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De Ovar a Paris, numa mala de cartão

De Paulo Cunha · Em Dezembro 3, 2017

No dia 31 de Dezembro de 1998, João Botelho estreava nas salas portuguesas a longa-metragem Tráfico (1998), um retrato acentuadamente caricatural da sociedade portuguesa de então onde o realizador desfila uma série de personagens-tipo (padres, generais, banqueiros, condes, prostitutas, artistas, críticos, entre outros) numa espécie de fogueira das vaidades que denuncia e ridiculariza a frivolidade de um certo imaginário mitológico nacional. Na classe dos artistas, São José Lapa interpreta uma personagem chamada Clara d’Aveiro, uma actriz decadente, alcoólica e delirante qual Norma Desmond em Sunset Blvd. (O Crepúsculo dos Deuses, 1950), de Billy Wilder.

Tráfico (1998), de João Botelho

De forma consciente ou não, e ainda que o filme advirta que qualquer semelhança com pessoas, factos ou acontecimentos seja mera coincidência, Botelho fez-me lembrar uma das figuras mais enigmáticas do cinema português dos anos 60. Nascida em 1925, Clara abandonaria os estudos e rumaria a Lisboa com 19 anos, onde acabaria por se tornar secretária/correspondente de francês e português na empresa Inter-Maritime et Fluvial et Centrados Reúnis. Nestas funções ou em similares, viveria, nos anos seguintes, em Paris e Locarno. O casamento com o cônsul da Suíça em Luanda (Rolland Pièrre) levou-a à capital angolana, onde viveu pouco mais de um ano. Voltaria a Paris, onde abriu um pequeno restaurante português, Le Fado, uma das primeiras casas de fados parisienses, onde começou a conhecer muitos artistas franceses ligados ao cinema, nomeadamente Françoise d’Orléac, Jean Cocteau ou Fernandel.

A sua estreia no cinema aconteceu em 1959, quando consegui um papel de protagonista no filme Merci Natercia, conhecido em Portugal como Uma Portuguesa em Paris, de Pierre Kast. Muito sumariamente, a trama do filme, assinada pelo próprio Kast e por Peter Oser, desenvolve-se em torno da personagem de Clara d’Ovar que dá título ao filme, uma viúva rica que ajuda um aspirante a cineasta a realizar o seu primeiro filme. Ignorando o facto de Clara não ser viúva e de Kast não ser um estreante, havia algumas semelhanças entre a ficção e a realidade, uma vez que a produção do filme era assegurada por Clara d’Ovar e pelo então marido Peter Oser, um elemento do clã Rockefeller.

Merci Natercia (Uma Portuguesa em Paris, 1959), de Pierre Kast

Fracasso quase total, o filme não estrearia em França e só estrearia em Portugal cinco anos depois, comprometendo as suas aspirações profissionais: tentou ser actriz principal em La Barque Sur l’Ocean (1960), de Maurice Clavel, e em Cartas da Religiosa Portuguesa (1960), de António Lopes Ribeiro, mas os dois projectos acabariam por não ser concluídos. O reencontro com Pierre Kast seria determinante para relançar a sua carreira: em 1961 conseguiria um papel como figurante em La morte-saison des amours, de Pierre Kast. O filme consolidaria a relação entre Clara d’Ovar e Pierre Kast, que se intensificaria nos anos seguintes, com proveitos para ambos. Apesar de ter integrado a geração da nouvelle vague, e de também ter feito carreira como crítica na prestigiada Cahiers du Cinéma, Pierre Kast (1920-1984) nunca alcançou uma posição de destaque no cinema francês, ainda que tenha começado a carreira com uma curta co-realizada com Jean Grémillon [Les charmes de l’existence (1949)] que até venceu um prémio em Veneza.

Nos anos seguintes, Clara d’Ovar envolver-se-ia num promissor e complexo triângulo profissional com António da Cunha Telles e Pierre Kast de onde resultariam várias co-produções, particularmente Vacances portugaises/Sorrisos do Destino (1962) e o seu elenco de luxo: Catherine Deneuve, Françoise Arnoul, Bernhard Wicki, e Jacques Doniol-Valcroze (também co-argumentista). Na direcção de fotografia, nada menos que Raoul Coutard, o mítico fotógrafo de À bout de soufflé (O Acossado, 1960) de Godard, Lola (1061) de Jacques Demy, Jules et Jim (Jules e Jim, 1962) de Truffaut, entre outros títulos fundamentais da nouvelle vague. Creditados como produtores, surgiam os nomes de Cunha Telles, Clara d’Ovar e Peter Oser.

