• Homepage
    • Quem Somos
    • Colaboradores
  • Dossier
    • Raoul Walsh, Herói Esquecido
    • Os Filhos de Bénard
    • Na Presença dos Palhaços
    • E elas criaram cinema
    • Hollywood Clássica: Outros Heróis
    • Godard, Livro Aberto
    • 5 Sentidos (+ 1)
    • Amizade (com Estado da Arte)
  • Críticas
    • Cinema em Casa
    • Em Sala
    • Noutras Salas
    • Raridades
    • Recuperados
    • Sem Sala
  • Em Foco
    • Divulgação
    • In Memoriam
    • Melhores do Ano
    • Palatorium Walshiano
    • Passatempos
    • Recortes do Cinema
  • Crónicas
    • Ficheiros Secretos do Cinema Português
    • Nos Confins do Cinema
    • Raccords do Algoritmo
    • Week-End
    • Arquivo
      • Civic TV
      • Constelações Fílmicas
      • Contos do Arquivo
      • Ecstasy of Gold
      • Em Série
      • «Entre Parêntesis»
      • Filmado Tangente
      • I WISH I HAD SOMEONE ELSE’S FACE
      • O Movimento Perpétuo
      • Ramalhetes
      • Retratos de Projecção
      • Simulacros
      • Sometimes I Wish We Were an Eagle
  • Contra-campo
    • Caderneta de Cromos
    • Comprimidos Cinéfilos
    • Conversas à Pala
    • Estados Gerais
    • Filme Falado
    • Filmes Fetiche
    • Sopa de Planos
    • Steal a Still
    • Vai~e~Vem
    • Arquivo
      • Estado da Arte
      • Cadáver Esquisito
      • Actualidades
  • Entrevistas
  • Festivais
    • Córtex
    • Curtas Vila do Conde
    • DocLisboa
    • Doc’s Kingdom
    • FEST
    • Festa do Cinema Chinês
    • FESTin
    • Festival de Cinema Argentino
    • Frames Portuguese Film Festival
    • Harvard na Gulbenkian
    • IndieLisboa
    • LEFFEST
    • MONSTRA
    • MOTELx
    • New Horizons
    • Olhares do Mediterrâneo – Cinema no Feminino
    • Panorama
    • Porto/Post/Doc
    • QueerLisboa
  • Acção!
À pala de Walsh
Críticas, Em Sala 1

It Comes at Night (2017) de Trey Edward Shults

De Luís Mendonça · Em Dezembro 28, 2017

Neste filme à huis clos, lento e difícil de digerir, temos medo do que aí vem. Não sabemos ao certo o que é, de onde vem e quais as intenções. Mas temos medo. O título do filme participa activamente na construção da tensão quando nos sugere que algo virá à noite. Sabemos que não nos vem aconchegar na cama ou contar “histórias para adormecer”. O ambiente é espesso, sentimo-nos na presença do medo – o medo como personagem, como o que dá corpo à escuridão que é tanta, mesmo de dia – desde os primeiros instantes. Estamos com as personagens, solidarizamo-nos com a sua ansiedade, mas não sabemos grande coisa sobre o que as rodeia, e o que as (quer) come(r) por dentro. Somos lançados para a escuridão, numa narrativa atordoante, desenrolada in media res, que nos oferece terror em fatias muito finas – Trey Edward Shults, um bem-haja para este sangue novo, sabe que a austeridade é uma virtude na criação do mais ressoante terror.

It Comes at Night (Ele Vem à Noite, 2017) obedece a uma economia notável, pesa o lugar de cada gesto, de cada palavra. Os actores participam na precisa, mas nem por isso excessivamente calculada, construção dos ambientes. Eles são realizadores do nosso próprio medo, no filme. Não é caso para menos, já que o fechamento é total: da família naquela casa, das personagens no seu próprio casulo mental. Acima de tudo, vivemos o medo, quase o sentimos como coisa palpável, na psique do rapaz que sonha à noite sobre o incerto de tudo o que vi(ve)u e irá v(iv)er. Estamos num longo, denso, espaço off de expectativas. Sob um mesmo tecto, nós, espectadores, elas, personagens, habitamos um espaço intermedial – entre o dentro e o fora – onde se promete ou a mais autoritária lei da sobrevivência ou a mais temível ordem da morte.

O grande mérito desta que é apenas a segunda longa-metragem deste auspicioso realizador é que nos faz aceder às profundezas da noite de alguns dos nossos mais intraduzíveis receios.

