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À pala de Walsh
Críticas, Em Sala 1

Forushande (2016) de Asghar Farhadi

De Carlos Natálio · Em Dezembro 21, 2016


Há alguns traços que identificam o cinema do iraniano Asghar Farhadi. O primeiro talvez possa ser definido como uma propensão para instalar nos seus filmes uma elipse funcional que vai servir para movimentar tudo à volta, apuramento de culpas, representação dos actores, desconstrução da sociedade, etc. Por exemplo, em Jodaeiye Nader az Simin (Uma Separação, 2011), urso de ouro em Berlim e o primeiro filme daquele país a ganhar um Oscar de melhor filme estrangeiro, era uma das personagens que desaparecia momentaneamente deixando o pai do protagonista, idoso e doente, amarrado a uma cama. No filme anterior a este, Darbareye Elly (2009) era uma educadora de infância que desaparecia num momento crítico. O que têm em comum estes “mistérios” é proporem que as coisas graves acontecem nas “elipses do sistema”. E depois Farhadi vem filmar sobre a inquirição dessa falta fundamental, os problemas gerados por essa anomalia da “máquina” e o drama daquele ou daqueles que a avariaram.

Forushande (O Vendedor, 2016) de Asghar Farhadi

Mas ao autor não interessa tanto explorar os mecanismos do thriller ou do suspense, mas mais dar a ver o procedimento que leva um grupo a tornar as suas acções mais evidentes, a explicar as suas motivações que permaneciam na sombra, aprisionadas pela sociedade. Chegamos assim ao segundo traço do cinema de Farhadi, o trabalho com os actores. Este, girando com uma câmara portátil em torno deles, procura sobretudo captar a travessia que as suas personagens atravessam na passagem do obscurantismo misterioso à revelação honesta e catártica. Por isso se torna evidente que o thriller serve sempre o drama e que Farhadi não é um cineasta hitchcokiano, talvez mais próximo de universo moral de Rhomer.

 Forushande é uma espécie de súmula de tudo o que Farhadi já fez (e melhor) no passado (…) uma obra a meio do caminho, na intersecção de várias ambições

Finalmente, o último traço surge em decorrência dos anteriores. Com a ajuda de uma falha do sistema e por via da revelação dos seus actores, Farhadi chega ao tema que lhe é mais caro. A decomposição da sociedade iraniana das suas vestes de pureza, o apuramento de responsabilidades e da culpa de todos, a questão da burocracia, a falência das relações amorosas como um espelho da falência de todas as outras relações. Era esse em parte o poder do seu último Le passé (O Passado, 2013) que, ao mesmo tempo que tratava de um divórcio, falava de uma relação presente à beira de se desmoronar através de um incidente numa lavandaria que levara à tentativa de suicídio de uma das personagens.

Mas importa falar deste Forushande (O Vendedor, 2016) que, além de conter todos estes traços fundamentais, adiciona ainda um outro: a relação reflexiva entre o teatro e a realidade. Neste caso é um casal de actores – e que extraordinários actores: ele,  Shahab Hosseini que tinha vencido o prémio de melhor actor em Berlim em 2011 por Jodaeiye Nader az Simin e agora volta a repetir o prémio mas em Cannes; e ela, Taraneh Alidoosti, também protagonista de Darbareye Elly – que representam A Morte de um Caixeiro Viajante (1949) de Arthur Miller. À medida que se desenrola a peça, que é, como se sabe, sobre a queda de expectativas de um pai em relação ao potencial de um filho e, inversamente, de um filho sobre a rectidão moral do seu pai, a mesma coisa sucede, obliquamente com as personagens na sua vida real. A casa onde habitam começa a desmoronar e têm de mudar, mas a nova não é mais tranquila devido ao passado da sua antiga inquilina.

Há pouco tempo denunciava aqui a excessiva rigidez do paralelismo entre a vida e a literatura conforme pensada por Tom Ford em Nocturnal Animals (Animais Nocturnos, 2016). De certa forma, Farhadi tem a tentação de tornar este seu paralelismo entre o teatro e a vida em algo que comanda o seu filme: não por acaso as paredes do antigo prédio que ruem passam a ser “palco” da resolução do conflito principal do filme (que não vale a pena aqui revelar), com esse plano no final, explícito, do apagar das luzes da casa como o fechar dos holofotes de um palco teatral.

Tudo somado parece que este Forushande é uma espécie de súmula de tudo o que Farhadi já fez (e melhor) no passado, resultando num filme que procura investir, com o mesmo empenho, na faceta de thriller sentimental, nas repercussões dramáticas da elipse que gera uma falha na relação do casal de actores e nessa teatralidade da vida. Afinal de contas esse investimento “total” acaba por resultar numa obra a meio caminho, que se fica pela intersecção de todas essas ambições. Seja como for, apesar de alguma dispersão, o argumento de Farhadi saiu premiado de Cannes este ano.

Alfred HitchcockArthur MillerAsghar FarhadiDarbareye EllyEric RhomerShahab HosseiniTom Ford
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Carlos Natálio

«Keep reminding yourself of the way things are connected, of their relatedness. All things are implicated in one another and in sympathy with each other. This event is the consequence of some other one. Things push and pull on each other, and breathe together, and are one.» Marcus Aurelius

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1 Comentário

  • Todos lo saben (2018) de Asghar Farhadi | À pala de Walsh diz: Fevereiro 13, 2019 em 6:05 pm

    […] de comportamentos destas e doutras personagens caberia totalmente à audiência. De igual modo, em Forushande (O Vendedor, 2016), a segunda cena apresentava a evacuação forçada de um prédio à medida que […]

    Responder
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