• Homepage
    • Quem Somos
    • Colaboradores
  • Dossier
    • Raoul Walsh, Herói Esquecido
    • Os Filhos de Bénard
    • Na Presença dos Palhaços
    • E elas criaram cinema
    • Hollywood Clássica: Outros Heróis
    • Godard, Livro Aberto
    • 5 Sentidos (+ 1)
    • Amizade (com Estado da Arte)
  • Críticas
    • Cinema em Casa
    • Em Sala
    • Noutras Salas
    • Raridades
    • Recuperados
    • Sem Sala
  • Em Foco
    • Divulgação
    • In Memoriam
    • Melhores do Ano
    • Palatorium Walshiano
    • Passatempos
    • Recortes do Cinema
    • Se Confinado Um Espectador
  • Crónicas
    • Filmes nas aulas, filmes nas mãos
    • Nos Confins do Cinema
    • Recordações da casa de Alpendre
    • Se Confinado Um Espectador
    • Week-End
    • Arquivo
      • Civic TV
      • Constelações Fílmicas
      • Contos do Arquivo
      • Ecstasy of Gold
      • Em Série
      • «Entre Parêntesis»
      • Ficheiros Secretos do Cinema Português
      • Filmado Tangente
      • I WISH I HAD SOMEONE ELSE’S FACE
      • O Movimento Perpétuo
      • Raccords do Algoritmo
      • Ramalhetes
      • Retratos de Projecção
      • Simulacros
      • Sometimes I Wish We Were an Eagle
  • Contra-campo
    • Caderneta de Cromos
    • Comprimidos Cinéfilos
    • Conversas à Pala
    • Estados Gerais
    • Filme Falado
    • Filmes Fetiche
    • Sopa de Planos
    • Steal a Still
    • Vai~e~Vem
    • Arquivo
      • Estado da Arte
      • Cadáver Esquisito
      • Actualidades
  • Entrevistas
  • Festivais
    • Córtex
    • Curtas Vila do Conde
    • DocLisboa
    • Doc’s Kingdom
    • FEST
    • Festa do Cinema Chinês
    • FESTin
    • Festival de Cinema Argentino
    • Frames Portuguese Film Festival
    • Harvard na Gulbenkian
    • IndieLisboa
    • LEFFEST
    • MONSTRA
    • MOTELx
    • New Horizons
    • Olhares do Mediterrâneo – Cinema no Feminino
    • Panorama
    • Porto/Post/Doc
    • QueerLisboa
  • Acção!
À pala de Walsh
Críticas, Em Sala 4

“Parasitas”: corpos ricos, bactérias pobres

De Carlos Natálio · Em Setembro 24, 2019

E se os pobres fossem os parasitas dos ricos? Este subtexto do novo filme de Joon Ho Bong terá o poder e o condão de afastar muito boa gente da sala de cinema, assim como de dinamitar o olhar sobre esta obra, em virtude de uma dada leitura política. Mas, ajunte-se, e se o coreano tivesse ido filmar os brinquedinhos, os recreios das mansões luxuosas e as paranóias das classes ricas do seu país e fosse ele mesmo o parasita? A térmita que tudo procura roer por dentro, com a enzima da comédia negra, da sátira social que explode em violência e compaixão. A coisa assim complica-se e ainda bem.

Ainda a premissa. Um casal e seus dois filhos vivem numa casa minúscula, com visão gradeada abaixo do nível da rua, de onde se podem ver os bêbados a mijar e em que é preciso subir à retrete para ter wifi. Fazem biscates, dobram caixas de pizza, os filhos não estudam e o desemprego é a condição. Do outro lado, a família duplo. A viver numa casa maravilhosa, a filha a necessitar de explicações, o menino irrequieto com problemas “artísticos”, e os pais cada um com seu babysitter: a empregada e o motorista. Sem revelar mais digo apenas que Bong filmará uma certa ideia de invasão do organismo, de luta pelo território, de esventramento de um elevador social parado que é preciso enxergar no seu poço e entranhas.

