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À pala de Walsh
You Were Never Really Here (2017) de Lynne Ramsay
Críticas, Em Sala 1

You Were Never Really Here (2017) de Lynne Ramsay

De João Araújo · Em Maio 21, 2018

Intenso, desconfortável, fragmentado e niilista, é esta a realidade nos filmes de Lynne Ramsay, sempre a olhar e re-examinar o passado como momentos falhados, onde se jogou e perdeu o presente e o futuro. O que torna então este You Were Never Really Here (Nunca Estiveste Aqui, 2017) diferente, vibrante mesmo? Duas variações, que contrastam com o distanciamento emocional e anestesiado que afligia as personagens em filmes anteriores: primeiro, uma interpretação tortuosa e ancorada na entrega e transformação física de um indomável Joaquin Phoenix, que dá corpo a um animal ferido em queda livre; depois, uma aproximação a um humanismo em bruto (por oposição ao tal distanciamento derrotado, à negação da redenção), ao colocar no percurso do tal animal a figura de uma vítima que é preciso resgatar das trevas. É neste embate interior de um personagem, colocado entre a perseguição e repetição de uma tarefa impossível, condenado a uma espécie de mito de Sísifo, e a derradeira percepção da necessidade de continuar, que fica claro que pode não haver redenção, mas as pequenas vitórias pírricas mostram-se necessárias, uma a uma.

You Were Never Really Here (2017) de Lynne Ramsay

A primeira imagem do filme surge como um assombro, um brevíssimo prólogo de uma colagem sonora e visual desconexa, que revela a face da personagem de Joaquin Phoenix (Joe) envolta num saco plástico até a sua respiração esmorecer, numa auto-asfixia que é interrompida no último segundo – será uma tentativa falhada de suicídio, um ritual para se sentir vivo? A sequência seguinte é igualmente enigmática: encontramos Joe a recolher vários artefactos num quarto de hotel (um martelo ensanguentado, uma fotografia queimada de uma rapariga), que parecem querer dar a entender que estamos perante uma história de um assassino em série. As pistas falsas e a desorientação são características dos filmes de Ramsay, que não só dá pouco ou nenhum contexto à acção, como a apresenta de forma não linear, intercalando os momentos temporais como espelho do estado mental fragmentado e difuso dos seus protagonistas. Se apesar de Movern Callar (2002) também parecer que decorria mais na mente da sua protagonista do que na realidade mas era mais directo, em We Need to Talk About Kevin (Temos de Falar Sobre Kevin, 2011) uma mãe lida com as consequências de um evento traumático refugiando-se em fantasias e olhando para o passado, tentando fazer sentido do caminho até aí. Com o presente contagiado por pequenos momentos do passado, é como se estivesse aí contido a chave para a inevitabilidade do que aconteceria mais tarde.

Esta construção sinuosa, em que pequenas vinhetas do passado vão acumulando-se para ajudar a compor um retrato emocional de alguém cicatrizado por eventos anteriores, está também presente em You Were Never Really Here. Aqui esses momentos que permeiam o presente como pequenos abalos, surgem ainda de forma mais convulsa, mais abrupta: a sugestão de um pai violento e abusivo para com a mãe, o refúgio num mundo imaginário enquanto criança, a contagem decrescente repetida como forma de escape, as fantasias suicidas, e acima de tudo, os falhanços profissionais que colocaram em risco a vida de outros. As cenas mais importantes do filme duram poucos segundos, surgem como tremores: uma mostra Joe a abrir uma porta para um contentor cheio de cadáveres, outra uma rapariga num deserto a ser executada – explicam pouco a pouco o peso nos ombros sentido por Joe. Esta composição de um estado levitado da personagem remete para o cinema de Atom Egoyan, em particular o período de Exotica (Exótica, 1994) e The Sweet Hereafter (O Futuro Radioso, 1997), filmes puzzle em que o passado e o presente surgem como narrativas paralelas que se explicam mutuamente, em que uma desorientação emocional é sinónima de um deslocamento temporal.

Ramsay é exímia na criação de um ofuscamento sensorial e cromático fragmentado, que espelha a desorientação física e psicológica das personagens, que habitam um mundo indefinido, entre o real distorcido, e a fantasia verosímil.

Apenas mais tarde e aos poucos fica claro a “missão” de Joe, e da mesma forma que entramos em cada cena como se apanhássemos algo a meio, parece que chegamos ao filme já este vai a meio. O comportamento abusivo do seu pai terá levado Joe a procurar corrigir essa injustiça e para uma profissão onde podia punir homens parecidos; o trauma de um falhanço trágico dessa forma legal de agir leva-o a um submundo onde procurar fazer justiça pelas próprias mãos – de martelo em punho – procurando recuperar raparigas adolescentes que foram sequestradas para trabalho sexual, e punindo quem lhe aparece pela frente. Entre os “trabalhos” ensaia fantasias suicidas, não tem vontade em continuar vivo – mas sabe que precisa de o fazer, porque pode salvar mais uma rapariga – um exemplo: enquanto espera pelo metro, Joe olha para os carris, como que a contemplar atirar-se para a frente, mas desvia o olhar para uma jovem rapariga na plataforma com um olho negro. Enterra-se assim cada vez mais num buraco sem saída, sujando-se com cada “missão”. É por isso notável a metáfora de uma cena em que Joe mergulha num rio para despedir-se de um cadáver, como num funeral-baptismo, à procura de um renascimento: uma segunda oportunidade é a única coisa que persegue, de corrigir o passado.

Mas além da fragmentação narrativa, que podemos colocar ao lado de uma fragmentação da actualidade invadida por pequenas memórias, Ramsay é exímia na criação de um ofuscamento sensorial e cromático fragmentado (ajudado por uma inquietante banda sonora de Jonny Greenwood), que espelha a desorientação física e psicológica das personagens, que habitam um mundo indefinido, entre o real distorcido, e a fantasia verosímil. Phoenix é brilhante na composição de uma personagem que na maior parte das vezes não tem a certeza se o que vive está realmente a acontecer, que move-se em chão incerto, na forma como dá corpo a alguém desconfortável com a sua própria existência, nem que seja pela respiração ou forma como tenta desaparecer nas sombras.

A auto-punição da personagem principal é uma constante, um dos temas do filme, uma espécie de auto-destruição evidente a partir de certo ponto na desconsideração que Joe tem pelo que lhe pode acontecer, numa espiral de violência. Porém, quando o resgate de uma das raparigas corre de forma inesperada, esta personagem que até aqui parecia mover-se como um fantasma, com o seu desaparecimento em contagem decrescente, vê finalmente um novo caminho, um novo destino. O aparecimento da rapariga surge assim como uma catarse emocional, maior do que a violência exercida até aí, é o tal renascimento, segunda oportunidade e hipótese de redenção – resta perceber o que fazer a seguir, mas pela primeira vez em muito tempo, o futuro é uma possibilidade.

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João Araújo

"I don't think the film has a grammar. I don't think film has but one form. If a good film results, then that film has created its own grammar" Yasujiro Ozu in "Ozu and The Poetics of Cinema", David Bordwell

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1 Comentário

  • Palatorium walshiano: de 5 de Maio a 7 de Junho | À pala de Walsh diz: Junho 7, 2018 em 11:34 pm

    […] homenagem desilusão a Eduardo Lourenço, Labirinto da Saudade (2018) de Miguel Gonçalves Mendes; You Were Never Really Here (Nunca Estiveste Aqui, 2017) de Lynne Ramsay; Krotkaya (Uma Mulher Doce, 2017) de Sergei […]

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