• Homepage
    • Quem Somos
    • Colaboradores
  • Dossier
    • Raoul Walsh, Herói Esquecido
    • Os Filhos de Bénard
    • Na Presença dos Palhaços
    • E elas criaram cinema
    • Hollywood Clássica: Outros Heróis
    • Godard, Livro Aberto
    • 5 Sentidos (+ 1)
    • Amizade (com Estado da Arte)
    • Fotograma, Meu Amor
  • Críticas
    • Cinema em Casa
    • Em Sala
    • Noutras Salas
    • Raridades
    • Recuperados
    • Sem Sala
  • Em Foco
    • Divulgação
    • In Memoriam
    • Melhores do Ano
    • Palatorium Walshiano
    • Passatempos
    • Recortes do Cinema
    • Se Confinado Um Espectador
  • Crónicas
    • Filmes nas aulas, filmes nas mãos
    • Nos Confins do Cinema
    • Recordações da casa de Alpendre
    • Se Confinado Um Espectador
    • Week-End
    • Arquivo
      • Civic TV
      • Constelações Fílmicas
      • Contos do Arquivo
      • Ecstasy of Gold
      • Em Série
      • «Entre Parêntesis»
      • Ficheiros Secretos do Cinema Português
      • Filmado Tangente
      • I WISH I HAD SOMEONE ELSE’S FACE
      • O Movimento Perpétuo
      • Raccords do Algoritmo
      • Ramalhetes
      • Retratos de Projecção
      • Simulacros
      • Sometimes I Wish We Were an Eagle
  • Contra-campo
    • Caderneta de Cromos
    • Comprimidos Cinéfilos
    • Conversas à Pala
    • Estados Gerais
    • Filme Falado
    • Filmes Fetiche
    • Sopa de Planos
    • Steal a Still
    • Vai~e~Vem
    • Arquivo
      • Estado da Arte
      • Cadáver Esquisito
      • Actualidades
  • Entrevistas
  • Festivais
    • Córtex
    • Curtas Vila do Conde
    • DocLisboa
    • Doc’s Kingdom
    • FEST
    • Festa do Cinema Chinês
    • FESTin
    • Festival de Cinema Argentino
    • Frames Portuguese Film Festival
    • Harvard na Gulbenkian
    • IndieLisboa
    • LEFFEST
    • MONSTRA
    • MOTELx
    • New Horizons
    • Olhares do Mediterrâneo – Cinema no Feminino
    • Panorama
    • Porto/Post/Doc
    • QueerLisboa
  • Acção!
À pala de Walsh
Rai (Paráiso, 2016) de Andrey Konchalovskiy
Críticas, Em Sala 0

Rai (2016) de Andrey Konchalovskiy

De Ricardo Vieira Lisboa · Em Abril 12, 2017

A carreira do russo Andrey Konchalovskiy é um caso de estudo, exemplo máximo da acção do improvável. De Andrei Tarkovsky (que foi seu colega na VGIK e com o qual colaborou e co-escreveu os seus três primeiros filmes) a Sylvester Stallone e Kurt Russell em Tango & Cash (1989), a obra do cineasta (irmão de Nikita Mikhalkov) é possivelmente uma das mais invulgares na história do cinema. Membro de uma nova geração de cineastas russos que começou a fazer cinema nos anos 1960, o realizador vira-se para Hollywood nos anos 1980 e lá realiza alguns os mais marcantes filmes de acção da década, regressando depois à Rússia e ressurgindo no anos 2000 como grande cineasta-autor. Venceu, no festival de Veneza, o Grande Prémio do Júri com Dom durakov (Casa de Loucos, 2002) — o último filme seu a estrear em Portugal — e duas vezes o Leão de Prata pela Melhor Realização com Belye nochi pochtalona Alekseya Tryapitsyna (Postman’s White Nights, 2014) e este Rai (Paraíso, 2016).

Rai (Paráiso, 2016) de Andrey Konchalovskiy

O meu colega Luís Mendonça, na sua crónica Civic TV, percorreu com bastante pormenor a carreira do realizador, e encontrou nalguns dos seus filmes um motivo comum que funciona como chave para compreender, pelo menos em parte, o seu olhar: a comunidade e o (seu) isolamento. Mas defronte de Rai é difícil integrá-lo nessa leitura. O mais recente filme de Konchalovskiy é um filme que vive, acima de tudo, montado num dispositivo formal cinéfilo. Parece-me, por isso, que outra chave para compreender a visão do realizador passa por ver cada filme seu, como a expressão do seu gosto pela matéria dos filmes (isto é, o próprio meio) e pelas suas potencialidades estéticas. Estou em crer que o que leva a obra de Konchalovskiy a tomar tantas e tão diversas formas (a “intrumentalizar-se” até, quando é necessário, às meta-personas fílmicas de Stallone e Russell, como refere o Luís) prende-se com o facto de para o russo o cinema, como expressão, não dever desprezar todos os estilos, géneros, meios de produção, formatos, suportes e tudo mais.

A explosão de estilos e suportes materializa a sua convicção, que me parece ser fundacional na sua obra, de que no cinema todas as formas são igualmente válidas. 

