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Paula Rego, Secrets & Stories (2017) de Nick Willing

De Raquel Morais · Em Abril 19, 2017

Nick Willing, realizador de Paula Rego, Secrets & Stories (Paula Rego, Histórias e Segredos, 2017), é filho da pintora portuguesa e do pintor britânico Victor Willing, que Rego conheceu na Slade School of Fine Art, em Londres, e que viria a tornar-se seu marido e pai dos seus três filhos. A incursão do realizador pela vida de Rego é acima de tudo uma tentativa de chegar mais perto da mãe, que aos olhos de Nick e das suas duas irmãs, sempre surgiu como uma figura distante.

Os planos iniciais de Rego a dormitar no seu atelier fazem dela uma criatura primitiva, uma mulher-bicho que é preciso rodear com cuidado, para não a acordar. Foi isso que Willing fez, combinando encontros semanais com a mãe. O filme fala-nos de uma rapariga que, sob uma espécie de timidez pública, guardava um erotismo, um arrojo e uma melancolia que ninguém podia adivinhar à primeira vista. Essa rapariga amedrontava-se quando confrontada com o seu insistente silêncio e justamente por isso é curioso que Secrets & Stories nos traga uma octogenária que surge reconciliada com a sua natureza silenciosa e que a idade parece ter amansado – o consentimento de Rego em relação a participar neste filme marcadamente familiar parece sinalizar uma domesticação (aqui, sem qualquer sentido depreciativo).

Naturalmente, é o ímpeto teleológico próprio de um documentário biográfico que permite estabelecer a relação entre aquela rapariga (depois mulher) e a anciã que agora encontramos. A procura de um sentido, de uma unidade para a vida de Paula Rego faz-se através da sua obra, invertendo assim aquele que é o movimento que perpassa o filme de modo evidente, mas também aquele que é ali o movimento mais superficial e que responde mais directamente à curiosidade do público.

Falo de uma leitura mais puramente biográfica, que regressa a momentos particulares da vida da pintora para explicar os quadros, e que é, pela sua faceta lúdica, muito atraente para um público menos familiarizado com a obra da pintora. Os conhecedores ou apreciadores daqueles quadros saberão que Secrets & Stories deve acima de tudo ser encarado como uma porta deixada no trinco e não como uma porta escancarada – o mais importante será ver o filme como um convite e não como uma explicação final ou sequer suficiente.

 Contrariamente ao que a superfície possa indiciar, aquilo de que Secrets & Stories realmente trata é de justificar a vida de Paula Rego através da sua obra. O que de menos bom aquela mulher possa ter oferecido surge agora redimido pela sua pintura. 

Contrariamente ao que a superfície possa indiciar, aquilo de que Secrets & Stories realmente trata é de justificar a vida de Paula Rego através da sua obra. Por um lado, temos a artista a falar dos seus quadros como uma espécie de telheiro sob o qual encontrou finalmente protecção, porque, segundo ela, estes lhe permitiram delinear a voz que não conseguia edificar num contexto mundano. Por outro lado, é Willing (e, por extensão, as irmãs) quem mais precisa de usar a obra da mãe para justificar a vida dela, no sentido em que o que de menos bom aquela mulher lhes pode ter oferecido surge agora redimido pela sua pintura.

O filme de Willing serve exactamente para isso, para oferecer de Rego um retrato doce, plácido e arrumado. Mais do que aos espectadores, é a si próprio e às irmãs que Willing o destina. Com isto, não estou de todo a sugerir que haja alguma espécie de hipocrisia na oferta deste retrato ao mundo ou que nela se esconda ressentimento. Antes que  Secrets & Stories é uma forma de reconciliação com uma figura materna.

Importa a propósito disto sublinhar o facto de o filme ser f0rtemente constrangido pela condição filial de Willing – alguém que precisa de se proteger e de ser protegido. Assim, ainda que se fale de momentos duros, de histórias truculentas, de comportamentos menos generosos, tudo isso surge liberto do peso da actualidade e, consequentemente, da sua natureza problemática. O lado vulcânico de Rego (cujo rosto lembra uma rocha sob a qual a matéria em brasa borbulha), associado ao sexo e ao trabalho (como Rego tanto insiste, há algo de profundamente erótico no trabalho) foi, ainda que levemente, pacificado. Consentir em que o filho aceda tão directamente ao universo da sua arte (um lugar que ciosamente manteve durante largos anos como apenas seu) é um passo na reconciliação de que falava.

Ainda assim, e na continuação do que dizia acerca de Willing ser inevitavelmente uma criatura a proteger, Rego pode contar-lhe muitas coisas, mas todas elas lembram abertamente que muitas mais há que ficaram escondidas. A aparência límpida e linear do filme, que nos faz olhar Rego com simpatia e sair do cinema com a sensação de que, de alguma forma, conhecemos agora aquela mulher um pouco melhor, não deve iludir-nos e fazer-nos esquecer que aqueles noventa minutos são apenas a ponta de um enorme e submerso icebergue.

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2010'sNick WillingPaula Rego

Raquel Morais

“Teus dois cinemas, um ao pé do outro, por que não se afastam/ para não criar, todas as noites, o problema da opção/ e evitar a humilde perplexidade dos moradores?/ Ambos com a melhor artista e a bilheteira mais bela,/ que tortura lançam no Méier!”

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