It Comes at Night pode ser uma obra assinada por um jovem cineastas, mas é adulto, porque gere com pinças tanto o que nos dá a ver – e a conhecer – como aquilo que omite ao nosso olhar – e ao nosso saber. É, em certo sentido, como uma segunda versão, mais refinada, de 10 Cloverfield Lane (2016), filme demasiado ansioso que quer explicar e demonstrar tudo. It Comes at Night acompanha as personagens e mostra, pelos olhos e por dentro da psique, as imagens da sua insegurança e medo. Para a construção deste mundo contaminado por uma obsidiante “fobia do mundo”, é decisivo: o découpage de Trey Edward Shults, a sua lenta devoração dos tempos, posta em prática “plano a plano”; o trabalho de luz de Drew Daniels, que faz entrar a noite na casa como uma maldição que abraça de morte os nossos olhos; e, claro, a performance dos actores, com Joel Edgerton (actor imenso) em lugar destaque, um poço de tensão e rosto do desnorte que aqui se quer representar (basta-lhe um olhar para fazer nosso um medo que parece ser, manda a lei da paranóia, só dele).

Tenho falado indistintamente de medo e terror. A ordem de importância neste filme – como nos melhores filmes do género, diga-se – é mesmo essa: medo e terror. Com efeito, o grande mérito desta que é apenas a segunda longa-metragem deste auspicioso realizador, que importa ir seguindo de perto, é que nos faz aceder às profundezas de alguns dos nossos mais intraduzíveis receios. Desde logo, o receio gregário, de estar acompanhado (o inferno são os outros), de braço dado com outro, tão ou mais poderoso: o receio de ficarmos sós, tomados por uma noite que não podemos partilhar (o inferno somos nós). Está visto: o ano desfecha com uma obra surpreendente, para ver no escurinho da sala.

Partilhar isto:

  • Twitter
  • Facebook
2010'sDrew DanielsJoel EdgertonTrey Edward Shults

Luís Mendonça

"The great creators, the thinkers, the artists, the scientists, the inventors, stood alone against the men of their time. Every new thought was opposed. Every new invention was denounced. But the men of unborrowed vision went ahead. They fought, they suffered, and they paid - but they won." Howard Roark (Gary Cooper) in The Fountainhead (1949)

Artigos relacionados

  • Críticas

    “Dos Monjes”: o virtuosismo do melodrama para uma definição de “Expressionismo Mexicano”

  • Cinema em Casa

    “The Godfather Coda: The Death of Michael Corleone”: como escangalhar uma obra-prima

  • Cinema em Casa

    “Dans la maison”: o cineasta-térmita confinado nas suas personagens

1 Comentário

  • A Quiet Place (2018) de John Krasinski | À pala de Walsh diz: Maio 4, 2018 em 11:09 am

    […] abstracta que revela Trey Edward Shults no recente, outrossim filme de cerco e melodrama familiar, It Comes at Night (Ele Vem à Noite, 2017).] A família constitui o ecossistema central do filme, que é ameaçado […]

    Inicie a sessão para responder
  • Deixe uma resposta Cancelar resposta

    Tem de iniciar a sessão para publicar um comentário.

    Últimas

    • À procura do futuro interior numa viagem a Itália

      Janeiro 24, 2021
    • Diário de uma clausura: à espera do cinema

      Janeiro 21, 2021
    • Vai~e~Vem #29: das mãos ao rosto, uma e outra vez

      Janeiro 20, 2021
    • “Dos Monjes”: o virtuosismo do melodrama para uma definição de “Expressionismo Mexicano”

      Janeiro 19, 2021
    • A minha colecção sou eu

      Janeiro 18, 2021
    • Filmes nas aulas, filmes nas mãos

      Janeiro 17, 2021
    • “The Godfather Coda: The Death of Michael Corleone”: como escangalhar uma obra-prima

      Janeiro 14, 2021
    • “Dans la maison”: o cineasta-térmita confinado nas suas personagens

      Janeiro 12, 2021
    • “A Mulher Que Fugiu”: a não presença do nada

      Janeiro 11, 2021
    • Cenas do reino dos inquietos

      Janeiro 10, 2021

    Goste de nós no Facebook

    • Quem Somos
    • Colaboradores
    • Newsletter

    À Pala de Walsh

    No À pala de Walsh, cometemos a imprudência dos que esculpem sobre teatro e pintam sobre literatura. Escrevemos sobre cinema.

    Críticas a filmes, crónicas, entrevistas e (outras) brincadeiras cinéfilas.

    apaladewalsh@gmail.com

    Últimas

    • À procura do futuro interior numa viagem a Itália

      Janeiro 24, 2021
    • Diário de uma clausura: à espera do cinema

      Janeiro 21, 2021
    • Vai~e~Vem #29: das mãos ao rosto, uma e outra vez

      Janeiro 20, 2021
    • “Dos Monjes”: o virtuosismo do melodrama para uma definição de “Expressionismo Mexicano”

      Janeiro 19, 2021
    • A minha colecção sou eu

      Janeiro 18, 2021

    Etiquetas

    2010's Alfred Hitchcock Clint Eastwood François Truffaut Fritz Lang Jean-Luc Godard John Ford João César Monteiro Manoel de Oliveira Martin Scorsese Orson Welles Pedro Costa Robert Bresson Roberto Rossellini

    Categorias

    Arquivo

    Pesquisar

    © 2020 À pala de Walsh. Todos os direitos reservados.