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À pala de Walsh
Críticas, Em Sala 2

“A Rainy Day in New York”: chove no meu coração

De Duarte Mata · Em Outubro 29, 2019

Vejo o novo Woody Allen com a impressão de estar a tomar o café anual com um velho amigo. Podemos dizer pouco ou nada de novo um ao outro, e a conversa pode bem girar à volta dos mesmos temas, mas gosto de saber por onde tem andando, o que tem feito, os rostos que tem visto, ao mesmo tempo que reparo silenciosamente nos efeitos que a idade lhe tem vindo a trazer no discurso. Em suma, sabe-me bem vê-lo.

A Rainy Day in New York (Um Dia de Chuva em Nova Iorque, 2019)

A Rainy Day in New York (Um Dia de Chuva em Nova Iorque, 2019), sobre um casal de namorados, Gatsby e Ashleigh, que vai passar um fim-de-semana à “Grande Maçã” e as várias situações insólitas com que se vão deparando, é Allen a ser Allen na medida em que as relações humanas, principalmente as entre homens (ansiosos, neuróticos, intelectuais) e mulheres (joviais, confiantes, bonitas), são discutidas com uma Nova Iorque idílica a servir de cenário. A Nova Iorque dos filmes das décadas de 30 e 40, com os quais o cineasta cresceu, de apartamentos elegantes, ruas limpas, restaurantes românticos, hotéis luxuosos, museus labirínticos, passeios de charrete e bares em hora de fecho. Por outro lado, e graças à presença de Storaro como director de fotografia, é uma obra de um fulgor visual distintivo dos seus outros filmes nova-iorquinos, percorrida por uma crescente candura, e que não deixa de acarretar um travo a melancolia, na forma como os seus jovens actores são olhados.

Falemos de Storaro. É com o inigualável director de fotografia que Allen tem encontrado uma original veia expressionista no seu cinema, trabalhando-o rigorosamente numa inovadora perspectiva psicocromática, isto é, fazendo uso da cor com a finalidade de espelhar as características e transformações psicológicas e emocionais das personagens. Não raras vezes teremos nos filmes Allen-Storaro uma cena iluminada com uma cor predominante a ser totalmente substituída por outra, tornando-se um equivalente visual para uma alteração no estado psíquico das personagens e/ou no tipo de relações que estabelecem entre si [é também por isso, mas não só, que Wonder Wheel (Roda Gigante, 2017) é uma quase obra-prima]. No caso de A Rainy Day… observe-se, por exemplo, a cena em que três beijos são encenados no filme-dentro-do-filme entre Gatsby e Shannon (uma aspirante a actriz, irmã de uma antiga namorada do protagonista) num cenário exterior. Os primeiros dois beijos são secos, sem sentimento, mostrados com aquele alaranjado saturado, caloroso e sacarino que havíamos visto emanado de Ashleigh (recordando, a namorada de Gatsby, natural do Arizona e com aquela ingenuidade adolescente de quem se vai pôr um dia em sarilhos). Gatsby pensa em Ashleigh, resiste a Shannon (“Eu tenho namorada”, diz-lhe), e por isso Allen filma sob esta coloração. No entanto, no momento em que cede ao terceiro beijo, agora intenso e carnal, o céu fica enublado e entramos em tons de cinza, passando a associar uma cor diferente a outra personagem (Shannon, que é a que compartilha da sensibilidade de Gatsby pela chuva), ao mesmo tempo que fica claro que a partir daqui o protagonista estará, mesmo que de forma remota, emocionalmente dividido entre as duas mulheres.