Bong sugere, não sem problema, que há um odor na pobreza que, mesmo quando tudo o resto é encenado ou cirurgicamente removido, se mantém inalterado.

Os temas principais de Gisaengchung (Parasitas, 2019) não são novidade no cinema de Joon Ho Bong. Em 2006, com Gwoemul (The Host – A Criatura, 2006), já o realizador filmava, através de uma criatura nascida dos excessos da poluição e dos esgotos, uma ideia de contaminação e a relação parasita/hospedeiro. Uns anos depois, outro tema presente na Palma de Ouro de Cannes deste ano (a primeira de sempre para a Coreia), surgiria na sua obra: a alegoria para o confronto de classes sociais. Falo de Snowpiercer (Expresso do Amanhã, 2013) [a tradução em português continua tão bonita, não é?], uma distopia assente na ideia de divisão das classes de acordo com os diferentes compartimentos de uma locomotiva. Ora, o filme de 2019 é o sumo de laranja da ideia de parasitagem, com a polpa da manga da crítica social.

Mas vale a pena procurar ainda outro sabor a adicionar à já de si gostosa polpa manga-laranja. O ano passado, ainda em Cannes, um filme do compatriota Chang-dong Lee, Beoning (Em Chamas, 2018), vencedor do prémio Fripresci, filmava, a propósito da vida de um jovem novelista, as diversas entradas no apartamento modesto da sua amiga de infância e no apartamento luxuoso do amigo desta. Em 2016, Chan-wook Park, em Ah-ga-ssi (A Criada, 2016) filmava um plano de sedução e entrada na casa de uma viúva japonesa através de uma carteirista que veria tornar-se sua criada. E que dizer do “longínquo” ano de 2004, no qual Kim Ki-duk realizou Bin-jip (Ferro 3, 2004) acerca de um jovem “fantasma” que entrava nas casas de famílias desconhecidas, enquanto estas estavam ausentes e lhes pagava a estadia em limpezas ou concertos? Estes filmes coreanos da última década parecem ter em comum uma abordagem crítica das divisões sociais no país, através das casas e, em particular, da entrada “sorrateira” como forma de auscultação de uma possível, ainda que transiente, mobilidade social.

Nesse filme de Kim Ki-duk estava já contida esta ideia de presença espectral de uma dada classe sobre a outra. Coisa que Gisaengchung torna evidente. A dona da casa rica crê que tem um fantasma em sua casa e que isso lhe traz prosperidade. Assim como o seu filho que, não conseguindo distinguir visualmente a presença de um “parasita” em sua casa, sente a sua presença através de odor particular. Bong sugere, não sem problema, isso mesmo: que há um odor na pobreza que, mesmo quando tudo o resto é encenado ou cirurgicamente removido, se mantém inalterado. Aliás, não por acaso, numa das sequências, vemos uma enorme enxurrada que inunda de lama – de esterco, é isso mesmo que vem à mente – a casa da família pobre.

Em 1993, o filósofo Jacques Derrida escreveu um livro chamado Spectres de Marx que dava conta de uma certa presença, como retorno espectral, das teorias marxistas após a queda do muro de Berlim e o declínio do comunismo. Um contexto para atestar dessa espectralidade é dada por todo o pensamento neo-marxista do qual Antonio Gramsci, filósofo e membro fundador do Partido Comunista Italiano, foi um de vários exemplos. A razão porque o nomeamos é porque este defendia que a classe trabalhadora é dominada pela classe dirigente sem que aquela tenha noção desse controlo, desse domínio. Parte da violenta utopia de Gisaengchung inverte, ainda que transitoriamente, esta mesma premissa de Gramsci. Aqui é a elite toda poderosa que nunca se apercebe da presença espectral e domínio da classe desfavorecida.