Por isto, em Rai, o trabalho extraordinário do director de fotografia Aleksandr Simonov faz conviver tanto os 35 mm, como o 16 mm e até o Super8 — sempre em preto e branco, e tudo vertido em digital para a exibição comercial. E também por isto, Konchalovskiy faz conviver as talkings heads dos documentários convencionais com a reconstituição de época altamente coreografadas e pormenorizadas, mas também com o falso found footage, com os rolos de filmes caseiros e com certos enquadramentos que remetem para modernas câmaras de vigilância. Esta explosão de estilos e suportes materializa essa sua convicção, que me parece ser fundacional na sua obra, de que no cinema todas as formas são igualmente válidas. E fá-lo numa estranha ode ao cinema dos anos 1940 (do período da guerra, que é o centro narrativo do filme) que mima no formato (4:3) mas também em certas opções algo estetizantes (como o facto de certas personagens serem dobradas — como eram no cinema clássico — sem se preocupar com a ligeira dessincronia que isso introduz). Mas essa ode é simultaneamente de um frieza rochosa e de um experimentalismo antigo (os falsos raccords e os saltos da película), vindo das ditas novas vagas cinematográficas.

Se o presidente do júri, Sam Mendes, terá ficado impressionado pelo arcaboiço formal da empresa de Konchalovskiy, certamente que a dureza do retrato do Holocausto terá igualmente deixado marca (os horrores nazis, o desempenho de Yuliya Vysotskaya – mulher do realizador e sua actriz recorrente –, a descrição da vida nos campos — onde um maço de cigarro vale uma vida —, a demência da ideologia da perfeição ariana e a falência dos princípios dos colaboracionistas) . Não querendo entrar no afamado debate entre os modos de olhar e dar imagem ao horror dos campos (deixo isso para Didi-Huberman e Claude Lanzmann) nem pretendendo comparar Rai coma desconstrução da homogeneização turística dos lugares do passado feita por Sergei Loznitsa em Austerlitz (2016). Descubro no filme de Andrey Konchalovskiy uma flutuação de tom com a qual é difícil de lidar (dado o tema). A certa altura há uma personagem que explica como se apaixonou pelo seu marido quando o encontrou patético (num jogo de cabra cega), o próprio filme vive apaixonado por uma beleza sempre na vertigem do patético e do drama sempre à beira da paródia — não estivessem os diálogos, as situações e o próprio ritmo e estrutura narrativa embebidos por uma ironia muito seca.

Esta liberdade de, num filme sobre o Holocausto, deixar-se levar ao limite de um riso nervoso revela uma coragem rara, que tem como consequência os dois minutos finais onde (quase) se invalidam as duas horas anteriores. Mas lá está, só um cineasta que acredita na equivalência de todas as formas de expressão com imagens em movimento pode deixar-se levar por elas e nelas se deixar embrulhar.

Partilhar isto:

  • Twitter
  • Facebook
2010'sAleksandr SimonovAndrei TarkovskyAndrey KonchalovskiyClaude LanzmannGeorges Didi HubermanKurt RussellLuís MendonçaNikita MikhalkovSergei LoznitsaSylvester StalloneYuliya Vysotskaya

Ricardo Vieira Lisboa

O cinema é um milagre e como diz João César Monteiro às longas pernas de Alexandra Lencastre em Conserva Acabada (1999), "Levanta-te e caminha!"

Artigos relacionados

  • Cinema em Casa

    “Cosmopolis”: padrão-ratazana

  • Cinema em Casa

    “Mulher na Praia”: a maleita das imagens

  • Cinema em Casa

    “Soul”: a vida, a morte e o jazz

Sem Comentários

Deixe uma resposta Cancelar resposta

Tem de iniciar a sessão para publicar um comentário.

Últimas

  • Esta é uma história sobre o amor e a mudança de direcção

    Março 4, 2021
  • “Cosmopolis”: padrão-ratazana

    Março 3, 2021
  • A vingança do “Video Home System”

    Março 2, 2021
  • “The Other”: ali, à janela

    Março 1, 2021
  • Maureen O’Hara e John Wayne, disputas conjugais – parte III: The Wings of Eagles

    Fevereiro 28, 2021
  • Amigos e comparsas na nouvelle vague

    Fevereiro 25, 2021
  • In memoriam: Jean-Claude Carrière (1931-2021)

    Fevereiro 24, 2021
  • A piscina da vizinha é o cinema da minha

    Fevereiro 23, 2021
  • “Mulher na Praia”: a maleita das imagens

    Fevereiro 22, 2021
  • Três passos numa floresta de alegorias

    Fevereiro 21, 2021

Goste de nós no Facebook

  • Quem Somos
  • Colaboradores
  • Newsletter

À Pala de Walsh

No À pala de Walsh, cometemos a imprudência dos que esculpem sobre teatro e pintam sobre literatura. Escrevemos sobre cinema.

Críticas a filmes, crónicas, entrevistas e (outras) brincadeiras cinéfilas.

apaladewalsh@gmail.com

Últimas

  • Esta é uma história sobre o amor e a mudança de direcção

    Março 4, 2021
  • “Cosmopolis”: padrão-ratazana

    Março 3, 2021
  • A vingança do “Video Home System”

    Março 2, 2021
  • “The Other”: ali, à janela

    Março 1, 2021
  • Maureen O’Hara e John Wayne, disputas conjugais – parte III: The Wings of Eagles

    Fevereiro 28, 2021

Etiquetas

2010's Alfred Hitchcock Clint Eastwood François Truffaut Fritz Lang Jean-Luc Godard John Ford João César Monteiro Manoel de Oliveira Martin Scorsese Orson Welles Pedro Costa Robert Bresson Roberto Rossellini

Categorias

Arquivo

Pesquisar

© 2020 À pala de Walsh. Todos os direitos reservados.