentado como body hunter (morto ou vivo, como anunciam os cartazes), que entrega o corpo de um homem procurado, resultado de uma luta justa – não encontrarão uma bala nas suas costas, diz Fonda. Perante a desconfiança da população, uma cidade de lei e ordem – como afirma o mayor – que empurra os estranhos da cidade, Fonda diz que não é a lei, mas que trabalha dentro dela por dinheiro. 

Com o envelhecimento do corpo, Henry Fondafoi sendo empurrado para personagens não só mais complexas, mas também mais sombrias.

Sem o estatuto sobre-humano de Warlock, Fonda é um solitário, que perdeu a mulher e o filho numa vida anterior: magro, de figura curvada, o rosto de tons negros e endurecido pelo tempo, personagem tão encorpada que precisamos de algumas cenas, e da relação com Perkins, como veremos, para a identificarmos como um dos homens justos e íntegros que povoam a filmografia de Anthony Mann. A fragilidade da estrela de lata do titulo é a que o inexperiente xerife Perkins traz ao peito e que ele deve manter limpa e brilhante. O diálogo entre Perkins e Fonda, a princípio, coloca-os em cenas diferentes, o xerife a defender estoicamente a captura dos criminosos vivos, para garantir um julgamento justo, com Fonda a contrapor com xerifes mortos, como se o agente da lei fosse um cordeiro a sacrificar em favor do lento progresso das instituições. Mas, a troca de argumentos dissolve o enigma do passado de Fonda: fora xerife e depois caçador de recompensas, uma alteração simbólica incitada pela perda e pelo passar do tempo, válida para a personagem, mas também para o percurso do Fonda actor [como se o envelhecimento do corpo o empurrasse para personagens não só mais complexas, mas também mais sombrias, onde o ponto de chegada talvez sejam o fatigado procurador de The Boston Strangler (O Estrangulador de Boston, 1968) e Frank de C’era una volta il West (Aconteceu no Oeste, 1968)]. A suspensão da desconfiança de Perkins elege Fonda como uma figura paternal e instrutora, não só no treino da pontaria, mas principalmente no estudo dos homens e no modo de os confrontar, onde muitas vezes será preciso matar para não ser morto. 

Se a fragilidade da lei atravessa todo o filme, a intolerância manifesta-se como um sintoma que alimenta a narrativa e gera a violência. Fonda, um estranho que a população transforma em ameaça, é empurrado da cidade, impedido de pernoitar no hotel e até de deixar os cavalos no estábulo, localizado simbolicamente no bordo urbano. Fonda acabará acolhido por Nona (Betsy Palmer), uma viúva que fora companheira de um índio, de quem teve um filho. Para lá de explicitar a intolerância com que se conquistou o Oeste – Fonda diz à viúva que eles são ensinados a odiar os índios – o protagonista adquire naquela casa, nos arrabaldes da cidade, um rejuvenescimento do olhar: os dias passados com aquela mulher e o seu filho são um reencontro com um passado que julgara perdido.

The Tin Star (Sangue no Deserto, 1957) de Anthony Mann – Fonda acabará acolhido por Nona, uma viúva que fora companheira de um índio, de quem teve um filho.

Há uma outra personagem distinta, o médico, Dr. McCord (John McIntire), que faz figura de humanista da cidade e que procura costurar as várias perspectivas: apoiante do jovem xerife, hesitante com Fonda, fora o único que apoiara Nona, angariando-lhe habitação e trabalho. Na madrugada do seu 75.º aniversário, o médico é assassinado, no exercício do dever, fora da cidade. Anthony Mann assinala o acto horrendo, ao recusar-se a mostrá-lo, não lhe concedendo tão pouco o fora de campo. Com toda a cidade a esperá-lo, numa tradição anual de juntar todos os que o médico ajudou a nascer, ele chega morto dentro da carruagem vagarosa, guiado pelo cavalo: uma fantasmagoria, num dia de sol e de festa, que acentua a debilidade da civilização. 

Tal como em Warlock e em The Ox-Bow Incident (Consciências Mortas, 1942), ao qual nos dedicaremos nos parágrafos seguintes, Fonda irá procurar impedir um linchamento, na última lição do jovem xerife, para garantir um julgamento justo ao mais miserável dos assassinos.

Gil Carter é um Fonda quinze anos mais jovem que os dois anteriores, apresentado na primeira cena no saloon como um homem vulgar, um cowboy estouvado, que passara o inverno a transportar gado, acabado de chegar à cidade e com propósitos bastante prosaicos: beber, encontrar uma mulher e de preferência arranjar umas lutas. 