O resultado, em qualquer dos casos, em Gramsci como em Bong, parece ser o mesmo. A queda da estrutura social, a guerra sangrenta ou a espera pelo melhor momento para a mudança. Entretanto, o coreano ensaiará um pós-prólogo economicista, mas… tudo não passará de um novo e rico (novo-rico) sonho.

Partilhar isto:

  • Twitter
  • Facebook
2010'sAntonio GramsciBong Joon-hoChan-wook ParkChang-dong LeeFestival de CannesJacques DerridaKarl MarxKim Ki-Duk

Carlos Natálio

«Keep reminding yourself of the way things are connected, of their relatedness. All things are implicated in one another and in sympathy with each other. This event is the consequence of some other one. Things push and pull on each other, and breathe together, and are one.» Marcus Aurelius

Artigos relacionados

  • Cinema em Casa

    “Mulher na Praia”: a maleita das imagens

  • Cinema em Casa

    “Soul”: a vida, a morte e o jazz

  • Críticas

    “Nosotros, la música”: uma questão de orgulho cubano

4 Comentários

  • Nádia Fareniente diz: Setembro 28, 2019 em 12:31 am

    Bong sugere, não sem problema, isso mesmo: que há um odor na pobreza que, mesmo quando tudo o resto é encenado ou cirurgicamente removido, se mantém inalterado. ERRADO! Não existe uma sugestão de que a pobreza tem um cheiro diferente. Existe uma afirmação clara. E não há qualquer problema nisso, porque é a absoluta verdade. Porque o cheiro a que Bong se refere não é propriamente um cheiro simbólico da pobreza é um cheiro concreto, é o cheiro dos fritos, da cave, da humidade, do mofo, do suor de uma alimentação pobre, da favela urbana. E nunca existe um momento onde tudo isto é cirurgicamente removido. Mesmo quando a família se apodera da casa, que acontece durante um período curto de tempo, nunca existe o tempo suficiente para que esse odor se dissipe, esse odor da pobreza é um odor consequencial, é o odor de ser pobre. É odor da precariedade e não existe uma remoção cirúrgica, existe apenas um disfarce, uma máscara mal posta, suficiente para entrar, mas não suficiente para tomar conta, aliás nem existe uma pretensão de tomar conta, há apenas um vislumbre de uma sobrevivência mais digna. E portanto não existe também uma inversão da premissa de Gramsci. Porque essa elite nunca está sobre o domínio da classe desfavorecida. Ela nuca se torna sequer ameaçadora, no sentido de ocupar o lugar do dominador, apenas se alimenta dos seus restos. E portanto a premissa, Natálio, está toda errada e como tal a critica é completamente absurda. O que Bong sugere de facto é uma intrusão e não uma invasão de um organismo, e sim há uma tentativa de fazer um corta mato, de modo a fintar esse elevador social parado. Algo que nunca acontece porque segundo o que Bong sugere a grande tragédia e a ironia da pobreza é um pouco como na anedota do caranguejo (os politicamente correctos que me perdoem os estereótipos, mas sabem como são as anedotas): Um inglês observa um pescador português que apanha caranguejos à beira de um rio e repara que o balde onde o pescador está a colocar os caranguejos não tem tampa. A primeira coisa que faz é advertir o pescador português. – Caríssimo se não põe a tampa o caranguejo foge ao que o outro responde, não se preocupe, isto é caranguejo português quando um sobe o outro puxa para baixo. O que Bong sugere é essa luta pelo mínimo de dignidade entre os parasitas pobres, o já instalado e o que entra na casa, quando um sobe o outro puxa para baixo, podíamos com algum esforço aplicar aqui talvez o conceito Hegeliano de abstracção negativa, mas nunca o de uma substituição da classe dominante. Quanto ao final, o tal pós-prólogo economicista, que não passará de um novo e rico (novo rico) sonho (esta frase é mera retórica do pior que há), é tudo menos isso. O climax é um momento de reconhecimento do parasita no outro parasita, é um momento de fúria e de solidariedade, e as consequências desse acto levam depois à questão fulcral que é à eterna efabulação do parasita que sonha que um dia deixará de ser parasita, esse sonho de atingir o topo, essa aparente meta bem desenhada por uma liberdade formal e obliterada pela liberdade actual. Natálio, tens de tirar esses óculos de beto mete-nojo e ver o filme outra vez. Não vale a pena citar Gramsci em vão 🙂

