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À pala de Walsh
Terceiro Andar (2016) de Luciana Fina
Críticas, Em Sala 1

Terceiro Andar (2016) de Luciana Fina

De Ricardo Vieira Lisboa · Em Junho 15, 2017

A certa altura, já avançada, ouvimos Aissato – a filha que “co-protagoniza” o filme com a mãe Fatumata – explicar sobre a sua relação amorosa à distância (Lisboa-Londres): “a distância até ajuda a fazer com que as coisas sejam especiais e mais fortes entre nós”. Essa distância de que fala é a que faz faz suspirar com palavras de amor, mas é também a distância que a realizadora Luciana Fina investiga em Terceiro Andar (2016): uma distância que não é só geográfica, é também cultural, linguística, urbanística, cinematográfica e formal. É esse, parece-me, o objecto central do olhar de Fina, procurar as distâncias que separam as coisas, e nos separam uns dos outros, os intervalos que se estabelecem pelo mundo e pelo que no mundo anda. Fina procura o entre, que é como quem diz, procura afinal a ligação que se estabelece entre o que está distante. O filme faz-se assim, ele mesmo, objecto de ligação. É aí que está a sua beleza.

Terceiro Andar (2016) de Luciana Fina

Agora que já se foram os trunfos da escrita romântica e se fizeram as loas, viro-me analítico e exponho o meandros dos meus raciocínios. Primeiro vi Terceiro Andar na sua versão vídeo exposta na Gulbenkian, no âmbito do DocLisboa (onde aliás o filme concorria, na versão de cinema, na competição nacional e do qual se justifica esta estreia no âmbito do 4.doc | Doclisboa no Cinema Ideal – já que um filme da metragem presente, 62 minutos, dificilmente teria outra forma de exibição comercial). O objecto que aí encontrei dispunha-se numa instalação de dois canais, duas telas, uma mais profunda na sala escura, outra mais adiantada. Entre eles estabelecia-se um diálogo (um diálogo feito no intervalo que os distanciava) que no fundo expunha as qualidades dialécticas do projecto: os problemas da tradução (no filme ouvem-se várias línguas e Fina terá optado por traduzir apenas algumas – nem a língua de Fatumata, que suponho ser Fula, nem a transmissão radiofónica em italiano são legendadas) e dos modos como cada língua tem a sua função (a língua para as cartas de amor, a língua para as histórias e para as memórias, a língua para a comunicação diária…) e todas eles se relacionam de forma lacunar na vida daquela família que passa por Lisboa, pelo Bairro das Colónias, num terceiro andar.

Terceiro Andar reflecte afinal sobre a distância entre amar e falar de amor. 

Mas também expunha outra das questões intervalares do filme: as mecânicas de um prédio atravessado por gentes que sobem e descem as escadas do edifício e das raízes que se distendem pelo fosso – que Fina filma, em belíssimos planos flutuantes que sobem e descem como o elevador que não existe. O trabalho anterior de Fina tem explorado as relações entre o cinema e um olhar arquitectónico e este projecto não é, nesse aspecto, diferente. Vários são os planos que espelham esse fascínio rigoroso pelos enquadramentos de martelo e escopo. Um olhar que é muito atento tanto à arquitectura do prédio como também, e de forma semelhante, à arquitectura dos rostos – de novo os intervalos que ligam as coisas distantes. Esse lado rectilíneo estava explanado completamente na vídeo-instalção, a qual possuía um lado procedimental muito evidente: um dispositivo que se evidenciava na rigidez da duplicação que procurava articular.  

Por sua vez, o filme que agora se estreia possui uma qualidade mais calorosa. A juntar às imagens muito elegantes que se exibiam na vídeo-instalção estão agora outras, mais rústicas, mostradas em 4:3 e com uma qualidade plástica mais porosa (uma pequena câmara portátil, talvez). Esta opção pelas duas naturezas fílmicas (a qualidade de imagem e o formato de exibição) revelam mais uma vez – e desta vez de um ponto de vista puramente formal – as distâncias que se estabelecem afinal entre o objecto de galeria e o objecto de cinema. Distância essa que é, também, o que aquece o filme Terceiro Andar, a saber: o encontro de uma figura, a lindíssima Aissato, e a doçura do seu amor adolescente. E aí o filme encontra mais uma das suas múltiplas dimensões mediadoras, o espaço que se revela entre o que te dão sem saberem e o que recebes sem perceber. Esclareço, a diferença de registos fílmicos faz-se no confronto (ou na simbiose) entre a pose escultórica de um rosto e a reacção natural de uma menina apaixonada, como se faz nas palavras que ouves deliciado e as outras que se perdem no fascínio exótico-musical. Terceiro Andar reflecte afinal (explícita e implicitamente) sobre a distância entre amar e falar de amor, e como uma e outra coisa são afinal frutos do mesmo arbusto (um cujas raízes descem da clarabóia até ao rés-do-chão).

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2010'sLuciana Fina

Ricardo Vieira Lisboa

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1 Comentário

  • (Mais) 10 filmes portugueses para ver à pala | À pala de Walsh diz: Abril 10, 2020 em 10:11 am

    […] nos rostos de uma mãe e de uma filha – Ricardo Vieira Lisboa aprofunda esta ideia na sua crítica. Dizendo mal e rudemente, é na força e na beleza destes rostos que habita “a grande tese” […]

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