Entretanto, chega à cidade a notícia de um homicídio, e se alguns populares identificam a necessidade de chamar o juiz e o xerife, há quem compre corda e verbalize: no Texas não esperamos, tratamos logo do assunto. É uma cidade moribunda, quase deserta, com edifícios desprezados, como se essa ausência de cidade, apontasse a falta de civilidade dos cidadãos e a precariedade da lei. O deputy aproveita a ausência do xerife e lidera o procedimento de formação de um bando que, legitimado pela lei, poderá perseguir os homicidas e decidir a sua sorte. A constituição do bando parece um prenúncio do tribunal de júri, ao procurar integrar uma amostra representativa da cidade: um militar saído da Guerra de Secessão e o filho, uma mulher, um homem de fé, vários cowboys e outros homens mais velhos.

The Ox-Bow Incident (Consciências Mortas, 1942) de William A. Wellman – Um único e longo acto de dramaturgia encenado sob o céu escuro.

Durante a perseguição, o bando cruza-se com uma diligência que transporta Rose e o novo marido de São Francisco, que numa conversa com Fonda, sabendo que ele terá mantido uma relação com Rose, discorre um longo e eloquente discurso, dizendo que ela precisa de se adaptar à nova realidade, do casamento, mas que depois ele e outros amigos poderão visitá-los em São Francisco. Depois da diligência partir, Fonda apelida o marido de Rose de presunçoso, e se a cena a princípio parece uma excrescência, num filme tão focado no tema e tão económico na sua duração e na escolha dos cenários, aquele diálogo revela já o fosso entre as várias américas, das grandes cidades e do interior.

Depois de capturados os três suspeitos, William A. Wellman fixa o quadro num local inóspito (distante da cidade), apenas pontuado por umas quantas árvores despidas, um único e longo acto de dramaturgia encenado sob um céu escuro e rasgado de nuvens negras, a noite como um esconderijo para a mais miserável das acções. O bando é liderado pelo major, que força o estatuto de caricatura no uso da farda e dos procedimentos militares, na inquirição aos três homens, um mexicano (Anthony Quinn), um velho alienado e Donald (Dana Andrews), que procura fazer a defesa dos três homens e exigir um julgamento na cidade. São apontados indícios que só encontram resistência em Davies (Harry Davenport), um homem mais velho que apontara ilegalidades ao procedimento, no homem de fé, que perdera o irmão num enforcamento e que afirma que é errado os homens substituírem-se a Deus num acto de vingança, e Fonda que a princípio vigia o processo, para depois ser o principal defensor daqueles homens, uma lucidez que Wellman assinala ao iluminar de forma distinta a figura do protagonista. 

Uma melodia melancólica associa-se a um ambiente de terror que traça o desfecho, com o alinhamento dos vestígios dos crimes a par de argumentos dos participantes do bando que afirmam que a justiça é lenta e imprudente por ali, no assomar de uma ideia de justiça-espéctaculo: a mulher adianta que poucos deles terão assistido a um triplo enforcamento. A votação avança e apenas uma minoria de sete vota pelo julgamento na cidade, entre eles o filho do major, a quem o pai apelidara de efeminado, o que comenta o conflito de gerações na desarticulação da nação saída da guerra norte-sul. São permitidos alguns minutos aos condenados para as orações e para Andrews escrever uma carta à mulher e aos filhos, após a insistência de Davies, que antecipou a relevância dessa peça escrita, como um legado que ecoaria nas consciências dos participantes do linchamento. Wellman já só nos mostra a sombra dos corpos enforcados a balançar, ocultando-nos o odioso acto que ficara fora de campo, quando o bando começa a abandonar o cenário ermo: à frente, o major de cabeça erguida, um pouco atrás, os cabisbaixos Fonda, Davies e o filho do major. 

The Ox-Bow Incident (Consciências Mortas, 1942) de William A. Wellman – Na última cena, ao balcão do saloon, é Fonda que lê a carta de Andrews, na presença de alguns dos participantes da noite escura.

O encontro no caminho de regresso com o xerife, desmonta em menos tempo que a combustão de um fósforo todos os indícios que suportaram a sentença, a demonstrar a necessidade de imposição de garantias que respondam às fragilidades das decisões da maioria. Na última cena, ao balcão do saloon, é Fonda que lê a carta de Andrews, na presença de alguns dos participantes da noite escura, que apetece transcrever aqui, mas que fica como motivação adicional para o leitor encontrar o filme.

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Vítor Ribeiro

"Não gosto da vida verdadeira e por isso me dedico à ficção. Se a literatura não existisse, eu mesmo a inventaria." Enrique Vila-Matas

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