Vacances portugaises/Sorrisos do Destino (1962), de Pierre Kast

Mas, seguramente, a parte mais proveitosa do negócio terá sobrado para Cunha Telles, que assegura a produção associada de La Peau Douce (Angústia, 1964), o filme de Truffaut parcialmente rodado em Lisboa, produzido pela Films de Carosse e SEDIF, e com isso uma inédita exposição mediática internacional para um produtor português. Em início de carreira, acabado de lançar Os Verdes Anos (1963), com Belarmino (1964) em rodagem e a preparar as primeiras longas de António de Macedo [Domingo à Tarde (1965)] e José Fonseca e Costa (Anjo Ancorado, nunca concretizado). Como cereja no topo do bolo, Cunha Telles ainda juntou ao seu curriculum uma brevíssima figuração nesse filme de Truffaut e viu-se referenciado na Cahiers du Cinéma (III-1964: 41-42), num texto intitulado «Lettre de Lisbonne» escrito por Pierre Kast, em que anunciava a “nouvelle vague portugaise”, como um dos cinco portugueses “unis comme les doigts de la main“ (unidos como os dedos de uma mão) – Paulo Rocha, Fernando Lopes, José Fonseca e Costa, Manuel Guimarães e António da Cunha Telles – que “aiment un ainé, Manuel de Oliveira“ (amavam um ancião, Manoel de Oliveira).

La Peau Douce (Angústia, 1964), de François Truffaut

Quem também beneficiou desta ligação foi Zéni d’Ovar, o fadista irmão de Clara que assim também iniciou uma carreira cinematográfica sob o patrocínio de Cunha Telles: seria segundo assistente de realização de António de Macedo em Domingo à Tardee em As Ilhas Encantadas (1965), do luso-descendente Carlos Vilardebó; e ainda decorador em Mudar de Vida (1966), de Paulo Rocha.

Quanto a Clara, teria um prémio de compensação: seria a protagonista de Clara d’Ovar em Óbidos (1965), uma curta-metragem turística de três minutos realizada por Fonseca e Costa e produzida por Cunha Telles. Mais substancial seria a sua participação em O Crime de Aldeia Velha (1964), o regresso do veterano Manuel Guimarães agora com a produção de Cunha Telles.

Em 1965, Clara d’Ovar regressa a Portugal para interpretar Thérese, uma das personagens de Poly au Portugal, uma série francesa de 7 episódios criada por Cécile Aubry e realizada por Claude Boissol que foi rodada no Ribatejo e seria exibida pelo canal francês ORTF. Contanto as aventuras e desventuras de uma égua de nome Poly, esta série francesa foi um enorme sucesso de audiências em França, tendo sido produzidas 9 temporadas (1961-1973), entre os quais uma ambientada em Portugal (4.ª), uma em Veneza (7.ª), uma em Espanha (8.ª) e outra na Tunísia (9.ª).

Poly au Portugal (1965), de Claude Boissol

Quando esta série estreou na televisão francesa, a 30 de Setembro de 1965, Clara d’Ovar viaja para o Brasil para participar no Festival do Rio, integrada na delegação portuguesa – com Isabel de Castro, António Lopes Ribeiro e Manuel Félix Ribeiro – na qualidade de produtora da curta-metragem La brûlure de mille soleils (1965), que foi realizada por Pierre Kast, montada por Chris Marker e co-produzida por Anatole Dauman, o mesmo produtor de Chronique d’un été (Paris 1960) (1961) de Jean Rouch e Edgar Morin, Valparaíso (1964) de Joris Ivens, Masculin féminin (Masculino Feminino, 1966) de Godard, Mouchette (Amor e Morte, 1967) de Robert Bresson e das primeiras longas-metragens de Alain Resnais.

Como actriz, Clara d’Ovar participaria em mais três projectos: um papel secundário Le Grain de Sable/O Triângulo Circular (1965), ambos de Pierre Kast; uma participação no projecto inacabado Os Caminhos da Verdade, realizado por Michel Ribó; e Le Soleil en Face (1980), novamente com Pierre Kast, uma comédia dramática com banda sonora de Sérgio Godinho. Por concretizar, ficaria o sonho de ser realizadora, uma vez que o projecto Sombras no Firmamento, um filme de ficção científica com argumento de Chad Olivier e realização partilhada de Clara d’Ovar e Pierre Kast, seria abortado. Gorada a carreira cinematográfica, Clara d’Ovar apostaria na sólida carreira de fadista e também na de escritora, publicando diversos livros a partir de meados dos anos 60: Um Mundo Paralelo (1966) e Areias Movediças (1968).

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Paulo Cunha

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