    Inicie a sessão para responder
  • Palatorium walshiano: de 12 de Setembro a 3 de Outubro | À pala de Walsh diz: Outubro 4, 2019 em 9:33 am

    […] outro lado, o filme vencedor da última Palma de Ouro, Gisaengchung (Parasitas, 2018) do sul-coreano Bong Joon-Ho atinge o consenso entre os avaliadores, obtendo mesmo […]

    Inicie a sessão para responder
  • Chacun seu marisco | À pala de Walsh diz: Abril 12, 2020 em 1:55 pm

    […] andar à cabeçada uns aos outros pelo excelso ou medíocre valor cinematográfico e político de Gisaengchung (Parasitas, 2019) de Joon Ho Bong e eis que nos metem pela goela abaixo da sala de streaming (vulgo […]

    Inicie a sessão para responder
  • Caderneta de Cromos #8: Ricardo Gonçalves | À pala de Walsh diz: Setembro 17, 2020 em 6:37 pm

    […] Descreve um remake do Gisaengchung (Parasitas, 2019) feito pelo Philippe Garrel com duas sequências de montagem paralela que fariam o […]

    Inicie a sessão para responder
  • Deixe uma resposta Cancelar resposta

    Tem de iniciar a sessão para publicar um comentário.

    Últimas

    • Amigos e comparsas na nouvelle vague

      Fevereiro 25, 2021
    • In memoriam: Jean-Claude Carrière (1931-2021)

      Fevereiro 24, 2021
    • A piscina da vizinha é o cinema da minha

      Fevereiro 23, 2021
    • “Mulher na Praia”: a maleita das imagens

      Fevereiro 22, 2021
    • Três passos numa floresta de alegorias

      Fevereiro 21, 2021
    • “Soul”: a vida, a morte e o jazz

      Fevereiro 18, 2021
    • Parar as cores

      Fevereiro 17, 2021
    • Vai~e~Vem #30: o que pode o retrato

      Fevereiro 16, 2021
    • Steal a Still #38: Luís Miguel Oliveira

      Fevereiro 15, 2021
    • Lições de um século

      Fevereiro 14, 2021

    Goste de nós no Facebook

    • Quem Somos
    • Colaboradores
    • Newsletter

    À Pala de Walsh

    No À pala de Walsh, cometemos a imprudência dos que esculpem sobre teatro e pintam sobre literatura. Escrevemos sobre cinema.

    Críticas a filmes, crónicas, entrevistas e (outras) brincadeiras cinéfilas.

    apaladewalsh@gmail.com

    Últimas

    • Amigos e comparsas na nouvelle vague

      Fevereiro 25, 2021
    • In memoriam: Jean-Claude Carrière (1931-2021)

      Fevereiro 24, 2021
    • A piscina da vizinha é o cinema da minha

      Fevereiro 23, 2021
    • “Mulher na Praia”: a maleita das imagens

      Fevereiro 22, 2021
    • Três passos numa floresta de alegorias

      Fevereiro 21, 2021

    Etiquetas

    2010's Alfred Hitchcock Clint Eastwood François Truffaut Fritz Lang Jean-Luc Godard John Ford João César Monteiro Manoel de Oliveira Martin Scorsese Orson Welles Pedro Costa Robert Bresson Roberto Rossellini

    Categorias

    Arquivo

    Pesquisar

    © 2020 À pala de Walsh. Todos os direitos reservados.