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À pala de Walsh
Críticas, Em Sala 1

Good Time (2017) de Benny e Josh Safdie

De Luís Mendonça · Em Setembro 28, 2017

A personagem de Robert Pattinson, Connie Nikas, diz a certa altura que tem a certeza de uma coisa: numa vida passada foi um cão. “É por isso que os cães gostam tanto de mim”. A afirmação não vem do nada. Apesar dos filmes dos irmãos Safdie se parecerem com correntes raivosas que encaminham as personagens em direcção a um destino qualquer, os diálogos – sobretudo estes, num filme tão parco em palavras – têm um peso especial e conferem profundidade às personagens. Connie é como um cão vadio à deriva pela noite nova-iorquina. Nos agradecimentos dos créditos finais encima o nome de Martin Scorsese. A referência é evidente: este é o After Hours (Nova Iorque Fora de Horas, 1985) por que os irmãos Safdie tanto ansiavam na sua carreira.

O cinema vem conduzindo os irmãos Safdie até aqui, ao encontro deste ironicamente intitulado “momento bem passado”, numa carreira iniciada com curtas despretensiosas passadas nas ruas de Nova Iorque, algures entre um Woody Allen sem trela e a linguagem televisiva dos programas candid camera ou com a inocência dos marretas (e, de facto, há fantoches no seu cinema), e que levou uma viragem importante com o seu filme anterior, Heaven Knows What (2014), duro retrato de um amor obsessivo e decadente que misturava drogas com vampirismo. Para tal, foi muito importante o desenvolvimento da colaboração com Ronald Bronstein, o realizador de Frownland (2007) – que me parece ser cada vez mais o filme que abriu o caminho que o cinema americano independente precisava para não ficar reduzido aos trejeitos irritantes do mumblecore – e protagonista de Go Get Some Rosemary (Vão-me Buscar Alecrim, 2009).

Good Time (2017) é um filme. É, certo, mas apetece dizer que, acima de tudo, ele corporiza um movimento. A imagem do cartaz é emblemática neste sentido: dois irmãos em fuga, fugindo da sua própria imagem, pelas ruas de Nova Iorque. Este é um filme duro, uma viagem que não olha para trás e que está repleta do que Ben e Josh definem por “momentos hápax”, isto é, instantes do drama que só acontecem uma vez, que não comunicam directa e previsivelmente com o que está a montante. Good Time é isso e não é isso, como um carrossel que gira e gira, mas nunca nos oferece o mesmo. Apesar de avançar implacavelmente em direcção a um fim qualquer – a uma ideia qualquer de fim, “fim de noite”, por exemplo -, nunca deixamos de sair daquela espécie de “good time” (um freeze-frame da nossa mente, que, como já disse, o cartaz tão bem captura). Um “good time” que simboliza a união entre dois irmãos, o indomável e todo-poderoso Connie Nikas e o tímido, impotente e introspectivo, fechado na sua doença mental, Nick Nikas (Ben Safdie).

Muito perto ou muito longe, estamos sempre com as personagens, ao lado delas, vivendo esta noite interminável, que, sabemos bem, não nos irá levar a um happy ending apaziguador.

Por muito que estes irmãos sejam como cães em fuga, eles são irmãos unidos por um amor difícil de verbalizar – de novo, os irmãos Safdie sabem que esta é uma relação que não precisa de palavras, basta filmar Connie e Nick em movimento, on the go. Lembro-me da observação de Sérgio Dias Branco no seu livro Por Dentro das Imagens: na palavra “velocidade” está contida a palavra “cidade”. Good Time compreende esta “velo-cidade” e é por dentro das imagens, no seu movimento, que embarcamos nesta trip que não olha para trás, mas que é toda ela movida por uma anterioridade que não despega das imagens, por mais que elas “se mexam”: o amor entre irmãos.

O maior elogio a ser feito a Good Time é o facto de este chamar a si a energia e leveza dos melhores filmes dos Safdie – acima de tudo, The Pleasure of Being Robbed (2008) e Go Get Some Rosemary – e de saber elevar, até outro patamar, o retrato nocturno e selvagem da cidade. Porque, para todos os efeitos, este é um exemplar assombroso, e sofisticadíssimo, de cinema de género. No caso, um dos géneros mais nobres – mas, neste momento, mais caídos em desgraça – de Hollywood: o thriller. Por isso, sim, Scorsese é uma referência, mas a câmara é de outro realizador, que aqui percorre cada imagem velozmente: Michael Mann. As imagens god’s eye view das estradas e ruas de Nova Iorque fazem-nos regressar mais a Collateral (Colateral, 2004) do que a After Hours. Enfim, a câmara de Good Time está algures entre o grande plano de Ben atordoado, e em lágrimas, que abre o filme e o vertiginoso “olhar de cima” que nos dá a ver o grande movimento da cidade à distância. Muito perto ou muito longe, estamos sempre com as personagens, ao lado delas, vivendo esta noite interminável, que, sabemos bem, não nos irá levar a um happy ending apaziguador. Esses Safdie já não existem. Eles cresceram e estão implacáveis.

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Luís Mendonça

"The great creators, the thinkers, the artists, the scientists, the inventors, stood alone against the men of their time. Every new thought was opposed. Every new invention was denounced. But the men of unborrowed vision went ahead. They fought, they suffered, and they paid - but they won." Howard Roark (Gary Cooper) in The Fountainhead (1949)

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1 Comentário

  • “Her Smell”: uma punk rocker sob influência | À pala de Walsh diz: Julho 17, 2019 em 11:24 am

    […] Price Williams [que parece aqui ter continuado o louco, berrante e barroco das cores do incrível Good Time (2017) dos irmãos Safdie] e a maravilhosa actriz Elizabeth Moss que aqui é um monstro de […]

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