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À pala de Walsh
Blade Runner 2049 (2017) de Denis Villeneuve
Críticas, Em Sala 3

Blade Runner 2049 (2017) de Denis Villeneuve

De Ricardo Vieira Lisboa · Em Outubro 9, 2017

Talvez dominadas pela lasciva do frame porn, ou simplesmente pela coincidência de um olhar e de uma memória, várias têm sido as equiparações fotogramáticas que Blade Runner 2049 (2017) tem provocado nas retinas da cinefilia popular. O nariz gazeado de Ryan Gosling é posto lado a lado com o de Jack Nicholson em Chinatown (1974). A casa em chamas faz lembrar Offret (O Sacrifício, 1986) de Andrei Tarkovski. A relação do pequeno homem defronte da magnânima figura feminina poderá vir de One from the Heart (Do Fundo do Coração, 1981). Já a silhueta perdida no nevoeiro poderia ser um gag de Chaplin em The Great Dictator (O Grande Ditador, 1940). E mesmo o plano final, na escadaria nevada, parece decalcado da pietà The Roaring Twenties (Heróis Esquecidos, 1939) do nosso querido Raoul – onde a mulher foi trocada pelo espectro digital de uma A.I. de trazer no bolso.

Blade Runner 2049 (2017) de Denis Villeneuve

Mas se estas são as associações livres de olhos cheios de imagens, são-no no sentido exterior, isto é, apontam armas para fora, para o cinema de autor vidrado de respeitabilidade histórica – caucionando o filme através de uma autoridade forçada ao 24.º avo de segundo. Outras associações poder-se-iam fazer no sentido inverso, ou seja, apontando para dentro, para o universo materializado pelo filme de Ridley Scott – e aí a caução do filme ficar-se-á pela aproximação de um conjunto de ícones populares. É, no entanto, exactamente através deste dilema que o filme de Denis Villeneuve se constrói: entre uma exterioridade vistosa e uma interioridade bacoca.

O filme de Denis Villeneuve constrói-se entre uma exterioridade vistosa e uma interioridade bacoca.

Pois veja-se: todo o grande problema teológico de Blade Runner (Blade Runner: Perigo Iminente, 1982) – e refiro o filme, como poderia referir o texto de Philip K. Dick – prende-se com a fixação de uma fronteira (porque cada vez mais ténue) entre o humano e o replicant. Posto doutro modo, procura-se interrogar sobre o que distingue uma “pessoa humana” de uma “pessoa inumana”. Uma vez respondida essa questão, tem-se como corolário que a “pessoa inumana” será banal produto, vítima dos ditames do mercado, convertendo-se em mão-de-obra escrava e facilmente substituível. Uma pergunta semelhante poder-se-á colocar sobre Blade Runner 2049: é um filme ou simplesmente um produto audiovisual? E acrescido a isto, como se ouve a certa altura no filme, não será melhor para o funcionamento de um produto que este não tenha alma? Villeneuve parece querer o melhor dos dois mundos, criar um produto com alma: um blockbuster multimilionário com as pretensões formais e filosóficas do dito cinema sério. O resultado é um filme interminável, massador e, pior que isso, pomposo – a fazer lembrar o pior de Christopher Nolan.

Não me ouvirão, no entanto, menosprezar a abertura da mise en scène na sequência da panelinha ao lume, nem a mirabolante sequência de sexo literalmente transfiguradora, ou mesmo o espectáculo de simulacros holográficos nas ruínas de uma Las Vegas pós-apocalíptica. Do mesmo modo que nenhuma humano desprezará as partes humanas de uma máquina. E é aqui que se prende o cerne do filme de Villeneuve: estamos nós, espectadores, dispostos a contentarmo-nos com as partes, ou desejamos a totalidade? No fundo esse é o problema fundacional da própria ideia do vulgar authorism, como valorizar a inteligência de certos realizadores em filmes-grilhão que só permitem entrevê-la a espaços muito largos? Diria que a disponibilidade para encontrar e valorizar essas excepções calcula-se na exacta proporção do arejamento do filme – será o mesmo verdade para os replicants? Blade Runner 2049 é um objecto bafiento, consequência directa do mercantilismo da nostalgia que assaca e justifica tudo o que são as sequelas, prequelas, remakes, reboots, spin-offs e demais prolongamentos financeiro-cinematográficos.

Se calhar a melhor metáfora que o filme constrói é mesmo a que liga o olho à memória e que se propaga ao longo das quase três horas de duração. No filme de Scott um olho observava o futuro distópico de fogo e ferro logo na abertura, no de Villeneuve esse olho encontra-se fechado, e quando se abra nada nele se reflecte. Um olho que olha o futuro, outro que já nada vê senão a réplica (e a replicant). Tudo aliás se faz à roda dessa ideia de cegueira, que se liga com o apagão digital que terá ocorrido no intervalo entre os dois tomos: o vilão ceguinho, a resistente vesga, a inteligência artificial de olhar negro, o código de barras na retina, o replicant camaleónico e o arquivo fragmentado em forma de berlinde ocular. Villeneuve parece saber que numa empresa desta envergadura quase todo o olhar é mortiço. E explana-o sem pejo, o que é – no mínimo – surpreendente. Ficam-me um par de personagens enigmáticos e Harrison Ford canastrão – como sempre – a desmontar toda a parafernália CGI com a sua analógica (e antológica) fuça rugosa.

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Ricardo Vieira Lisboa

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3 Comentários

  • Luke diz: Outubro 10, 2017 em 5:24 am

    Adorei a crítica, confesso que partilho das mesmas indagações.
    A metáfora do final é muito justa, o que me fez pensar na manifestação do olhar da indústria americana. Talvez uns cifrõezinhos refletidos? Moralidade burguesa e psicologia burguesa, o olhar vazio é a falta de realidade e o consolo…

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  • Pedro Bresson diz: Outubro 16, 2017 em 5:02 pm

    Eu a pensar que vinha ler uma crítica decente e afinal vim parar à sucursal do ípsilon. A questão é que vocês só se engrandecem pela maledicência e, por culpa disso, não há obras primas a não ser que venham validadas pelo homem que vos paga.

    Inicie a sessão para responder
  • Óscares 2018: os filmes em revista | À pala de Walsh diz: Março 1, 2018 em 12:16 pm

    […] Blade Runner 2049 (2017) de Denis Villeneuve […]

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