Podemos estar enganados, mas parece-nos de uma coerência irrepreensível a forma como Allen e Storaro vão trabalhando esse balanço entre o cor-de-laranja e o cinzento, entre o Sol e a chuva, entre Ashleigh e Shannon. Olhando para Ashleigh, os momentos em que domina a cena são justamente salientados por uma meteorologia serena e alaranjada (por exemplo, a entrevista com o realizador que admira), mas quando se encontra à chuva, depara-se com situações humilhantes que clarificam a sua inadequação ao meio citadino, nomeadamente o das celebridades, moralmente corrupto e oportunista (quando um argumentista descobre que a mulher lhe é infiel e confronta-a na rua, ou quando Ashleigh foge em roupa interior da casa de um galã). Com Shannon, pelo contrário, é na chuva que a sua presença está mais marcada positivamente, em momentos que incentivam e destacam a crescente proximidade entre ela e Gatsby, seja em beijos apaixonados, conversas à porta do museu, ou apenas quando estes compartilham um táxi.

Entre encontros e desencontros, os pequenos adultos de Allen com as suas crises existenciais, dilemas amorosos e conflitos intergeracionais são filmados com encanto, ternura, confiança e uma comovente candidez.

Mas porquê falar apenas de luzes e condições atmosféricas? Um dos maiores prazeres de se ver no cinema americano actual são estes planos-sequência sofisticados que, sem precisarem de gritar por atenção com uma steadicam acrobática, criam a sensação de presença no espaço onde se encontram as personagens, à medida que, numa coreografia graciosa e elaborada, entram e saem dos enquadramentos, movem entre o primeiro e o segundo plano, criam e desenvolvem uma relação realista com os cenários ao, por exemplo, sentarem-se em sofás, moverem-se para mesas e servirem-se de bebidas, sem um único corte que interrompa a imersividade do momento. A cena em que Gatsby visita a casa de um amigo que lhe apresenta os seus queixumes sobre o riso da esposa, mais do que ser uma das cenas humorísticas que mostram como Allen tem os seus talentos de argumentista imaculados, é por estas razões um magnífico momento de mise en scène que expõe um realizador em pleno domínio da sua arte.

Na forma como explora as dinâmicas entre as várias figuras saídas da sua pena, que vão de artistas torturados a prostitutas de uma sensualidade exaltada, Woody Allen repete a sua reconhecível filosofia sobre a vida, o amor, ou o mundo do espectáculo, construindo um pequeno conto sobre a aceitação da identidade e da família, pelos olhos de um rapaz burguês que aprendeu a respeitar o estrato social a que pertence, passando a vê-lo como algo conquistado e não adquirido. Entre encontros e desencontros, os pequenos adultos de Allen com as suas crises existenciais, dilemas amorosos e conflitos intergeracionais são filmados com encanto, ternura, confiança e uma comovente candidez. A Rainy Day… é um filme doce e apaixonado pelo élan da juventude, feito por um cineasta que conhecemos amargurado e intoxicado por crises de meia-idade. E mesmo que já não haja aquela aura de lovable loser presente nalguns dos seus melhores trabalhos, é bom ver que Allen continua a ser um romântico, que os problemas de que fale permaneçam no fundo os do coração, e que seja no amor e na arte que ainda encontre resposta para as inquietações que assolam os protagonistas angustiados do seu oásis urbano.

Chegam os créditos finais. É o momento da despedida. Saio da sala e venho para a rua. Não chove. Para o ano lá nos vemos, Woody.

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2010'sVittorio StoraroWoody Allen

Duarte Mata

Perguntaram-lhe: "Mr. Ford, you made a picture called 'Three Bad Men', which is a large scale western, and you had a quite elaborated land rush in it. How did you shoot that?" E ele respondeu: "With a camera."

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2 Comentários

  • JOSE diz: Dezembro 5, 2019 em 2:17 am

    Excelente análise, imagem de marca de À Pala de Walsh!

    Inicie a sessão para responder
  • “Rifkin’s Festival”: o cinema como ferramenta de psicanálise | À pala de Walsh diz: Setembro 23, 2021 em 11:28 am

    […] Allen-Storaro que é o tratamento discretamente expressionista da cor. Tal como acontecia em A Rainy Day in New York (Um Dia de Chuva em Nova Iorque, 2019), o protagonista encontra-se dividido entre duas mulheres, […]

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